O problema nem é chegar na idade adulta. É quando adquirirmos a maestria do cinismo. Eu, de minha parte, já desencanei desse negócio de respeitar as pessoas, principalmente o amor próprio e a dignidade delas. Respeitar necessidades básicas é algo que não existe mais no vocabulário das instituições e colégios não estão excluídos, muitíssimo pelo contrário.

Por causa da crise hídrica (aquela que há uns 20 anos avisaram que ia acontecer), uma escola paulistana determinou que alunos tragam sua própria água de casa, e nada de fazer xixi lá. Nº 2, só o numeral, e na aula de Matemática.

Depois que Sauron se mudou da Terra Média, resolveu formar Mordor 2.0, revisto e ampliado, em São Paulo. O Tietê bem que se parece com os Pântanos Mortos. Com a escassez de água, tem gente que fica tomando conta da vida alheia para saber quem dá mais descarga. Claro, cobrar do Poder Público é algo que não passa pela cabeça dessa gente.

Daí, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Enéas Carvalho de Aguiar, que fica na Zona Norte de São Paulo, ao ter costumeiras faltas de abastecimento de água, pediu que os alunos levassem garrafinhas com água potável e que fizessem seu xixizinho básico em casa. Não sei por que não deram a ideia de usar a garrafa vazia de água como receptáculo para coletar a urina. por que, né?

Além disso, passaram a servir merenda que não precisam ser cozida, como biscoitos ou bolos prontos. Claro, um primor de alimentação, mas pra quem acha que você não tem o direito nem de urinar lá, comer brioches biscoitos é o de menos. Ninguém reclama, ninguém faz nada, ninguém se importa. É deplorável, deprimente e depressivo você ir estudar e não poder ir no banheiro, porque a descarga é feita com baldes de água, quando tem água no balde.

Mas não se preocupem, os deputados estaduais de São Paulo estão trabalhando duro e preocupados com problemas de suma importância ao que lhes concerne. Como dar um aumento de 26% a si mesmos no fim do ano passado. Obviamente, isso deverá se repetir este ano. Mas não se preocupem, está tudo bem, não há crise nenhuma. No máximo, ainda estamos em guerra com a Eurásia.

Fonte: Opera Mundi