O caso dos neutrinos rápidos comprova: EINSTEIN RULEZ!

Foi um alvoroço! A notícia que neutrinos podiam ser mais rápidos que a luz fez a festa entre pseudoveículos de informação (aka jornais). Um monte de idiotas decretou a morte das teorias de Einstein, só faltando dizer que o tio querido de todos os cientistas devia estar com outro alemão chacoalhando a mente dele: Alzheimer. Só que a realidade da Física é muito sutil e não se deixa ser conhecida facilmente. Heinsenberg coloca a mão na testa e diz "Dummkopfs!" . Mas, afinal, o que pode ter acontecido? Simples, Einstein estava certo quando os manés tentavam provar que ele estava errado e a própria teoria de Einstein é a base que usaram para tentar provar que ele estava errado. Dafuq is that?

O problema está em como fizeram isso. Eles lançaram os neutrinos de um ponto A, previamente medido por GPS, e mediram quanto tempo demorou para chegar ao ponto B, também medido por GPS. No caso, o ponto A estava no CERN e o ponto B estava no OPERA, na Itália. A chave aqui está na medida pelo GPS, pois os satélites não estão paradinhos. Nem mesmo os satélites geoestacionários estão parados. NADA está parado no Universo e a Relatividade é usada para compensar isso.

Obrigado, André. Não entendi PORRA NENHUMA!

Comecemos pelo início: Quando você se locomove, você tem a sua velocidade medida pelo tempo gasto para percorrer uma determinada distância. No nosso dia-a-dia isso é simples, dada as velocidades ridículas sob as quais estamos submetidos. Mas quando aceleramos perto da velocidade da luz, coisas estranhas acontecem; mas antes de falarmos sobre elas, vamos dar o exemplo de ação:

O senhor  Mxyzptlk está com um refém em cima de um vagão de trem indo em alta velocidade. O herói está no teto do vagão próximo ao vagão onde o vilão está. Rapidamente, o herói corre e pula de um vagão pro outro.

Pausa.

Sabemos o que vai acontecer, pois obedece às Leis de Newton. O herói está parado em relação aos vagões de trem, mas está se movendo na mesma velocidade que o trem, em relação à paisagem circundante. Sendo assim, sabendo que a velocidade do trem é X, e a velocidade com que ele corre e pula é Y, a velocidade dele em relação a uma árvore pelo qual o conjunto (trem, herói e  o sr. Mxyzptlk) é X + Y. O herói cai no outro vagão e mete a mão na cara do bandido. Fim da história.

Entretanto, se o trem estivesse em velocidades relativísticas (isto é, quase na velocidade da luz), o herói NÃO CONSEGUIRIA ser mais rápido que o trem. Quanto mais perto ele chegar da velocidade da luz, maior será a sua massa, o que impedirá de chegar à velocidade da luz! O que acontece é que o tamanho do trem será alterado. Enquanto o tempo dilata, o espaço encolhe. Cada segundo durará mais (em relação a um observador fora do sistema trem+heroi+Mxyzptlk), enquanto o herói saltará uma distância menor. Isso parece que ele é mais rápido que a luz, mas só está percorrendo uma distância menor em um tempo que relativamente é maior.

Jesus, isso dá dor no célebro… Ei, mas o neutrino não tem massa, então nada impede que ele viaje mais rápido que a luz!

Ok, e a sua bisavó não deixou de ser mulher e nem por isso você anda dando uma "sacada" nos músculos glúteos dela (ou sim. Vai saber!).

O problema fundamental da experiência realizada pelo CERN é que o tempo foi medido por um satélite GPS que se movia entre o CERN e o OPERA. O movimento é ridículo em nossa comparação do dia-a-dia, mas o sinal do GPS obedece à Relatividade, pois são emanações eletromagnéticas e TODA emanação eletromagnética viaja à velocidade da Luz (não vou explicar o porque. Pare e pense). Isso significa dizer que as distâncias percorridas entre o satélite e o CERN irão mudar, assim como a distância entre o satélite e o OPERA também mudarão, da mesma forma que a distância entre o CERN e o OPERA. Ou seja, tá tudo variando, mandando os cálculos por água abaixo.

O autor desta explicação é o pós-doutor Ronald van Elburg, do Departamento de Inteligência Artificial, no Grupo de Cognição Sensorial, no (respira fundo) Rijksuniversiteit Groningen e eu lhe desafio a acertar a pronúncia desta aberração linguística na primeira tentativa.

Segundo Elburg, a discrepância para ajuste do tempo percorrido do sinal do satélite até a Terra é de 64 nanossegundos, o que é exatamente a discrepância encontrada na velocidade do neutrino ligeirinho. Elburg publicou um artigo sobre isso, cujo PDF vocês podem ler AQUI.

Mas… mas… isso prova que cientistas mentem, que eu não posso confiar neles?

No, you moron! Isso prova que a Ciência sempre se corrige. É um processo gradual onde cientistas testam e retestam as teorias de outros cientistas, afim de ver se á algo errado. Eles pesquisam procurando comprovações e falhas e os argumentos prós e contras são publicados em periódicos científicos, de forma que as críticas sejam criticadas também e que a validação ou refutação da teoria original acaba aparecendo cedo ou tarde.

Os argumentos de Elburg são claros e demonstrados matematicamente. Ele não teve este lampejo do nada. Ele pode estar errado e os neutrinos realmente podem ser mais rápidos que a luz? Óbvio que pode (coisa que eu duvido). Aí entrarão outros cientistas tentando ver se os argumentos de Elburg são válidos. Para a imprensa em geral, Einstein estava caduco e podemos viajar mais rápido que a luz (coisa que NINGUÉM disse), mas a argumentação de Elburg não entrará nos artigos dos jornalecos esta semana, pois isso não dá manchete e ninguém se importa de qualquer forma.

A lição que temos é que não foi dessa vez que provaram que Einstein estava errado, e mesmo que estivesse não seria nada demais. O que me deixa feliz é saber que o ceticismo em recusar opiniões formadas (seja por que lado for) vence a ideia que baluartes do conhecimento são intocados e nada pode ser revisto pois são como vacas sagradas.

Mas até mesmo vacas sagradas podem virar hambúrguer.


Fonte Bad Astronomy

26 comentários em “O caso dos neutrinos rápidos comprova: EINSTEIN RULEZ!

  1. Eu já desconfiava.
    O “velho caduco” ainda vai nos esfregar na cara sua inteligência por muitos e muitos anos… ( ainda bem )

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  2. Eu gosto desse livro.

    O Marcelo Gleiser publicou um artigo em uma revista dessas, acho que uma das Veja de setembro, comentando que era mais fácil ter havido um erro na metodologia do teste do que realmente haver uma diferença de velocidade entre as partículas, além de ter casado no chão dez doletas contra qualquer um que achasse o contrário.

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        1. @Deimos, hahaha o problema não é o inglês. É que eu sou do 1º ano do colegial, to sendo apresentado a física clássica só agora. Fica meio complicado entender a quântica.

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          1. @Farner, Desculpa a minha ignorância, mas eu sou do tempo do primário, ginásio e científico. Não sei onde se encaixa o colegial. Eu não sou professor, mas vamos estimular um pouco seu raciocínio: analise a fórmula! Entre com o valor da velocidade da luz e estude os resultados da fórmula quando a velocidade V do corpo se aproxima de C! Talvez lhe dê um pouco de trabalho, mas e muito provável que você se sinta mais satisfeito em descobrir por si próprio do que ter uma resposta imediata, afinal, você pensou ;-)

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          2. @Deimos, Tenho 15 anos, nenhuma repetição (melhorará sua noção do que é colegial). Pois é, analisei a fórmula e percebi que a massa aumenta. Ainda não conheci ver lógica na fórmula, mas vou procurar um livro de relatividade para leigos para tentar entender isso. :smile:

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  3. O meu professor de física quando estava terminando o ensino-médio me disse que Einstein formulou a Teoria da Relatividade somente pensando. E não duvidei muito uma vez que ela tem sido posta a prova décadas depois. Gênio é gênio e não são uns neutrinos apressados que vão derrubar uma das mais famosas teorias da história.

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