Lingodroids: A Era dos Robôs Fofoqueiros

Uma das melhores sequências do Exterminador do Futuro 2 é quando um John Connor meio grandinho para quem tem 10 anos tem um, digamos, debate ético com o Schwarza sobre não matar pessoas, em que a máquina dos infernos fica com aquela expressão inexpressiva (mas hein?) perguntando "Why?". Acima dos problemas filosóficos envolvidos, há o problema da linguagem, em que a máquina possui problemas na compreensão da linguagem humana. Isso, não obstante, não é só um problema da relação homem-máquina, mas no modo que máquinas se comunicam entre si.

Você deve estar imaginando porque a sua TV deveria  conversar com seu reprodutor de Blu-Ray (apesar que o meu não se reproduz. Devem tê-lo castrado na loja. Raios!), mas a questão seria em termos de máquinas robóticas, que atualmente nada mais são que meros "paus-mandados" que fazem (ou deveriam fazer) o que se programara previamente. Assim, quando você chega perto daqueles robozinhos meigos que sussurram de noite "morte aos humanos, morte aos humanos", pode ter certeza que ele não está planejando um levante com outros robozinhos assassinos.

Pelo menos, não era assim antes da chegada dos lingodroids…

A drª Janet Wiles é professora é uma cientista cognitiva e membro do grupo de pesquisa de Sistemas Complexos e Inteligentes da Universidade de Queensland, na Austrália. Juntamente com sua equipe, a drª Wiles projetou o que pode ser tido como uma nova raça de robôs. Diferentes daqueles braços mecânicos usados em indústrias ou o kit Mindstorm da Lego, os robôs criados pela equipe da tia Janete foram programados de modo que possam criar e usar sua própria linguagem. Eles receberam o nome de "Lingodroids".

O projeto prevê que os lingodroids (um droid pelo qual estarei procurando) possam descrever lugares, definir planos para chegar lá e o que fazer quando chegar lá. Mais do que isso, eles deverão conversar sobre isso, pois foi para isso que a linguagem foi criada… ou pelo menos deveria ser. Pense nisso quando resolver implicar com seu vizinho, despejando saco de lixo na porta dele, só porque ele escuta som alto. Tia Janete diz ainda que os lingodroids deverão ser capazes de, na falta de conhecerem determinada palavra ou expressão, criar novas palavras, o que chamamos de neologismo. Em maio deste ano, Wiles e seus colaboradores publicaram um artigo no 2011 IEEE International Conference on Robotics and Automation, cujo PDF você pode baixar AQUI.

Abaixo, podemos ver os lingodroids em ação:

Ei, peraí! O que eles estavam fazendo era um monte de bips. Eles não estavam conversando como gente. Quero meu dinheiro de volta!

Linguagem é muito mais do que simples fala. Ademais, o que os lingodroids fizeram foi reconhecer o local, mapeá-lo e traçar estratégias para se locomoverem pelo ambiente. Isso trocando informações entre si em tempo real, não apenas transferência de dados, mas uma "conversa" propriamente dita (mas não no sentido que eu e você usamos, fique bem claro).

Durante o jogo do "Onde estamos?", cada robozinho cria um mapa vetorial do ambiente no qual ele está circulando e nomeia determinadas áreas. Quando eles se encontram, eles atualizam suas bases de  dados, confrontando as informações coletadas por cada um deles, de forma a traçarem um mapa que pode ser usado por ambos, criando um layout comum. Depois, vem o jogo do "Vai à…", onde um dos robôs cria uma meta e os demais têm que chegar lá, mediante as informações coletadas por todos. É neste momento que a linguagem aparece. Se um dos robôs deu um nome equivalente a "abóbora" a uma determinada região e outro a chamou de "vaso sanitário", eles terão que saber o significado de cada coisa, isto é, que a região em questão é chamada por um robô de um jeito, enquanto o outro robô chama de outro jeito. Para tanto, eles tiveram que trocar experiências e informações e estas informações tiveram que ser processadas e armazenadas.

Obviamente, não se esperava que todos os robôs chegassem ao local pré-determinado fazendo o mesmo percurso, e é isso que é interessante. Cada um deles optou por um trajeto diferente, mas a meta de se encontrarem no local pré-determinado foi conseguido, demonstrando que eles realmente sabiam para onde deviam ir, ficando ao critério de cada um como chegar lá.

Estamos acostumados a receber e dar instruções. É como seu irmão lhe dizer que lhe espera num restaurante e lhe dá indicações de como chegar, só que você conhece outro percurso ou consultou num mapa. Assim, você escolhe o melhor modo de como chegar no restaurante, mas a meta era a mesma. Podemos ainda colocar mais uma variável onde você não sabe onde fica o restaurante, mas trocou informações com uma terceira pessoa, que lhe indicou um caminho, e mais uma vez você decidiu por outro, por algum motivo (seja porque na sua rua não passa o referido ônibus, ou você decide ir a pé ou mesmo pega um taxi). Estamos tão acostumados a fazer isso que nos parece simples, mas se analisarmos os fatores envolvidos, veremos o quão complexo é essa troca de informações e tomada de decisões.

A ideia é que os lingodroids e seus sucessores possam interagir melhor com os seres humanos, podendo serem utilizados como babás, enfermeiros ou coisas similares.

Isso até a hora que eles se comunicarem melhor e decidirem que a era dos homens finalmente chegou ao fim…

2 comentários em “Lingodroids: A Era dos Robôs Fofoqueiros

  1. Qualquer semelhança com o filme Eu, Robô será mera coincidência e do jeito que anda esse mundão de Odin não será difícil esses robôs decidir que é mais fácil mandar na gente do que ao contrário ou mesmo conspirar. :shock:

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