Antigas cores de seres do passado

Cores são muito mais que beleza. O conceito de "beleza" é puramente subjetivo. No mundo natural, as coisas são o que são e se for em termos de biologia, não foi pra ser bonitinho, mas alguma utilidade tem. Camaleões não mudam de cores porque é fashion, assim como zebras não estão de pijama, e se você pensa que isso é de agora, está totalmente enganado.

Pesquisadores suecos estudam fósseis de animais marinhos e determinam quais as cores que eles tinham e, melhor ainda, por que eles tinham.

O dr. Johan Lindgren é pesquisador da Universidade de Lund, na Suécia, e não. Ele não é ciclista profissional. Apenas homônimo de um. Lindgren estuda padrões evolutivos de criaturas bem antigas, mais antigas que a sua avó. Para tanto, ele estudou microestruturas dos corpos de vertebrados marinhos, a fim de encontrar algo legal. Bem, parece que ele conseguiu!

Antes, vamos falar brevemente sobre a melanina. Eu já tinha escrito um artigo sobre isso antes (ver O estranho mundo da melanina e seus efeitos), mas vamos a alguns detalhes adicionais. A melanina se divide em duas classes principais: eumelanina e feomelanina. A primeira confere cor acastanhada ou preta e a segunda, cor avermelhada ou amarelada. Assim, uma pessoa de cabelos negros como a noite terá muito mais eumelamina, já os ruivos terão feomelamina e loiros terão muito pouco de ambos.

Tanto um como outro estão presentes na pele, e sua concentração e disposição acarretarão nas diferentes aparências dos seres vivos (você leu o link acima, não leu?).

A razão eumelanina/feomelanina presente não  é apenas um fator determinante da cor dos animais. É um sistema de proteção, já que Indivíduos de pele clara que apresentam baixa razão eumelamina e feomelanina apresentam maior tendência a desenvolver câncer de pele. Basicamente, são uma espécie de filtro solar fator alto-pra-cacete que protege contra raios ultra-violeta.

Lindgren e sua equipe examinaram cores de animais pré-históricos e suas estruturas. Eles descobriram vestígios de melanossomas, estruturas citoplasmáticas que conferem pigmentação. Os animais fossilizados que foram examinados foram uma tartaruga-de-couro, um mosasauro (um parente do crocodilo, mas muito mais malvado) e um ictiossauro, um réptil marinho da foto acima que mais parece um golfinho badass (EU SEI que golfinhos são mamíferos).

Amostras dos fósseis foram digitalizadas, com o auxílio de um microscópio eletrônico. Os pesquisadores identificaram melanossomas longos em forma de salsicha, que normalmente contêm eumelanina, mas não é só isso. Os pesquisadores conseguiram estudar a composição química dos fósseis, utilizando uma técnica que atingiu os espécimes com um feixe focalizado de íons e analisaram todas as moléculas que apareceram, confirmando a presença da eumelanina.

Tá, os bichos eram coloridos. Isso pode não dizer muito, mas não é só o fato de serem coloridos e sim como eram os padrões de cor. A tartaruga de 55 milhões de anos que foi analisada tinha um contorno muito escuro e uma barriga mais clara. Assim como pinguins e algumas espécies de tubarão, este padrão de cor serve para camuflar o animal, escondendo-o de predadores que o olham de cima para baixo e de baixo para cima. Pinguins não têm aparência de traje a rigor à toa, filhos.

A grande quantidade de eumelanina fornece cor escura e, por isso, o animal consegue absorver o calor do Sol mais rapidamente, o que é uma ajuda e tanto, já que répteis não têm sistema termoregulador. Ele não produz seu próprio calor como mamíferos fazem. Assim, estas criaturinhas podem sobreviver em ambientes tropicias e lugares com temperatura ambiente próxima a zero.

No mosassauro de 86 milhões de anos de idade também tinha conformação semelhante. Mas o ictiossauro de 190 milhões de anos, não. Ele era totalmente escuro. O porque disso é bem simples: sendo um animal que vivia predominantemente nas profundezas, cores claras o denunciariam neste ambiente. Assim, sendo totalmente escuro, ele podia se misturar melhor com o ambiente circundante, se tornando mais difícil de ser detectado.  A pesquisa foi publicada na Nature.

O estudo mostra como eram nossos amiguinhos de milhões de anos e elucida um pouco como era seu modo de vida, sua aparência e como se comportava no seu mundo. Uma viagem ao passado que nos faz entender melhor os dias atuais e como os animais evoluíram ao longo do tempo.

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