Em Biologia Evolutiva existe uma coisa chamada “Convergência”. São soluções que duas espécies totalmente distintas encontram para um mesmo problema, mesmo quando uma não tem nada a ver com a outra. A morfologia do golfinho e do tubarão é um perfeito exemplo. Elas são bem parecidas, mesmo levando em conta que tubarões são peixes e golfinhos são mamíferos.
O mesmo acontece com crocodilianos (répteis) e baleias (mamíferos). Mesmo que o ancestral comum a ambos tenha 288 milhões de anos, esses dois bichinhos fofos guardam ainda muitas semelhanças, e é função da ciência saber quais são elas e como se desenvolveram.
O dr. Matthew McCurry é pesquisador do Departamento de Anatomia e Biologia do Desenvolvimento da Universidade Monash, na Austrália. Ele não curte esse negócio de coala a parada dele é coisa mais sinistra, como crocodilos malvadões.
McCurry, que não é dono de nenhum fast food na Índia, e seus colaboradores estudam como tanto os crocodilianos quanto as baleias possuem mandíbulas revestidas com dentes cônicos e uma matriz semelhante a um focinho. Rastreando a história evolucionária dos dois, ficou-se observado que ambos adquiriram essa morfologia de forma independente.
Convergência, saca? O problema é que até agora ninguém tinha dado a menor bola do porquê. Então, McMelt, digo, McCurry resolveu dar uma fuçada no focinho de ambos, com o auxílio de um treco chamado “morfometria tridimensional”.
Como você sabe algo de grego, sabe que morfometria significa “medir formas” e tridimensional porque é em 3 dimensões e tudo fica melhor em 3D, exceto filmes, que normalmente ficam escuros e só saem assim para extorquir dinheiro do pessoal. Aliás, o último filme bom em 3D que eu vi foi Mad Max, Rota da Fúria e antes dele o Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma. Os filmes da Marvel não parecem ter imersão. Além disso, temos que ver que a tecnologia…
NÃO MUDA A PORRA DO ASSUNTO!
A morfometria 3D analisa e quantifica as diferenças anatômicas entre formas de crânios, de forma que possamos medir o quanto uma caveira é igual à outra. Depois de examinar variações entre 75 mandíbulas e 97 crânios de crocodilianos e baleias dentadas, McCurry e seu pessoal foram capazes de definir alguns detalhes mais específicos desta ocorrência.
As formas da baleia dentada e do crânio crocodiliano possuem dois tipos de morfologia. Uma é morfologia brevirostrina, com crânios curtos e largos, e a outra é a morfologia longirostrina, ou seja, crânios longos e finos. O focinho abafado de um crocodilo-anão é o mesmo de uma orca, com crânios em forma de U. Já botos e gaviais possuem crânios longos, finos e com focinhos retos. A alimentação de presas semelhantes permitiu a evolução de crânios extremamente semelhantes, pois nos zilhões de espécimes que foram aparecendo, este formato foi o mais eficaz, e o processo evolutivo sempre seleciona o que for melhor adaptado.
Os crânios de um golfinho-do-rio-prata, gavial, orca e crocodilo anão. Dimensões modificadas para ter o mesmo comprimento.
Evolução não faz as coisas porque é um capricho. Ela nem faz nada. O longo processo por seleção natural faz com que indivíduos sejam selecionados mediante as necessidades impostas pelo amente. Sobrevive quem puder; e se uma solução pode ser adequada a vários, os processos de tentativa-e-erro fatalmente gerarão receitinhas básicas que servirão para mais de um tipo de ser vivo.
A pesquisa foi publicada na Proceedings of the Royal Society B.
Texto muito bom! Sempre irreverente, divertido e prazeroso de se ler… Parabéns e obrigado por trazer a luz do conhecimento informações como estas, que podem até não servir para muitas coisas mais, além de entretenimento intelectual, mas que para poucos fazem muita diferença!