A apatia é a mais comum síndrome neuropsiquiátrica na doença de Alzheimer, que também é tida como uma síndrome, pois tem-se o prejuízo de memória, funções executivas, e, na evolução da doença, pode aparecer outras coisas, sintomas parkisonianos, epilepsia, comprometimento autonômico etc. Só a apatia afeta entre 30 e 60% dos pacientes, e pode ser definida como perda de motivação e se manifesta com alterações afetivas, cognitivas e comportamentais, determinando, respectivamente, redução da resposta emocional, perda de autocrítica e retração social. Fonte
A apatia acaba sendo a falta de vontade de fazer qualquer coisa, sendo comum em depressão e em certos tipos de esquizofrenia, mas por outros motivos. Agora, pesquisadores encontraram evidências de uma base biológica para a apatia em pessoas saudáveis. Mas o que isso tem a ver com Alzheimer?
O dr. Masud Husain, Professor de Neurologia e Neurociência Cognitiva da Universidade de Oxford. Ele estuda os diferentes sintomas associados com o Alzheimer e pretende entender o motivo, razão e circunstâncias de como algumas pessoas se tornam patologicamente apáticas, não necessariamente tendo Alzheimer, como nos casos de acidente vascular cerebral, por exemplo.
Algumas doenças são vistas como… sei lá, não como doenças. Se veem uma pessoa apática, acham que ela deve “dar a volta por cima”, e pronto! O papel de bom moço foi feito, a pessoa que não está simplesmente triste, mas doente se afunda mais e mais e um monte de gente acha que é preguiça, ou frescura, mesmo.
Quando Husain e seus colaboradores decidiram estudar os jovens para ver se havia quaisquer diferenças nos cérebros daqueles que foram motivados em comparação com aqueles que estavam apáticos, perceberam que, em alguns casos, as pessoas podem tornar-se patologicamente apáticas. Muitos destes pacientes podem estar “bem” fisicamente, mas podem também apresentar desmotivação, lerdeza e total despreocupação em cuidar de si mesmo., apesar de não estar necessariamente com depressão, que também apresenta apatia, mas de outras formas.
Quarenta voluntários saudáveis ??completaram um questionário que lhes marcou sobre a forma como eles foram motivados. Pediram a eles que participassem de um jogo em que eram feitas ofertas, cada um com um nível diferente de recompensa e esforço físico necessário para ganhar a respectiva recompensa. Enquanto eles brincavam com o joguinho, os voluntários eram examinados por um aparelho de ressonância magnética, para que os pesquisadores pudessem estudar seus cérebros.
Os resultados mostraram que, embora as pessoas apáticas eram menos propensas a aceitar ofertas de maior esforço, uma área de seus cérebros realmente mostrou mais atividade do que em indivíduos motivados. O córtex pré-motor torna-se ativo pouco antes das áreas do cérebro que controlam o nosso movimento.Nas pessoas mais apáticos, a região do córtex pré-motor era mais ativa quando eles escolheram pegar uma oferta pessoas motivadas. A melhor explicação é que a estrutura do cérebro é menos eficiente, por isso, é mais um esforço para pessoas apáticas para transformar decisões em ações.
Husain e seu pessoal descobriram que conexões na parte frontal do cérebro de pessoas apáticas são menos eficazes, e não devemos esquecer que só o cérebro consome 20% de toda energia do corpo por dia. Se é preciso mais energia para planejar uma ação, ela se torna mais “custosa” para pessoas apáticas para conseguir executar as ações, logo, seus cérebros têm que fazer mais esforço.
A pesquisa foi publicada no periódico Cerebral Cortex, e nos ensina algumas coisas importantes sobre os sistemas cerebrais envolvidos em processos de motivação e preparação para a ação são componentes importantes. Você pode até pensar que isso acarretará em alguma palestra babaca de motivação para o empregado se matar de trabalhar cada vez mais por salários cada vez menos, mas é muito mais que isso. É o entendimento de como os sintomas acontecem, somando-se a diversos outros e formando síndromes e terminando por uma doença séria, o que ajuda no diagnóstico e tratamento, desde AVC até o Alzheimer, que é sempre arroz de festa em qualquer pesquisa que envolva o cérebro.