
Imagine um mundo onde os oceanos estão escondidos sob uma camada espessa de gelo, protegidos da radiação mortal do espaço. Este não é um cenário de ficção científica, mas a realidade das luas Europa, de Júpiter, e Encélado, de Saturno. Recentes experimentos da NASA sugerem que esses oceanos ocultos podem não apenas existir, mas também abrigar sinais de vida.
Em um estudo publicado na revista Astrobiology, pesquisadores liderados pelo dr. Alexander Pavlov, do Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, investigaram a possibilidade de encontrar moléculas orgânicas, como aminoácidos, logo abaixo da superfície gelada dessas luas. Aminoácidos são componentes essenciais das proteínas, que por sua vez, são fundamentais para a vida como a conhecemos.
Europa é a menor das quatro luas galileanas de Júpiter, mas o que lhe falta em tamanho, compensa em potencial científico. Com um diâmetro de cerca de 3.100 km, Europa é ligeiramente menor que a nossa Lua. Sua superfície é uma vasta planície de gelo, marcada por poucas crateras, sugerindo uma crosta jovem e ativa. Sob essa crosta de gelo, acredita-se que exista um oceano global contendo o dobro de água dos oceanos da Terra.
A evidência desse oceano subterrâneo vem de várias fontes, incluindo as observações da sonda Galileu da NASA, que detectou perturbações no campo magnético de Júpiter ao redor de Europa, indicando a presença de um condutor elétrico líquido — possivelmente um oceano salgado. Além disso, imagens de geysers de água sendo expelidos através da crosta de gelo reforçam a ideia de um oceano ativo abaixo da superfície.
Encélado, com um diâmetro de apenas 500 km, é uma das menores luas de Saturno, mas também uma das mais fascinantes. Sua superfície é coberta por uma camada de gelo brilhante, refletindo quase toda a luz solar que a atinge, o que a torna um dos objetos mais brilhantes do Sistema Solar. Sob essa superfície gelada, dados da sonda Cassini revelaram a presença de um oceano global aquecido pelas forças de maré exercidas por Saturno e suas outras luas.
Encélado é famoso por seus gêiseres de gelo e vapor d’água que são expelidos de fissuras em sua região polar sul. Esses jatos contêm moléculas orgânicas complexas, sugerindo que as condições abaixo da superfície possam ser adequadas para a vida. A presença desses gêiseres oferece uma oportunidade única para estudar o conteúdo do oceano subterrâneo sem a necessidade de perfuração.
As superfícies de Europa e Encélado são extremamente frias e constantemente bombardeadas por radiação intensa. No entanto, sob essa camada de gelo, acredita-se que existam oceanos aquecidos pela força gravitacional de seus planetas hospedeiros e das luas vizinhas. Esses oceanos subterrâneos poderiam conter os elementos necessários para a vida, como fontes de energia e compostos biológicos.
Os cientistas realizaram experimentos meticulosos para determinar a viabilidade da sobrevivência de aminoácidos nessas condições extremas. Amostras de aminoácidos foram misturadas com gelo e expostas a radiação gama para simular o ambiente de Europa e Encélado. Além disso, os pesquisadores também testaram aminoácidos em bactérias mortas e em gelo misturado com poeira silicatada.
Os resultados foram fascinantes. Em Europa, a profundidade “segura” para encontrar aminoácidos intactos é de cerca de 20 cm em áreas menos impactadas por meteoritos. Em Encélado, os aminoácidos poderiam ser encontrados a apenas alguns milímetros abaixo da superfície. Essas descobertas são encorajadoras para futuras missões que possam perfurar essas superfícies em busca de sinais de vida.
A pesquisa destaca a importância de onde amostrar as superfícies dessas luas. Em regiões ricas em sílica, os aminoácidos degradam-se mais rapidamente, o que sugere cautela ao escolher locais para coleta de amostras. Por outro lado, a presença de material bacteriano parece proteger os aminoácidos da radiação, aumentando as chances de encontrarmos sinais de vida.
Não se sabe ao certo se estas descobertas nos aproximam da resposta à pergunta “Estamos sozinhos no universo?”, mas elas abrem novas perspectivas para a exploração espacial. Missões futuras para Europa e Encélado poderão utilizar esses dados para otimizar a busca por biomoléculas e, quem sabe, encontrar indícios concretos de vida fora da Terra.
Serão encontradas? Não sabemos, mas é esse nosso anseio por descobrir coisas que nos tem impulsionado adiante desde que o primeiro hominídeo olhou para o céu e contemplou as estrelas.

Um comentário em “Os mistérios dos oceanos ocultos de Europa e Encelado”