A Alemanha dos Analfabetos

No sacrossanto recesso e meu lar, leio a notícia compartilhada pelo Avelino, em que uma jornaleira d’O Globo fala dos índices de analfabetismo em adultos na Alemanha. Curiosamente (ok, não é curioso. É de praxe) o teto parece se contradizer às vezes. Ele fala sobre os altíssimos (para padrões da Europa) índices de analfabetismo da Alemanha. Mesmo porque, segundo a autora do artigo, é um país berço de muitos filósofos e escritores. Mostro para ela a taxa de alfabetização da Grécia nos tempos de Sócrates e de hoje?

Bem, estou meio sem ter o que fazer, então, darei uma repassada no artigo. Corta pra mim!

Segundo a professora Urda Thiessen, responsável pela alfabetização para adultos entre 18 e 64 anos de idade, o sistema alemão é ruim porque favorece aos (empregou o artigo errado, jornaleira) melhores e oferece poucas chances aos mais fracos. Sendo assim, quem termina o primeiro ano escolar sem saber ler ou escrever corre o risco de ficar analfabeto para sempre.

Então, deixe-me ver. O garoto não estudou e fiou reprovado na classe de alfabetização. Desde cedo vemos uma competência incrível se formando, não? Porque NA BOA!, se você ficou reprovado na classe de alfabetização, gritem "THIS IS SPARTA!!" e chutem o moleque prum abismo. Se sabem que o sistema alemão é assim, A-Z-A-R! Coloquem o garoto para estudar. E se ele não passou dali, levem no médico, ou levem os pais no médico, que de repente o dr. Josif dá um jeitinho.

Como toda boa pedagoga, tia Urda vem com o lenga-lenga que há o caso de doenças ou crises familiares, ou separação dos pais ou o periquito quebrou o dente. Mas, vamos aceitar essa desculpa. OS pais se separaram e a culpa é do professor, que não se compadeceu – BUÁÁÁÁÁ – da criança. Essa história de pais se separando traumatiza as crianças é carne-de-vaca nas discussões pedagógicas. E os alunos cujos pais estão juntinhos? Ah, porque papai fica fazendo papai-mamãe com mamãe e não dá atenção pro garoto. Ou a miniatura do SS-Panzer dele ficou preso na neve, ou está vazando gás no banheiro.

Tia Urda (imagino a profundidade da "pesquisa" que a jornaleira fez) diz que os analfabetos têm um QI normal ou até mais alto do que a média da população, mas, coitadinhos, eles não têm chance. Eu só queria saber 1) Como o miserável conseguiu fazer teste de QI sendo analfabeto. 2) Desde quando teste de QI agora tem alguma validade científica?

De acordo com os dados do Ministério Federal da Educação e Pesquisa (BMBF), anunciou uma estratégia nacional conjunta de Alfabetização e Educação Básica de Adultos para 2012. O BMBF, então, lançou uma nova iniciativa com verba de 20 milhões de euros (ouviu, MEC?) para serem investidos numa pesquisa (SÓ NA PESQUISA, MEC!) para o período de 2012 a 2015, visando financiar mais de 54 projetos para o desenvolvimento de novas formas de alfabetização e educação básica, a fim de reduzir a percentagem de analfabetos funcionais na Alemanha, a longo prazo.

OUVIU ISSO, MEC???

Cortando pro artigo da jornaleira, um estudo da Universidade de Hamburgo revela que muitas pessoas, hoje analfabetas, um dia chegaram a aprender a ler e a escrever na escola. A falta de leitura seria a causa de elas terem voltado ao analfabetismo.

Isso é muito estranho, mas a jornaleira não colocou o link (seria demais esperar isso, não é?) para o estudo. Só que eu tenho a Joia do DraGoogle. E o artigo está AQUI (em pdf). Aliás, para quem usa Google (1% da população), essa matéria dop Google tem um gosto de salgado árabe, pois tem uma matéria que fala sobre isso no site de notícias alemãs The Local… em 2011!

A matéria é um lixo e resvala para o pollyanismo clássico: o professor é um sádico e o aluninho é um pobre coitado, mesmo o tal de Thomas que faltou muito por motivo de doença. Qual, não foi dito. Deve ter sido unha encravada. Depois corta para um ex-analfabeto que agora é auto de livros infantis.

Corta pra mim!

Ô, sua idiota! Todos nós somos ex-analfabetos. Quer dizer, eu sou um. Você ainda carrega o título original, mas um dia você se alfabetiza.

A questão é aquele velho mote "mimimi professores malvados, aluninhos tristes. Menino Lutero vai chorar". O protecionismo acarretar´´a em resultados piores. Ou podem fazer que nem no Brasil, que inventa mil e uma definições e classes de analfabetismo, de forma a mascarar os números. 10% de analfabetos é altíssimo, claro. Mas, senhora jornaleira, 50% de nossos universitários SÃO analfabetos funcionais. na Alemanha, eles não conseguem avançar. COMO, aqui no Brasil, eles chegam nas Universidades?

O ingresso em universidades nos países de verdade é difícil. Ou você estuda pra cacete (ou se torna excelente numa modalidade esportiva)) e consegue uma bolsa ou precisa de muito dinheiro. Aqui, você precisa ter muito dinheiro ou vai pra uma Federal via PROUNI, ENEM, programa Analfabetismo-Para-Todos e vai pra faculdade. Lá, descerão o nível (u lhe descerão a porrada). Você consegue um canudo, vai para uma pós, mestrado etc. Lá fora não é assim e não adianta fazer despacho para Pai Paulo Freire de Oxossi.

O exemplo da Alemanha mostra que pedagogo é a mesma coisa em qualquer parte do mundo, com seus caminhos floridos e professorzinhos engomados e criancinhas contentes cantando musiquinha do Mágico de Oz. Mas o ponto final é que a culpa é dos pais. Ensinem aos seus filhos o seguinte: "Vocês querem ser UM ou mais um?" ou então acabarão tendo que passar por isso aqui:

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3 comentários em “A Alemanha dos Analfabetos

  1. Sou filho de um caminhoneiro e uma ex-servente de escola.
    Sou de uma época que Internet nem existia.
    Informação? Só indo à uma livraria.
    Passei pelo mesmo sistema de ensino de muitos.
    Mesmo assim, consegui me informar.

    Não consigo entender como alguém, pelo que foi dito na matéria d’O Globo, não consiga se alfabetizar.

    A matéria não se aprofundou nos “problemas” que ela veicula.

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  2. Proponho a Alemanha importar os métodos do MEC com enfase em Paulo Freire, nem precisarão investir tanto. Os gurizinhos de lá chegarão à universidade sem maiores preocupações com alfabetização.

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