Fabela é um nome que dificilmente você ouviu falar. Trata-se de um osso sesamóide, isto é, com formato de uma semente de gergilim, e daí vem o seu nome, que em latim significa “feijãozinho”. Ossos sesamóides são pequenas estruturas de formato esférico localizadas próximo à articulação do dedão com o metatarso, e a função deles é ajudar no impulso, além de auxiliar na absorção de impactos. Só que a fabela é um caso particular, pois o lugar dela é na articulação do joelho e estava praticamente desaparecida nas pessoas há alguns séculos.
Ou, pelo menos, era o que se achava.
O dr. Michael Berthaume se define como um antroengenheiro. Longe de projetar lugares de moralsuyspeita, ele aplica teorias e métodos de engenharia e antropologia para tratar de questões dentro e através de campos como biomecânica, engenharia mecânica, antropologia biológica e paleoantropologia. Não só isso, ele ainda é marido, nadador, entusiasta de viagens e usa Twitter.
Berthaume e seu pessoal meteram as caras e fuçaram coisa bem velha (mas não tão velha quanto yo momma, que era tão chata que Adão mordeu a maçã amaldiçoada para ver se lhe expulsavam de casa), analisando mais de 58 estudos publicados em 27 países, desde 1875, num total de 21.676 joelhos. O que eles perceberam é que a fabela parecia ter sumido com o surgimento do gênero Hominidae, mas nao é que a danadinha reapareceu em humanos algum tempo depois que eles divergiram dos chimpanzés? Por que? Ninguém sabe, Evolução não tem um propósito; apenas seleciona quem está apto para sobreviver. Se algum osso surge ou deaparece , e isso não afeta a sobrevivência da população, não faz a menor diferença. Suergiu, tá surgido, a informação genética vai para os descendentes e fim de papo!
O fabella já foi muito raro em nós, toscos seres humanos, mas agora é três vezes mais comum em nossos joelhos do que há cem anos. Ele cresce no tendão de um músculo, assim como a rótula. Como nada é tão bom que a Seleção Natural não apronte uma, este ossinho fio das unhas está ligado à ocorrência de dores no joelho e artrite, embora não necessariamente seja a cauisadora, apenas servindo de dado estatístico, pois pessoas com osteoartrite do joelho têm duas vezes mais probabilidade de ter uma fabela do que pessoas sem osteoartrite.
Ao analisar a ossarada velha e as pesquisas feitas há mais de um século, Bewrthaume e sua galerinha da pesada analisou mais dados e criou um modelo para a população mundial. Isso mostrou que, em 1918, apenas 11,2% dos humanos tinham a fabela, mas em 2018 havia atingido uma alta de 39%.
A verdade é que se o ossinho sem-vergonha tem, teve ou terá alguma utilidade no corpo, ninguém sabe. Não que ele TENHA que ter utilidade. O interessante disso é que ele é um vestigio de nossa evolução, e como a Evolução resgata partes esquecidas por algum capricho de nossos genes. Ele está ligado a doenças ósseas? Ainda não se sabe, mas há indícios, e isso já é uma bela premissa para se ter uma pesquisa, nem que seja para entender mais sobre como eram nossos avós e como serão os nossos netos.
A pesquisa foi publicada no periódico Journal of Anatomy.