Frank Reade weekly magazine era de um tempo pré-Smartphone, quando crianças liam, ao invés de ficar na ânsia de apertar a porcaria dos seus celulares. Viajava-se na imaginação ao invés de ter coisas coloridas explodindo no seus olhos, mas que depois não se absorveu nada, mas criando ligações nas áreas de prazer do cérebro, clamando para serem ativadas de novo.
Com o subtítulo Adventures in the Age of Invention (Aventuras na Era da INvenção), por vezes trazendo Containing stories of adventures on land, sea & in the air (contendo histórias de aventuras na terra, mar e ar), Frank Reade lhe levava a um mundo de aventuras a cada semana. Das profundezas do mar até o resgate em montanhas cobertas de neve, com capas desenhadas por artistas da época que imaginavam as cenas e traziam aos leitores um brevíssimo resumo do que ele poderia encontrar nas páginas a seguir.
No século XIX, era em que o avanço científico estava a pleno vapor… literalmente… as pessoas se interessavam mais por coisas fantásticas que a Ciência podia propor do que hoje em dia. Máquinas a vapor, geradores de eletricidade, carruagens sem cavalos, barcos que usavam motores e navegavam se precisar de velas… era um novo e maravilhoso mundo, mesmo quando você se matava (às vezes, em sentido literal) em fábricas, trabalhando até 16 horas por dia.
O alto índice de analfabetismo era absurdo. Ainda bem que no século XXI, analfabetismo jamais chegaria a ser preocupação de novo. Não é mesmo, Brasil? Ainda assim, muitos se esforçavam a ler, ainda que toscamente. Por isso, muitas revistas eram compradas e lidas, como as aventuras da Família Reade,
Frank Sênior, Frank Jr., Frank III e Kate foram descritos por seu biógrafo Luis Senarens como "inventores ilustres de máquinas maravilhosas na linha de vapor e eletricidade." A partir de meados da década de 1870 e continuando por mais de 40 anos, os Reades produziram uma impressionante variedade de invenções, desde aeronaves similares a helicópteros até robôs que puxavam carros.
Só que os Reades eram obra de ficção, e o jovem Frank Reade Jr. era o Johnny Quest da época, algo normal. Toda publicação de aventura sempre contou com algum adolescente no meio dos acontecimentos. Não por acaso Batman tem o Robin e o Capitão América tem o Bucky (estou me referindo às obras originais, não aos filmes, meu caro novato).
Os dispositivos eram construídos em suas oficinas e fundições em Readestown, Pennsylvania, empregando cerca de 1000 pessoas na construção de seus veículos experimentais. Se formos comparar com obras mais recentes, os Reades não eram bem os Vingadores. Eram os Thunderbirds do Resgate Internacional.
As invenções dos Reades incluíam locomotivas elétricas, barcos voadores, trens que andavam na neve, submarinos, canhões elétricos, motocicletas etc. Nada a dever a Júlio Verne. Abaixo, uma galeria com algumas das capas da Frank Reade weekly magazine (as quais você poderá ler no site Smithsonian):
O Steampunk é um gênero que veio de uma época de descobertas e invenções, uma atrás da outra, mas não é só isso. Quando antes as descobertas científicas ficavam restritas a um pequeno grupo de pessoas (intelectuais, ricaços enfadados e curiosos), com a Revolução Industrial as pessoas realmente viam o que a Ciência estava fazendo, o que a Ciência estava dando de presente, como máquinas a vapor cada vez mais eficientes (leia o histórico no artigo sobre Termodinâmica).
Com o advento da Era Atômica, o Átomo virou a bola da vez, mas não com o mesmo charme do steampunk. Nas mãos de Isaac Asimov e seus contemporâneos, a Era Atômica estava presente em nossos lares, mas isso veio e passou. O steampunk ainda é nostálgico, um mundo em que a evolução científica seguiu outro caminho, como numa realidade paralela. Hoje, as histórias envolvendo a Era Atômica não têm o mesmo impacto, pois queremos mais realismo, enquanto steampunk é fantasia.
O século XIX foi uma miríade de invenções e desenvolvimento tecnológico aos "saltos", facilmente percebido pela sociedade, mas ninguém aqui é criança para achar que era um mundo lindo, com cavalheiros, aristocratas, damas de alta sociedade desfilando seus lindos vestidos e artigos exóticos. Os aventureiros eram, sim, exploradores, mas apenas por causa de um jogo de palavras, já que exploravam muito mais que terras distantes, achando que povos que lá moravam eram algo a mais para serem conquistados como o Kilimanjaro. Da mesma forma, a realidade de nossas crises sociais hoje não impede que as pessoas sonhem com milionários combatendo o crime e mulheres misteriosas e heróis destemidos.
O James West de ontem é o James Bond e o Ethan Hunt de hoje, talvez não tão charmosos, mas ainda assim como uma perspectiva que podemos ser, ainda que por alguns bons minutos, capazes de façanhas incríveis com máquinas fantásticas, levando-nos a viajar por vários lugares diferentes, com assombrosas aventuras. Nada muito diferente de Jasão e Ulisses da Antiguidade.
Mas o que nos contentamos mesmo é publicações sobre vampiro que brilha no sol, aventuras para adolescentes que são insossas e cheias de lugares-comum, numa brutal falta de criatividade. Por isso, steampunk sempre fará sucesso, pois requer mais criatividade do que termos dois idiotas digitando num mesmo teclado.
Muito bom, a ficção científica moderna publicada nas revistas Analog Sci-fi, Asimov Sci-fi e até mesmo na Nature são bem mais pé no chão do que as histórias da era de ouro da ficção científica, mas ainda sim algumas histórias são excelentes. Espero que os pais atuais incentivem os filhos a lerem mais ficção e fantasia.
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Homessa, sir! Que tempos eram aqueles, heim?
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Prefiro Robida.
https://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Robida
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Parabéns.
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