Da Vinci era um gênio! Além de ser engenheiro, alquimista, físico, mecânico, pintor, escultor, inventor, poeta, músico etc. (e põe etc. nisso), ele criou um leão autômato. Algo que seria o precursor do Sr. Data (infelizmente, Da Vinci não dispunha de um cérebro positrônico em seu estúdio).
Li uma notícia da BBC Brasil sobre a exposição de uma réplica desse leão (o original não existe mais) no museu localizado no castelo de Clos Luce, na localidade francesa de Amboise, no vale do Loire. Lá, o pintor da Mona Lisa viveu por três anos, falecendo em 1519. Só que eu, na medida do possível, sempre faço uma pesquisa complementar e foi, digamos, interessante o que encontrei.
Estudiosos acreditam que Leonardo criara o T-800 autômato para divertir o rei Francisco I, de modo a “abrilhantar” as festanças. Da Vinci era, digamos assim, uma espécie de Especialistas em Efeitos Especiais, já que a Industrial Light & Magic não existia ainda. Essa era uma época que reis e príncipes respeitavam os excelentes artistas, afinal isso conferia status, e o ser humano nunca resistiu não só às vaidades pessoais, muito menos à tentação de impressionar os outros. As colunas sociais nos jornais de hoje não me deixam mentir.
Da Vinci foi morar na França a convite do próprio rei, e lá ele projetou palácios, organizou cerimônias reais e, claro, projetou armamentos, afinal Da Vinci sabia muito bem o que realmente dava (e ainda dá) dinheiro.
Quando eu disse “autômato”, quis dizer que a criação de Leonardo era apenas um boneco movido a corda. Tudo bem, eu sei que esse “apenas” soa como algo ofensivo, dada a genialidade do cara, ainda mais que ninguém na Europa fez algo semelhante até então. Se eu falo que era “apenas” um autômato, é tão somente para as pessoas pararem de chamar a peça de robô. Autômato significa “mover-se sozinho”, enquanto que robôs executam muito mais coisas, mediante circuitos ou programação.
A obra de arte tecnológica de Leonardo foi concebida e criada, em Florença, e depois enviada para Lyon, França. Nenhuma referência ao acontecimento extraordinário permanece, no entanto, em manuscritos de Leonardo. Imagino que, para ele, era apenas Algo meio “comum”, dadas as outras maravilhas que ele projetara. Ou, talvez, tivesse sido por sigilo mesmo. Leonardo não era o único “gênio” da época – talvez o maior deles, mas não o único. Tanto que ele usava códigos, escrevia ao contrário e, muitas vezes, deixava os planos incompletos ou fragmentados. Espionagem industrial não é algo inventado nos dias de hoje.
A nomeação de “Meschanicien d’ESTAT” – o Mecânico do Rei – não se referia a alguém sujo de graxa, escondido num canto qualquer. Na época, era uma honraria e tanto. E foi com essa honraria que Leonardo foi sepultado em 12 de agosto de 1519, como um grande reconhecimento de sua última maravilha tecnológica para a honra da França.
Abaixo, vocês podem ver a reportagem em vídeo da BBC sobre o referido leão.
Como vocês podem ver, engenheiros reconstruíram o leão, de acordo com os esboços que ainda restam, e foi aí que minha curiosidade aumentou. Dando uma pesquisada, descobri que um dos maiores rivais de Da Vinci chegou a mencionar esse leão. O rival em questão é – ninguém mais, ninguém menos – que um camarada chamado Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, o mesmo que pintou a Capela Sistina – que, segundo as más línguas, foi uma grande sacanagem que Rafael Sanzio fez com ele, já que Michelangelo era escultor e não pintor. A conclusão sobre o conjunto da obra (que demorou 4 anos) é toda sua.
Um documento impresso mencionado numa carta de Iacopo Morelli para o artista Giuseppe Bossi, em 1807, havia uma descrição feita por Michelangelo, que estava presente num banquete para o casamento de Maria de Medici e o Rei Henrique IV de França, publicada em Florença, em 1600. Michelângelo descreve o momento em que um feroz leão apareceu para hóspedes, “ele [o leão] ergueu-se e o peito abriu-se em duas partes, onde se podia ver que estava cheio de lírios”. Michelângelo teve o cuidado de precisar que era “um conceito semelhante ao que Leonardo da Vinci produzira para a chegada de Francisco I. Os lírios, também chamado de flor-de-lis (fleur-de-lis) era o símbolo da monarquia francesa, e pode ser vista no brasão inglês, posto que a Inglaterra e a França tiveram governantes oriundos da mesma família.
Como podem ver, a descrição não é bem aquela que está exposta no museu da reportagem. Só que, como foi dito, não há um desenho oficial totalmente detalhado. Da Vinci não deixou esboços propriamente ditos do leão, mas fez desenhos detalhados de mecanismos que podem dar pistas sobre o autômato. Com base nesses desenhos e em descrições por escrito, Renato Boaretto, que também se dedica à criação dessas máquinas, reconstruiu o animal para o castelo de Clos Luce, para uma exposição que ficará em cartaz até o final de janeiro.
Boanaretto teve que preencher as lacunas mediante as pistas deixadas. Vocês poderão ter maiores informações sobre a história desse leão, bem como uma réplica de um desenho dele, no site Ancient and Automata.
Nada disso, entretanto, tira a beleza e engenhosidade de Leonardo da Vinci. Um homem sem igual na história da humanidade. Pensem neste exemplo quando falarem de boca cheia sobre tecnologia, só porque usam um processador de texto.

Um comentário em “O leão mecânico de Leonardo da Vinci”