Cérebro adapta-se a novas necessidades na idade adulta

O cérebro humano pode adaptar-se às novas necessidades, mesmo na idade adulta. Neurocientistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) já encontraram provas de que mudando com insuspeitada velocidade. As conclusões sugerem que o cérebro dispõe de uma rede de ligações silenciosas que fundamentam a sua, digamos, “plasticidade”.

Uma pessoa com um braço amputado possui “sensações” no membro perdido quando ele(a) é tocado no rosto. Os pesquisadores acreditam que isso acontece porque a parte do cérebro que normalmente recebe a informação do braço começa se referindo a sinais próximos da região do cérebro que recebe a informação da face.

Parece meio maluquice (e não deixa de ser) que o toque no rosto retorne a sensação de membros, mas devemos lembrar que o cérebro é uma gambiarra, com regiões muito próximas uma das outras, fazendo com que o estímulo a determinada região, seja responsável por desencadear sensações díspares do que se esperava.

Alguns cientistas acham que este tipo de resposta a informações sensoriais reflete a uma espécie de “reescrita” do cérebro, ou crescimento de novas conexões.

“Estas distorções ocorrem muito rapidamente afim de resultar em trocas estruturais no córtex cerebral”, disse a Drª Nancy Kanwisher do Instituto de Pesquisa Cerebral McGovern, no MIT. Ela ainda completa dizendo “achamos que as conexões já estão lá, mas são silenciosas, e que o cérebro está constantemente recalibrando as conexões através da plasticidade dos mecanismos”.

Daniel Dilks, autor do artigo e pesquisador com pós-doutorado no laboratório de Kanwisher, estuda capacidade de regeneração de partes do córtex visual. Ele começou com um paciente que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que o privara uma porção do referido córtex. O AVC criara uma espécie de “região cega” em seu campo de visão. Quando um objeto quadrado foi colocado fora desta região cego, a paciente percebeu como um retângulo, demonstrando que o quadrado “esticara-se” – um resultado obtido devido aos neurônios vizinhos à área danificada do córtex em passarem a responder a esta parte do campo visual.

“Mas o paciente tinha sido privado do córtex visual de informações por um longo tempo e, portanto, nós não sabemos quão rapidamente o córtex visual adulto poderia mudar”, disse Dilks. “Para descobrir, nós fizemos uso do ponto cego natural que temos em cada um de nossos olhos, usando um simples teste de percepção em voluntários saudáveis e com visão normal”.

Pontos cegos são o melhor exemplo de como nosso corpo, dado o processo evolutivo, é uma grande gambiarra, cheia de adaptações.

Sabe-se que as imagens captadas pelos olhos formam-se na retina, de onde a informação é passada para o cérebro. Acontece que á uma região onde está a conexão do nervo óptico, que sai do olho e vai pro cérebro. Nesse ponto não há nenhuma célula fotorreceptora, tornando-se um ponto cego, e é fácil de ver isso. Basta ver a imagem ao lado, com as devidas instruções (clique para ampliar).

Obviamente, algo “inteligente” não teria feito um projeto tão porco. Mas, por que nós não temos noção desse ponto cego? Simplesmente porque quando um dos olhos não consegue captar a luz proveniente dele, o outro consegue. Assim, temos dois olhos trabalhando em conjunto. Sem falar que a pupila não fica paradinha e sim movimentando-se o tempo todo. Quem conseguiu desenvolver esse mecanismo ocular teve melhores condições de sobrevivência, já que enxergar bem (ou o melhor possível) faz a diferença entre a vida e a morte no ambiente natural. A Seleção Natural dá, a Seleção Natural toma.

Dilks e seus colegas utilizaram este teste para ver como logo após o córtex está privado de informações, que os voluntários começam a perceber formas distorcidas. Eles apresentaram vários retângulos de fora de tamanho apenas. Os voluntários viam o retângulos alongados dois segundos após seu olho estava coberto – muito mais rápido do que se esperava. Quando tapa-olho foi removido, as distorções desapareceram tão depressa como tinham aparecido.

“Portanto, o córtex visual muda sua resposta quase que imediatamente à privação sensorial e de novas entradas”, explicou a Drª Kanwisher. “Nosso estudo mostra a impressionante capacidade do cérebro de se adaptar momento-a-momento perante as mudanças, mesmo na idade adulta.”


Fonte: Science Daily

3 comentários em “Cérebro adapta-se a novas necessidades na idade adulta

  1. Estava procurando há tempos esse teste do ponto cego. Tenho a mesma opinião que a Drª Nancy: nosso cérebro já está todo pronto, mas só ativa as áreas quando há necessidade. Não acredito que o ser humano possa viver com o cérebro funcionando 100% em sua capacidade ‘-‘

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