O aumento de gás carbônico (CO2) na atmosfera não causa apenas intensificação do efeito estufa (não confunda efeito estufa com aquecimento global). O aumento da concentração de CO2 afeta a química dos oceanos também, produzindo maior quantidade de ácido carbônico (H2CO3) e, de quebra, pode fazer com que alguns crustáceos se tornem maiores e mais fortes, conforme sugere pesquisa da Universidade de North Carolina em Chapel Hill.
A descoberta pode ter implicações importantes para a cadeia alimentar marinha (além de nos dar a sensação que algum alien do Distrito 9 apareça para dar um “olá”).
Em notícia trazida pela National Geographic, vê-se que pesquisas anteriores mostraram que com a acidificação do oceano é provável que haja um crescimento lento ou mesmo a dissolução das conchas de crustáceos. Entretanto, um novo estudo – publicado na edição de dezembro do periódico Geology – sugere que os sedimentos que servem de habitação para organismos marinhos podem apresentar um maior número de respostas ao CO2 induzida pela acidificação do que se pensava. Alguns podem ficar mais fracos, enquanto outros tornam-se mais fortes.
Uma questão simples de explicar, em termos de química inorgânica.
O sistema CO2/Água forma uma reação reversível, formando ácido carbônico, conforme reação abaixo:
H2O + CO2 —> H2CO3
Lembrando que o CO2 é um gás e gases nem sempre são solúveis. Quando se aumenta a temperatura, cede-se mais energia ao sistema, as moléculas se agitam mais e isso propicia que o gás escape do líquido. Teste isso colocando um copo de coca-cola do lado de fora da geladeira e outro do lado de dentro. Depois de certo tempo, veja qual possui mais gás.
A questão agora envolve equilíbrio químico. Quando se aumenta a quantidade de CO2, os íons carbonato (CO3–2) se transformam em bicarbonato (HCO3–1).
CO3–2 + H2CO3 –––> 2 HCO3–1
Carbonatos são pouco solúveis em água, exceto os carbonatos dos metais alcalinos. O de cálcio (e demais alcalino-terrosos) é virtualmente insolúvel. Preciso dizer de qual tipo de carbonato é feito as conchas?
Se tudo se baseasse em processos químicos, a coisa pararia aí, mas a sorrateira mão da Seleção Natural está em toda parte. Alguns animais desenvolveram condições de aumentarem de tamanho. Lembrando que isso não é nada de anormal, dada a alta taxa e reprodução deles. Abaixo, vemos um comparativo entre dois exemplares de lagosta americana (Homarus americanus). A da esquerda foi criada por 60 dias, sob concentrações normais de CO3–2 (400 partes por milhão). A da direita foi criado por 60 dias, sob altos níveis de CO3–2 (2850 ppm).
Os pesquisadores também descobriram que as criaturas cujas carapaças cresceram mais, como caranguejos, tendem a ser predadores daqueles cuja carapaça enfraqueceu. Seleção Natural, onde o que está mais adaptado sobrevive e gerará descendentes. Os que não conseguiram desenvolver carapaças mais fortes virarão banquete e não terão uma prole de maior quantidade. Por fim, os maiores sobreviverão, até que o sistema mude novamente, impossibilitando sua sobrevivência. Dêem só uma olhada no monstrinho abaixo. É um caranguejo azul (Callinectes sapidus).
Tais alterações poderiam ter graves consequências para as relações de predador e presa que evoluíram ao longo de centenas de milhões de anos, disse Justin Ries, professor assistente de ciências marinhas na faculdade de Artes e Ciências da UNC.
“Não há fórmula mágica para prever como as espécies diferentes irão responder, mas uma coisa que você pode ter certeza é que os ecossistemas como um todo vão mudar por causa destas respostas que variam individualmente.”, diz Ries.
Ries e colaboradores criaram 18 diferentes espécies econômica e ecologicamente importantes, possuintes de carapaças, em vários níveis de CO2 previstas para ocorrer ao longo dos séculos seguintes.
Sete espécies (como caranguejos, lagostas, camarões, algas calcáreas, lapas e ouriços) tiveram calcificação intensificada em uma taxa mais elevada de CO2. Dez tipos de organismos (incluindo as ostras, vieiras, os corais de clima temperado e vermes tubo) tiveram redução de calcificação em presença mais concentrada de CO2, com vários moluscos (duro e mole, conchas, caramujos, lesmas e ouriços) tendo suas conchas dissolvidas. Mexilhões não apresentaram resposta.
Conforme Ries, “os organismos que responderam positivamente a maiores níveis de CO2 são aparentemente mais adaptados à conversão do carbono inorgânico dissolvido em concentrações elevadas na água do mar, resultado dos altos índices de CO2 atmosférico. Os outros, porém, parecem ser menos hábeis na manipulação de carbono inorgânico”.
CO2 + H2CO3 —> 2 HCO3-1 não tá faltando um átomo de oxigênio?Ele vem do oxigênio dissolvido na água do mar? :?:
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Na verdade, nem um nem outro. O equilíbrio é entre carbonato e ácido carbônico, formando bicarbonato
CO3–2 + H2CO3 –––> 2 HCO3–1
Valeu pela correção!
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@Altair5,
Você é químico?
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Pra quem gosta de frutos do mar essa é uma boa noticia.
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Já há algum tempo, vi fotos do caranguejo dos coqueiros e da lagosta Poseidon, que foi poupada, devido ao seu tamanho, e levada ao Blue Reef Aquarium. Fiquei impressionada com o tamanho desses crustáceos. Isso já é efeito dessa condição que vc aqui descreveu??
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Pra quem perguntou,não sou químico,sou matemático :cool:
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