
Se você achava que a humanidade já tinha esgotado as formas de transformar espiritualidade em burocracia, é porque ainda não deu uma espiada no judiciário indiano. Lá, no coração da democracia mais populosa do mundo, acontece o milagre do impossível: um deus imortal, onisciente e onipotente sendo tratado como uma criança de jardim de infância. Krishna (vocês sabem: derrotou demônios, ergueu montanhas com um dedo, pregou sobre desapego material e comprou Coca-cola com casco de Pepsi), pela lei indiana, é considerado um menor de idade eterno. Não pode assinar nada, não pode tomar decisões sozinho e precisa de um tutor. Sim, Krishna tem um “responsável legal”, como se estivesse esperando a mãe assinar a autorização pra excursão da escola.
E não pense que isso é um detalhe exótico perdido em pergaminhos coloniais. É coisa fresquinha, de 2025: Krishna está atolado em 18 processos simultâneos sobre 13,77 acres de terra em Mathura, brigando judicialmente com uma mesquita do século XVII. Dezoito processos. Isso dá duas temporadas completas na Netflix, com direito a cliffhanger no fim de cada audiência.
Ajuizando um mundo sem juízo, esta é a sua SEXTA INSANA!
O Tribunal Superior de Allahabad recebeu um pedido para trocar o guardião legal de Krishna, Kaushal Kishore Thakur. O motivo? Ele ousou abrir mais um processo paralelo. Sim, amigos: o tutor foi processado por processar demais. É como reclamar que o deserto tem areia em excesso.
Os rivais ainda alegaram que Thakur estava “agindo contra os interesses de Krishna Lalla” porque foi expulso de um trust. Sim, deuses na Índia têm trusts, comitês e conselhos administrativos. Dá até pra imaginar Krishna numa reunião de segunda-feira, ouvindo apresentação em PowerPoint sobre “estratégia de valorização espiritual 2025-2030”. Thakur foi chutado do comitê e, segundo os acusadores, perdeu o direito de representar o deus. É tipo dizer que um pai perde a guarda do filho porque saiu do grupo do zap da família.
A defesa, feita pela advogada Reena N Singh, rebateu com uma lógica que só piora o absurdo: Thakur não representa Krishna como membro de trust nenhum, mas como morador de Vrindavan, com CEP (ou sei lá como e chamado no Nirvana) registrado. Ou seja, o deus que sustenta o Cosmos precisa de endereço oficial para validar sua representação jurídica. Quer vencer um demônio cósmico? Pode. Quer entrar com agravo de instrumento? Só com comprovante de residência.
O juiz, Justice Ram Manohar Narayan Mishra (o nome é esse mesmo, sem sacanagem!) – provavelmente com dor de cabeça e arrependimento de não ter prestado concurso pra outro cargo – respirou fundo e disse que remover o tutor de uma divindade é uma medida “drástica”. Só pode acontecer se houver provas concretas de sabotagem divina. Como não havia nada além de intriga de bastidores, Thakur segue como babá jurídico de Krishna. O show de horrores processuais continua.
E enquanto humanos duelam em 18 processos sobre um pedaço de terra, Krishna, o mestre da transcendência, está juridicamente preso na infância eterna. Pode pregar o desapego, mas não pode mexer em escritura. Pode erguer montanhas, mas não pode assinar uma procuração sem babá. Pode derrotar exércitos de demônios, mas precisa de advogado com timbre e carimbo reconhecido em cartório.
O mais grotesco é perceber que isso não é inédito. O juiz citou precedentes de 1925, 1956, 1999 e 2019; cem anos de gente brigando em tribunal sobre quem fala em nome do referido deus. Cem anos de jurisprudência sobre deuses tratados como crianças em litígios territoriais. Se isso não é a prova de que a espiritualidade foi engolida pela burocracia, não sei o que é.
E a cereja venenosa no bolo? Krishna, o iluminado que pregava contra o ego, virou pretexto para uma guerra de egos entre trusts, advogados e devotos. A cena é patética: advogados processando advogados, comitês rivais brigando entre si, devotos competindo pra ver quem ama mais o deus que eles próprios reduziram a incapaz jurídico. É como se Buda precisasse abrir processo trabalhista por excesso de horas de meditação, ou Jesus brigasse na justiça do condomínio pra decidir quem é o síndico (óbvio que é o Tim Maia).
Moral da história: na Índia, nem os deuses escapam da burocracia. Krishna, tão Eterno quanto Mun-Ra, está preso numa infância cartorial e envolvido em batalhas judiciais que fariam vergonha a qualquer roteirista. Se ele realmente observa isso de um plano superior, deve estar se perguntando: “Brahma, meu chapa, que merda, sô!”, ao que Brahma diz “Não tenho nada a ver com isso. Culpe a Antarctica”.
Porque se existe algo mais eterno que a divindade é a burocracia… e esta última sempre vence.
Fonte: Time da Índia, digo, Times of India

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