Todo mundo conhece Alan Turing. Ainda mais depois do filme O Jogo da Imitação. Além de Pai da Computação Moderna, Turing estudou até padrões matemáticos sobre o surgimento de manchas em animais, o que acarretou na publicação The Chemical Basis of Morphogenesis (leia o PDF com o paper dele). Mas seu trabalho, apesar de brilhante, não respondia a certas questões. Muitos animais nâ têm manchas como vacas, mas em forma de listras, como alguns felinos (você sabe, desde aquele seiu gato vira-latas até tigres). O modelo de Turing não respondia como isso acontecia. Obra de Jesus? O Projetista Inteligente resolveu sacanear os cientistas ateus que querem destruir a família tradicional?
Uma pesquisa recente busca responder isso, buscando matematizar e criar novos modelos para explicar de onde vêm essas listras.
Antes de continuarmos, deixe-me explicar algo. Não, a Biologia não tem uma explicação perfeita do porque as listras e demais manchas aparecem. O que matemáticos fazem é estudar a evolução de como essas manchas adquirem padrões distintos, além daquela mixórdia sem forma definida, mas mesmo a mixórdia sem forma definida seguem padrões matemáticos. Daí vamos pro pessoal com problemas que vai alegar que um projetista sem ter muito o que fazer deu maior atenção a isso do que colocar a uretra passando por dentro da próstata, o tipo de coisa que Evolução explica. isso posto, vamos ao assunto, pois já me desviei demais.
Tom Hiscock é doutorando do programa de Sistemas Biológicos no laboratório Sean Megason da Universidade de Harvard.Junto com outros pesquisadores, Tom busca montar modelos matemáticos numa única equação para identificar quais variáveis ??controlam a formação de listras nos seres vivos. Sendo assim, o principal alvo é: quais as condições em nível molecular seriam necessários para que tal coisa acontecesse?
Hiscock mostrou interesse numa peculiaridade que parece boba, mas quando paramos pra pensar, a frase, como Asimov definiu ser a chave da Ciência, “Engraçado…”. Por que as listras de um tigre são perpendicular ao seu corpo enquanto as listras do peixe-zebra são horizontais?
O modelo-mestre de Tom prevê três principais perturbações que podem afetar como listras se orientam: Primeiro, a mudança no “gradiente de produção”, ou seja, a maneira como uma substância amplifica seu padrão de densidade e padrão de distribuição. Em segundo, a alteração no “parâmetro de gradiente”, uma substância que muda os parâmetros envolvidos na formação da listra. Por fim, a mudança física na direção da origem molecular, celular, ou mecânica da listra. Com qualquer uma dessas perturbações, a formação da listra irá mudar também. Em termos evolutivos, a matriz genética que trabalha com esses fatores é passado de geração em geração. Aqueles que tiveram a matriz desses fatores na ordem capaz de garantir um padrão de pelagem que confere uma vantagem na hora de se camuflar com o ambiente, conseguiram não só fugir de predadores, mas SER um melhor predador.
A pesquisa foi publicada no periódico Cell Systems. Não é uma resposta do porque acontece. É mais um entendimento do que acontece. E nem toda pesquisa científica tem que ter aplicação prática imediata. Ou tem?
Essa é daquela famosa série do Jô Soares: “Cientistas desocupados estudam…”.
Mas não deixa de ser interessante.
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Cientistas desocupados nos deram vacinas, celulares, computadores e aumentaram expectativa de vida.
Humoristas desocupados fizeram…?
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só o fato de que alguns anos os animadores da Disney usarem esses modelos matemáticos para renderizações mais realistas e movimentar milhões de dólares por causa disso mostra que não são desocupados
Sem contar as outras milhares de aplicações no futuro que nem tenho como imaginar agora.
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Equações de reação e difusão, morfogênese e biomatemática. Realmente é muito interessante, além de ter várias aplicações.
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