Carl Sagan disse que para se fazer uma torta de maçã, era preciso inventar o Universo. Agora, uma pesquisa diz que para se fazer o que você julga ser simples, como uma machadinha de pedra, é preciso um cérebro mais desenvolvido e complexo, o que não é necessário para se usar a Internet, e muito menos para se comentar em blogs.
Pesquisadores analisaram a demanda cognitiva do paleolítico inferior e concluem que os caras não tinham pedras na cabeça.
O dr. Dietrich Stout é professor assistente do Departamento de Arqueologia da Universidade Emory, na Georgia (o estado norte-americano, e não o país). Ele é daqueles caras que vê pessoas mortas… todo o tempo. No caso, ele estuda como se deu o desenvolvimento cognitivo, mediante a fabricação de machadinhas. Sim, eu sei, qualquer pode fazer uma porcaria dessas, mas você já tentou? Digo, DE VERDADE? Você tem que pegar a pedra certa (fuck you, geólogos!), quebrá-la do jeito certo, prendê-la com cipós e um cabo. Vai vendo!
Segundo o bom doutor, a habilidade de fazer um machado de mão pré-histórico é mais complicado e sutil do que muitas pessoas imaginam. Não é apenas um bando de homens-macacos batendo pedra juntos, e isso eu concordo. Meus alunos não conseguem fazer isso, e eles estão muito longe de serem macacos. Macacos são melhores. Teve uma vez, inclusive, em que eu fui até o jardim zoológico para ensinar balanceamento de equações químicas para alguns bonobos e…
Dá pra parar de palhaçada e continuar com a porcaria do artigo?
Tomemos o exemplo da sociedade Acheuliana, uma cultura do Paleolítico Inferior caracterizado pelo feitio de utensílios de pedra há um bocado de tempo atrás, entre 1,5 milhão e 200.000 anos. A feitura do machado de mão acheuliano é mais difícil de dominar, devido ao seu núcleo em forma de lente afinando até bordas simétricas.
Sim, esta lindeza aí não é pra qualquer um. Stout e seus colaboradores queriam evidenciar que a manufatura de algo que parece ser tão simples, mas na verdade muito complexo, demanda de um certo grau de desenvolvimento cognitivo. Caso contrário, veríamos qualquer primata produzindo ferramentas assim.
Como cientista que é cientista AMA trabalhar com cobaias, Stout e seus asseclas recrutaram seis manés, digo, voluntários (todos eles estudantes de arqueologia, que devem ter pensado ser algum trote), para treinar na fabricação de ferramentas de pedra. As habilidades dos indivíduos foram avaliados antes e depois de treinados e colocados pra trabalhar.
No início, meio e final do experimento de 18 meses, os indivíduos foram submetidos a ressonância magnética funcional e tensor de difusão de imagem de seus cérebros enquanto assistiam a vídeos. Os vídeos mostravam núcleos de pedra marcados com sinais coloridos: Um ponto vermelho indicava um ponto de impacto previsto, e uma área branca mostrou o floco previsto para decorrer do impacto. Às cobaias foram as feitas seguintes perguntas:
1) Se o núcleo da rocha for atingido no lugar indicado, o que você vê é uma previsão correta da lasca que seria o resultado?
2) É o lugar indicado para bater o núcleo um correto dado o objetivo da tecnologia?
Os indivíduos tinha que responder ao apertar "sim" ou "não".
Esta chamada função de controle executivo do cérebro, associada com a atividade no córtex pré-frontal, permite projetar o que vai acontecer no futuro e usar essa projeção para orientar sua ação. Em outras palavras, a pessoa tem que criar um constructo mental do que vai fazer, de forma com que faça certo, em outras palavras, a pessoa tem que imaginar a ação, de forma que possa fazer corretamente e não ficar igual a um babaca batendo as porcarias de pedras até sair um transatlântico.
Ou uma machadinha.
A pesquisa foi publicada na Plos One, e mostra um pouco da nossa história e nos dá indícios como nós nos tornamos nós. Aprendemos a fazer ferramentas e a feitura dessas ferramentas demanda um cérebro mais desenvolvido, e este cérebro desenvolvido idealiza outras ferramentas um pouco mais complexas. A evolução das ferramentas e de nossos cérebros se deu conjuntamente. Isso foi até mandarmos o Homem à Lua, inventarmos a Internet, depois o Tumblr e aí podemos a nos comportar como silvícolas pré-históricos.
Ah, sim. Nesse meio tempo, inventamos a barbárie e usamos as ferramentas para mandar nossos coleguinhas pra vala. Nós realmente não aprendemos nada nesses longos milhares de anos…
Fonte: Popular Archaeology
Li (ou assisti em um documentário, não me lembro) que essa capacidade de enxergar as possibilidades e de certa forma realizar um tipo de simulação mental das consequências das ações tomadas foi uma das maiores vantagens evolutivas que os humanos tiveram sobre os outros animais.
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