Estava eu aqui, na paz de Hades, lendo idiotas escrevendo besteira e depois me xingando muito no Twitter enquanto contemplo meus planos de dominação mundial (e checando se meu salário foi depositado), eu recebo dos meus espiões uma notícia deliciosa (é figura de linguagem. Agora eu tenho que ficar explicando isso) do ponto de vista da insanidade ecochata: trio elétrico movido a mijo.
Este é mais um facepalm que eu não resisti de postar logo ao invés de esperar a Sexta Insana.
Tudo começa com um problema: a brutal falta de educação e asseio da população brasileira, que em época de festejos carnavalescos, urinam em tudo que é lugar. Até o meu cachorro sabe que não se pode sair mijando a torto e a direito, mas isso é querer de mais de um bando de silvícolas. Assim, a cidade fica fedida e mal paga, já que a prefeitura tem que mandar a companhia de limpeza urbana (que aqui no Rio é abreviada para Comlurb) para limpar tudo. Resumindo, limpar urina é uma merda.
Então, um JÊNIO ficou pensando a esse respeito e recebeu a iluminação se tornando um bunda, digo, um Buddah: por que não aproveitar os mijões para fazer trioelétrico funcionar? CLAAAAAAAARO! Como ninguém pensou nisso antes? (resp.: porque é uma ideia estúpida.)
Surgiu daí o projeto Xixi Elétrico!
Não, não bebi, fumei, cheirei, injetei ou enfiei em qualquer outro orifício entorpecente algum. Juro que estou careta! Isso foi veiculado pelo TechTudo. A culpa é deles. Ou nem tanto, já que o projeto realmente existe e tem até banner:
A parada funciona assim. Você é um mijão politicamente correto e ecologicamente consciente. Assim, você procurará aliviar sua bexiga inchada pela cerveja e antes de entrar em coma alcoólico entrará num dos muitos mijódromos adaptados por aí (não fui eu quem cunhou o termo) Estes mijódromos-picachu pegarão a sua urina e converterá em energia. Como? Pelo velho princípio das hidrelétricas: Você urina em cima de um dínamo, ele gira e a energia cinética do xixizão será repassada às pás do dínamo e convertido em energia elétrica.
Suponha que você esteja apertadaço, e urine cerca de 600 mL. Vamos supor, para mero efeito matemático, que a densidade do seu xixizão é de 1g/mL e que você demore uns 10 segundos para se aliviar. Como estou no Rio e ele é ao nível do mar (ou embaixo dele quando chove), a aceleração gravitacional será considerada como sendo de 10 m/s². Considerarei a altura do seu… vertedouro até as pás do dínamo como sendo de 1 m.
Com a densidade e o volume, eu determino que a massa do seu xixizão é de 0,6 kg, já que temos que usar o SI, o que é um senhor xixi para carregar na bexiga.
A energia potencial gravitacional é U = m.g.h, que será a mesma energia que a energia cinética quando a urina chegar lá embaixo. Logo, temos: U = 0,6 x 10 x 1 = 6 joules.
Temos que ter em mente que isso é energia, mas temos que estudar a unidade de potência: Pot = U / Δt = 6 /10 = 0,6 J/s = 0,6 W.
E isso sem contar com a carrasca da 2ª Lei da Termodinâmica que diz que não existe nenhum processo 100% eficiente. Poxa, quase que deu para acender uma lâmpada dicroica de 1 W.
O cara deve ter feito piadinha de carnaval e os imbecis levaram a sério. Ninguém em juízo perfeito iria idealizar isso. A não ser que o cara já esteja chapado desde agora e está em ritmo de folia. Por fim, eu fico pensando como o bebum iria acertar o lugar exato para que o dínamo funcione. Quem sabe não inventam uma tecnologia melhor e mais verossímil, como fusão a frio, casca de banana no Mr. Fusion, energia vinda de Alfa-Centauri ou um monte de monge tibetano rezando em volta.
Agradecimentos ao @Cardoso por esta pérola! Espero que ele faça a parte dele neste carnaval.
Quando li o título,achei que era alguma coisa ligada a química da urina.Pensei,poxa,o Brasil resolveu o problema de combustíveis da humanidade em pleno carnaval.Então, continuei lendo,e com a explicacao perfeita do Andre,para o calculo da energia gerada,caí novamente na realidade.Acho que somando todas as perdas mecânicas e elétricas,a eficiência é baixíssima.
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Pensando bem, como o povão não entende nem de física nem de química, o anúncio é um efeito placebo. O cidadão urina no lugar certo, “ganha” mais festa e a cidade fica mais limpa.
Parece adestramento de cachorro e, a julgar como as pessoas se comportam no Carnaval, pode ser que funcione.
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Até parece que vagabundo mijão vai urinar no lugar certo.
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Frescos. Aqui no centro de Sao Paulo os mano soltam torpedos mesmo.
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Eu até pensei na questão da química, mas imaginei que seriam necessárias várias milhares de toneladas de xixi para sustentar uma reação geradora de energia elétrica (após um nada eficiente processo de transformação) capaz de movimentar um trio elétrico por uma noite.
Lembro de um “reality show” muito antigo em que cientistas eram reunidos numa ilha no mediterrâneo e tinham que cumprir missões usando de seu conhecimento. No primeiro episódio eles tiveram que descobrir onde estavam. Desenharam um transferidor rústico num pedaço de madeira e mediram a latitude usando a estrela polar. Depois construiram um pêndulo para marcar as horas enquanto escutavam alguém falar as horas em um rádio improvisado usando uma panela.
Bom, desviei do assunto. Em um dos episódios eles tinham que fazer uma fotografia. Conseguiram prata a partir de um cordão e, para fazer o nitrato de prata usaram vários litros de xixi. O local era meio um acampamento, tipo No Limite, logo nem era muito problema pedir a todos os participantes para fazer xixi em um balde. No fim conseguiram “fotografar” uma chave expondo ela em cima de um papel sob o sol, foi o primeiro teste para o nitrato de prata e o “papel filme”.
Esse caso (do trio elétrico) me lembrou das idéias malucas que a gente tinha na faculdade de Engenharia. Pensamos certa vez em refrigerar um computador usando óleo mineral ou água mesmo (os coolers a água tinha acabado de ser lançados no mercado americano). Para ter uma fonte fria, pensamos em ligar a linha de óleo mineral a um trocador de calor que pré aqueceria a água que usaríamos para fazer café, o combustível mais utilizado na Engenharia.
Calculadas as eficiências do conjunto, perda de calor na linha de cobre, etc., descobrimos que o “output” em joules do processador não era o suficiente para aquecer a água do café. Precisaríamos de muitos computadores sendo refrigerados pelo mesmo sistema e, nesse caso, o output de café seria muito maior que o nosso consumo :-).
Mas nossa idéia não era tão maluca assim: lá fora, não lembro em qual país, eles usam um sistema parecido para aquecer uma piscina.
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@Magno, Ô Magno, lembra o nome do “reality”? Pois eu adorava ver aquela bagaça.
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@BlackPardal,
Não era o “Ciência nua e crua” era?
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Jesus, Maria e José! Para a época desses publicitários acho que havia aulas de Física no colégio! A idéia é tão idiota que chega a ser um insulto. Chega Brasil :/ chega!
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André, acho que faltou um termo na equação de energia pois o xixi não sai do vertedouro com Vinicial = 0.
Não seria o caso de adicionar uma Energia cinética inicial para realizar esse cálculo?
Talvez até seja possível acender a lâmpada de 1W.
Se o sujeito, a despeito das orientações médicas, ainda der uma segurada antes, vai sair um jato superenergético de xixi!
Discutindo a energia do xixi ;-)
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Energia cinética quando a velocidade é zero? Vc foi reprovado em Física, né?
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@André, releia meu comentário, por gentileza.
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Erro meu. Vc, de fato, disse que o xixi não sai de “lá” com V=0. O que ainda diz que vc não sabe Física. Não existe nenhum corpo que começou sua existência com V diferente de zero.
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Eu não disse que o corpo inicia sua existência com V diferente de zero.
Disse que ao chegar no vertedouro sua V é diferente de zero e ele possui energia cinética.
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NÃO! Sério que ele chega até o ponto com energia cinética? Rapaz! Pena que você não leu que a energia cinética FINAL é igual à energia potencial gravitacional inicial.
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NÃO! A energia cinética final é a energia potencial gravitacional inicial MAIS a energia cinética na saída do vertedouro!
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O mijo começa a sair vertedouro com velocidade zero. Puta merda, não tem colégio onde vc mora?
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Ok, podemos ser mais claros? O que, neste caso, você chama de vertedouro?
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Bexiga. Conheces, tu?
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Conheço. Você acha, então, que da bexiga até o dínamo só a gravidade atua? Se isso fosse verdade, (e não é) não seria possível que a urina ultrapassasse a altura da bexiga, o que, de fato pode acontecer. O xixi é impulsionado.
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Coloca um velocímetro e meça, então.
(Sexta-feira é dia dos trolls, pelo visto.)
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@brunolsn, Nao tenho duvidas que a velocidade de saída é zero,mas nao sei se nesse caso deve-se aplicar o principio de Bernoulli,onde ocorre uma redução da pressão,com consequente aumento da velocidade.
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E fará diferença pelo que eu quis demonstrar?
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Andre,nao fará diferença pelo que você quer demonstrar.Só estava tentando recordar a formula que aprendi ha muito tempo quando fiz a matéria de dinâmica dos fluidos,no curso de engenharia.
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