Medir é um problema sério. Já começa que todos os sistemas de medida são arbitrários. O cara pega algo que usa como padrão e pronto, tudo tem que se encaixar ali, e é daí que começam os problemas. Nos múltiplos, tudo uma maravilha. Nos submúltiplos e fracionamentos em geral é que começa a dor de cabeça.
Quando o comércio marítimo se intensificou no século XVI-XVII, estava cada vez mais necessário saber em que parte do mundo você estava. Não apenas isso, como chegar em determinada parte do mundo. Levando em conta que a Terra foi dividida em trópicos e meridianos, e estes levam em conta medições em ângulos, era de suma importância ter instrumentos capazes de trabalhar com frações de ângulos e arcos de ângulo.
Para este desenvolvimento, houve grande investimento em Astronomia, com muitos príncipes financiando astrônomos. Amor pela Ciência? Talvez, mas a aplicação disso seria orientações mais precisas, o que ajudaria muito aos negócios. Entrou o século XVIII e daí veio o éculo XIX, e estamos na Era da Invenção, em que a Ciência começa a ter novos olhares (e mais investimentos).
Entra em cena Jesse Ramsden.
Jesse Ramsden nasceu em Halifax, Inglaterra, em 6 de outubro de 1735, filho de um estalajadeiro que não era o que podemos chamar de rico. Frequentou a escola entre 1744 a 1747, para depois ser enviado aos doze anos para seu tio materno, Sr. Craven. Estudou Matemática com o reverendo Hall, servindo tempos depois servir como aprendiz de costureiro em Halifax.
Aos 20 anos, foi para Londres onde trabalhou como balconista em um armazém de tecidos, e em 1758 foi aprendiz de um fabricante de instrumentos matemáticos, e foi aí que we encontrou. Ramsden mostrou tamanha habilidade na feitura de instrumentos matemáticos e de precisão que em quatro anos abriria seu próprio negócio, o que é um feito e tanto hoje, quanto mais naquela época. Nada mal para um filho de um estalajadeiro. Mas a história não acaba aqui.
A qualidade e precisão de seus instrumentos estabeleceram sua reputação como um dos melhores fabricantes de instrumentos da Europa. Em 1765, Ramsden casou-se com Sarah Dollond, filha de John Dollond, o famoso fabricante de lentes e instrumentos ópticos de alta qualidade. Não se sabe muito da vida conjugal de Ramsden e sua esposa, mas não devia ser lá essas coisas, já que Ramsden mudou sua oficina (e sua residência), em 1773, para o nº 199 da Piccadilly, mas Sarah e seu filho continuaram morando em Haymarket em uma casa pertencente à família de seu pai, e daí em diante nunca mais morou com ramsden até o dia de sua morte. O sujeito devia ser difícil.
Ramsden foi o responsável pela construção, gravação e design de motores divisores que permitiam medições de alta precisão de ângulos e comprimentos em instrumentos. Ele produziu instrumentos para astronomia que eram especialmente conhecidos para uso marítimo onde eram necessários para a medição de latitudes e para seus instrumentos de levantamento que eram amplamente utilizados para cartografia e levantamento de terras, tanto em todo o Império Britânico quanto fora.
Ramsten ainda criou um sistema composto de lentes formando uma ocular acromática específica para telescópios e microscópios tão excelente que até hoje é conhecida como “ocular de Ramsden”. Nesta ocular, as duas lentes são feitas do mesmo tipo de vidro, tendo a mesma distância focal e sua separação é igual a essa distância focal. A lente de campo coincide com o primeiro plano principal, que é um bom lugar para colocar uma retícula, mas inconveniente porque pode destacar a poeira ali depositada. Esta ocular é eficaz na redução da aberração cromática, fazendo um trabalho melhor com acromatismo longitudinal do que lateral.
Mas uma das obras primas de Ramsden foi o motor divisor para a fabricação de pequenos instrumentos científicos como sextantes e octantes. Tendo sido fabricado em 1767, este motor era uma obra de arte. A função desta máquina era dividir arcos de círculos automaticamente.
Tinha uma placa divisória de latão fundido com 5/8 de polegada e suportada em três rolos com uma estrutura de metal fundido pesado em um grande tripé de mogno, com três rodas sem atrito. Essas rodas suportam uma pesada roda de bronze que é coberta em sua borda externa com um anel de latão, cortado com 2160 dentes de engrenagem. Esses dentes se engatam um parafuso em um lado da máquina, e ao girar este parafuso 6 vezes, o movimento da caneta é de exatamente um grau.
Um objeto a ser dividido era preso aos braços da roda de bronze, com o mecanismo de corte por cima. Os mais de 2000 dentes garantiam um fracionamento do ângulo de forma que o produto final era extremamente preciso (estamos no século XVIII, lembrem-se!).
Os motores divisores mecanizaram parcialmente o processo de divisão de escalas para pequenos instrumentos, ajudando a atender à crescente demanda dos navegadores. Um sextante ou octante foi fixado no topo do motor e as divisões angulares foram marcadas nele usando o parafuso de precisão do motor e uma catraca.
Jesse Ramsden compartilhou relutantemente seu projeto com outros fabricantes a pedido do Conselho de Administração do governo. Em troca, ele ganhou um prêmio do British Board of Longitude. Ao compartilhar detalhes da construção da sua máquina, em meados do século XIX, até mesmo pequenos fabricantes de instrumentos americanos podiam trabalhar e confeccionar seus instrumentos precisos depois de terem comprado motores divisores. A firma de Filadélfia de Knox e Shain, que fabricava instrumentos de navegação, comprou o motor divisor de Ramsden de seus sucessores para seu uso.
Ramsden foi eleito para a Royal Society em 1786 e para a Royal Society of Edinburgh em 1798. Por seus trabalhos, ganhou a Medalha Copley da Royal Society em 1795, mas não aproveitaria muito as suas glórias. Sua saúde começou a piorar cada vez mais, acabando por ir morar em Brighton, mas lá faleceu em 5 de novembro de 1800. Seu legado foi ter formado vários aprendizes que iniciaram seus próprios negócios na manufatura de instrumentos ópticos e de precisão e muito do que temos hoje ainda é baseado nos designs fenomenais de Jesse Ramsden, um dos Grandes Nomes da Ciência.
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