Artigo científico fajuto passa a perna em 157 periódicos no mundo

Uma das minhas preocupações em escrever um artigo é checar as referências, pesquisando o nome do cientista e a instituição onde ele trabalha. Passei a sempre colocar o link para a página pessoal do pesquisador e até já troquei twits com uma arqueóloga e e-mails com pesquisadores brasileiros, como Marcela Uliano, que ficou de ver se dava o meu nome para uma proteína.

Um jornalista preparou um artigo falso e mandou para a Science, como parte de uma investigação. O resultado? 157 manés replicaram o artigo, para depois serem vistos como um bando de otários (o que não está longe da realidade).

O dr. Ocorrafoo Cobange é biólogo e trabalha no Instituto Wassee de Medicina, em Asmara. Algo digno de respeito, mas infelizmente é falso. Ocorrafoo não existe, o Instituto Wassee (cuja sonoridade em português é muito engraçada) e eu só não procuro Asmara, pois o porteiro do meu prédio pode muito bem ter nascido lá.

O documento falso era parte de uma operação policial orquestrada pelo dr. John Bohannon, que tem doutorado em Biologia Molecular e contribui regularmente com a Wired e a própria Science. Ele escreveu um artigo totalmente fictício, com nome mais fictício ainda.

De acordo com o próprio Bohannon, em um artigo na última edição da revista Science, "uma paródia de um artigo científico foi recentemente aceito para publicação em 157 publicações em todo o mundo, provando quão falho algumas publicações de acesso aberto são".

Meio nos moldes do que eu costumo fazer em primeiro de abril, onde eu escrevo as maiores insanidades possíveis (e sempre tem algum maluco que acredita), o ilustre Ocorrafoo descreve como a "molécula X de espécies de líquens Y inibe o crescimento de células de câncer Z". Mas o X, Y e Z chamariam a atenção. Então, o correspondente troll construiu um banco de dados de moléculas, líquens, e linhagens de células de câncer, escrevendo um programa para gerar centenas de artigos únicos, misturando essa mixórdia toda.

Em outras palavras, ele simplesmente montou uma espécie de mala direta à guisa de artigo científico. Mandou para vários idiotas e todos aceitaram felizes da vida.

Não satisfeito, Bohannon, incorporado com o caboclo 7 Trolls, encheu o artigo com insanidades, e nem mesmo isso despertou maior atenção nas publicações. O que seria mais sacana a se fazer? Bem, que tal usar o Google Translator para mudar o texto para francês e enviar? É sacanagem suficiente para você? Então, Bohannon se mostrou mais FDP ainda, pois ele jogou no Google Translator para passar do inglês para o francês e, em seguida, usou o Translator mais uma vez para passar do francês para o inglês.

Claro, o texto deve ter ficado uma sonora merda e mesmo assim foi aceito. Capaz de muitos "blogs" brasileirtos terem usado o Google Translator para passar para o português.

Se bobear, apareceu no G1, R7 e o Terra.

Eu vivo aqui clamando por fontes sérias. Fontes em que realmente haja revisão por pares e não alguma publicação caça-níqueis que publica até papel higiênico usado, depois de receber a grana, claro. Esta ação provou que estas publicaçõezinhas de merda não estão interessadas em respeito ou reconhecimento e sim no dinheiro que estão recebendo no momento. Muito pior é quem lê este lixo e se acha bem informado.

Aqui no Brasil, não temos este perigo. Quase ninguém se interessa por ciência, mesmo, e o restante da parcela de idiotas lê as besteiras da Super Interessante… Ah, bem… temos o caso do Boimate da Veja. Um exemplo clássico de gente idiota publicando qualquer merda.


Fonte: NPR

8 comentários em “Artigo científico fajuto passa a perna em 157 periódicos no mundo

  1. É por isso que devemos valorizar o ceticismo e a análise crítica. Vamos pôr a preguiça de lado e pesquisar a fundo sobre, antes de acreditar em qualquer merda. Informação não é conhecimento.

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  2. Gostaria de saber se só publicações de fundo de quintal publicaram o “experimento”, ou se alguma publicação conceituada também caiu no conto.

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  3. Um dia desses me peguei assistindo Atrthur na fé exibido do Nat Geo e vi um ritual no qual era sacrificada uma ovelha e seu sangue era derramado no rosto de Arthur Veríssimo…
    E ainda chamavam aquele ritual de cristão…

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