O “DNA” veio do espaço

Pronto, agora um bando de toscos já acham que somos alienígenas e teremos reedições de besteiras como "Eram os Deuses Astronautas?", do Daniken. A mídia adora um sensacionalismo, já que conseguem ver nada de muito sensacional nas notícias. Com isso, quando os pesquisadores do Goddard Space Flight Center, na NASA, publicaram uma pesquisa onde afirmam terem encontrado vestígios de moléculas que servem de base para o DNA em alguns meteoritos, a conclusão da mídia é que a vida se originou no espaço e, portanto, somos todos aliens, sem a graça de chegar perto da Sigourney Weaver. Mas o que foi encontrado mesmo?

O Goddard Space Flight Center (GSFC) é um laboratório de pesquisas espaciais, que recebeu este nome em homenagem a Robert Hutchings Goddard, o pioneiro da propulsão de foguetes moderna nos Estados Unidos. Este é um dos principais centros de pesquisa subsidiados pela NASA, onde ajudam a desenvolver boa parte das traquitanas para exploração do Espaço.

Os cientistas do GSFC, no uso de suas atribuições, estavam estudando amostras de  12 meteoritos ricos em carbono, nove dos quais foram recuperados da Antártida, quando descobriram a presença de duas substâncias químicas: adenina e guanina. O que estas substâncias têm de tão especial? Pouca coisa. Junto com a timina e citosina, estas duas coisinhas sem muita importância se unem para formar a estrutura do DNA. Não, Folha, não foi encontrada a ESTRUTURA do DNA e muito menos abre uma brecha para que uma molécula de DNA completa venha na classe econômica num meteorito e caia aqui na Terra. Estudem sobre desnaturação de proteínas e saberão o porquê.

Além do mais, O Globo, alien é a senhora sua mãe. Aproveite e estudem um pouquinho, senhores jornaleiros. Dizer que purina e aminopurina são "moléculas relacionadas a nucleotídeos" me faz sentir vergonha do que vocês andam espalhando ai. A Adenina e a Guanina são purinas, e daí? Glicerina é um álcool da mesma maneira que o etanol também é. Veja se um tem algo a ver com o outro, ou experimente colocar glicerina no tanque de combustível e veja o que acontece com o motor, ora!

Qual o problema, então? O problema, do ponto de vista químico, é… nenhum! Foram encontrados vestígios de adenina, guanina, a 2,6-diaminopurina, a 6,8-diaminopurina entre outras coisas. Purina é um grupo de substâncias, uma espécie de subdivisão das bases nitrogenadas (ganha um doce quem souber o elemento principal desta base). Sendo assim, todos os compostos com estrutura semelhante são purinas, mas não necessariamente resguardam alguma "relação", seja lá o que o jornaleiro quis dizer com isso.

Então, o que está acontecendo, o que a pesquisa está apontando e o que isso implica no aparecimento da vida na Terra?

Vamos por partes. Os pesquisadores do GSFC estudaram se os compostos orgânicos encontrados no meteoritos pararam lá por alguma contaminação depois que os mesmos caíram na Terra. Para tanto, eles estudaram as cercanias de onde os meteoritos analisados foram encontrados. As quantidades de nucleobases encontradas no gelo eram muito mais baixas do que nos meteoritos. Mais significativamente, nenhuma das bases nitrogenadas análogas à adenina e à guanina foram detectados na amostra de gelo. A equipe também analisou uma amostra de solo coletadas perto de um local do meteorito. Tal como acontece com a amostra de gelo, a amostra de solo não tinha nenhuma das moléculas supracitadas, mas que estavam presentes no meteorito. A conclusão óbvia é que elas vieram COM os meteoritos.

Isso significa que estruturas de DNA possam ter vindo do Espaço? Eu duvido muito, pois as condições físicas da entrada de corpos celestes na atmosfera faria com que as "ridículas"  ligações que propiciam a vasta cadeia do DNA se rompessem. Você pode ver um simples caso de desnaturação de proteína quando coloca ovo pra fritar ou algumas gotas de suco de limão no leite. Para mim (sim, é uma opinião pessoal) a hipótese da panspermia não se sustenta.

Em nenhum momento os cientistas disseram que a vida se originou no Espaço, mas o que a pesquisa sugere tem muita importância e deixará muita gente ressabiada. Se temos nucleotídeos formados num pedaço de pedra vagando pelo Espaço — e podemos obter tais substâncias por vias não-biológicas — então, o trololó que a vida é complexa demais para ser formada aqui se enfraquece. Mesmo porque, o DNA é tão somente uma substância química que surgiu pela combinação de outras substâncias. è, portanto, óbvio que ele poderá ser formado em outros planetas, desde que encontre um sistema que possibilite isso, o que não é difícil de imaginar, se levarmos em conta os bilhões de sistemas solares que existem em nossa galáxia. Extrapolar isso para as bilhões de galáxias existentes é massacre desnecessário e eu não faria isso ao meu pior inimigo (mentira, faria sim!).

A Química é invariável em suas leis em qualquer ponto do Universo. Ácido + Base  = Sal + Água. Da mesma forma, todas as reações químicas que formam a guanina, citosina, adenina, timina, ácido sulfúrico, cloreto de sódio ou simplesmente água serão as mesmas, seja aqui ou na galáxia M31.

A Terra foi capaz de permitir o aparecimento da vida de maneira rápida (assim como "rapidamente" muitas das espécies vivas foram extintas). O fato de ter um atmosfera densa e gravidade adequada ajudou. Não que a Terra tenha sido criada assim. Algum planeta teria que ter as condições para que a vida surgisse, e mesmo assim eram formas de vida totalmente diferentes das que conhecemos hoje. Se não tivesse aparecido os primeiros micro-organismos fotossintetizantes, muito provavelmente nós não estaríamos aqui.

Abaixo, vocês poderão ver um vídeo gravado pelos próprios pesquisadores.


Fonte:  GSFC

41 comentários em “O “DNA” veio do espaço

    1. @Nihil Lemos, Eu trabalho no setor elétrico brasileiro. O que eu vejo de bobagens nos jornais… Jornalistas me dão a impressão de não ter tempo de entender algo a fundo antes de falar, mas sim de soltar a noticia logo, antes que outro jornal faça isso…

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  1. Bom, uma pergunta me vem a cabeça: já que uma estrutura de DNA completa seria quase impossível ter vindo do espaço, isso não poderia indicar uma “contribuição” de uns 50% para o desenvolvimento da vida aqui na terra?

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    1. Sim, mas isso quer dizer pouca coisa. Água veio de cometas, hidrogênio, ferro, carbono etc vieram de explosões solares etc. Se formos pensar assim, então tudo aqui é de origem extra-terrestre (ou quase).

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      1. @André, Bom, a própria terra é extraterrestre. Existe alguma maneira de se determinar que a origem algo é, exclusivamente, terrestre? A água é extraterrestre e temos água no corpo.

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        1. A maior parte do oxigênio foi produzido por algas azuis. Dióxido de carbono e metano são expelidos às toneladas pelos vulcões. E não esqueça dos minerais radioativos.

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          1. @André, Mas podemos afirmar que esses elementos são “propriedades intelectuais” da terra? Esta descoberta pode não ser suficiente para sustentar a panspermia, mas é um ponto positivo a favor desta. Em tempo: eu não aposto em homenzinhos verdes! :mrgreen:

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          2. Mas podemos afirmar que esses elementos são “propriedades intelectuais” da terra?

            Vc não espera sinceramente, que haja elementos químicos na Terra que não existem em nenhum lugar da galáxia, né?

            Esta descoberta pode não ser suficiente para sustentar a panspermia, mas é um ponto positivo a favor desta.

            Por que as pessoas não prestam atenção no que eu escrevo?

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  2. Numa mensagem anterior eu perguntei se existe uma existe alguma maneira de se determinar que a origem de algo é, exclusivamente, terrestre. Não afirmei que esperava alguma coisa.

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  3. Sobre a panspermia, de acordo como que você mesmo disse:
    Para mim (sim, é uma opinião pessoal) a hipótese da panspermia não se sustenta.
    Tudo bem, mas sua opnião pessoal não é fato científico.
    Na minha opnião, que tambem não é fato científico, a panspermia pode não se sustentar, mas vamos desconsidera-la?

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      1. @André, Eu li a parte do ovo sim, mas talvez você esteja considerando que as estrutura do DNA visse viajando pelo universo na superfície de algum corpo celeste qualquer e assim, seria destruida na entrada da atmosfera. Mas e se ela viesse dentro do corpo sendo este formado pela aglutinação de outros corpos celestes que estivessem a toa pelo espaço? O DNA estaria protegido e, talvez assim, pudesse chegar até o solo terrestre sem sofrer tantos males ou ainda em condições de se recuperar após o eventual choque com o solo. Eu não quero deixar a impressão de que estou defendendo a panspermia, até porque, pra mim, tanto faz que a vida tenha origem no espaço ou numa poça de lama. Eu só estou considerando a possibilidade.

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          1. @André, Meteorito? Neste caso, não daria certo. Não haveria a possibilidade de um meteoro ser grande o suficiente para atingir o mar, espatifando-se com o choque no fundo deste antes de cozinhar seu interior? Já seria o suficiente para que o DNA se mantivesse intacto e também resolveria o problema da liberação do mesmo na agua. Bom, é uma mera especulação haja vista que não temos evidências suficiente para suportar isso e nem mesmo que a origem da vida seja algo exclusivamente terrestre. Eu não sei se você concorda, mas eu acho interessante considerar possibilidades e não apenas se limitar ao fato de que se não há evidências suficientes simplesmente, ignoramos. Veja que lá no trecho que fala do ovo, você responde a sua pergunta com um “eu duvido” e não com um “eu tenho certeza”.

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          2. Primeiro: Seguda lei de Newton.
            Segundo: Energia Cinética
            Terceiro: Calor específico de meteoritos que e compõem basicamente de ferro e níquel.

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  4. A primeira coisa que sempre argumento, quando trata-se da panspermia, é exatamente isso: como driblar o superaquecimento que qualquer objeto sofre ao entrar na atmosfera terrestre. E você foi feliz em usar o exemplo do ovo, onde bastam alguns 100 graus para alterar a estrutura da molécula.
    Na verdade, a ideia adotada pelo senso comum (inclusive jornalistas) de vida vinda do espaço é muito mais interessante, mais chique, mais saborosa, do que admitir que viemos “daquela pocinha ali no começo da rua”. Subverte, inclusive, as premissas da navalha de Occan.

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    1. @Alexandre Aguiar, Concordo com você.
      Idéias “fantásticas” vendem mais do que idéias “realistas”.
      Não que eu duvide de que a panspermia possa ter alguma validade, mas a essa proposta ainda tem que “comer muito arroz com feijão” para se tornar aceitável.

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      1. @skin, pois é, o texto do André deixa bem claro, pra quem tem olhos para ler, que estas moléculas estão espalhadas pelo Universo. Achar que a Terra primordial seria um ambiente extremamente estéril, sem molécula alguma cuja interação resultasse em estruturas mais complexas, é copular com a nossa paciência.
        Por isso, a parcimônia.

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      2. @skin,
        “Idéias “fantásticas” vendem mais do que idéias “realistas”.”

        Pq ideia realistas precisam ter alguma base racional, lógica e científica… Já o fantástico é acessível para qualquer pessoa.

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  5. Concordo plenamente que o espaço deu uma ajuda fornecendo matéria prima(adenina,guanina,etc…)mas aposto minhas fichas na origem terrestre da vida,afinal ela terá que surgir em algum lugar e as condições por aqui foram as ideais.

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    1. @Altair5, Aposta? Continua no dominio das possibilidades. Eu quero ver é um “eu tenho certeza”. Será que só a terra, em todo o universo, é a única que possue as condições ideiais?

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      1. Diga sinceramente: Vc quer ser chamado de burro, né? Não importa que a vida tenha surgido em Andrômeda, é impossível DNA se manter intacto nas condições adversas de um meteorito caindo na Terra.

        Se vc ainda não entendeu isso, favor me dar uma demonstração físico-química dessa possibilidade.

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      2. @Deimos, Amigão, acho que você entendeu errado o que disseram aqui.
        Ninguém aqui está discutindo se existe vida (ou condições para a vida) fora do planeta Terra, o que está sendo discutido é a possibilidade da vida na Terra ter origem fora dela. ;-)
        Acho que dificilmente os elementos da vida na Terra poderiam suportar a “viagem” até aqui.

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      3. @Deimos, Até onde conhecemos física e quimica, é impossivel que uma adenina tenha feito entrada pela atmosfera em um meteorito.

        Perceba o uso de “até onde conhecemos física e quimica” na frase. O mundo oferece um espaço para possibilidades que não conhecemos ainda, portanto usar um “eu tenho certeza” neste caso é deselegante.

        Estou muito errado Andre?

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        1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Adenina

          Dá uma olhada no ponto de fusão e de ebulição. Os cientistas podem até dizer que encontraram traços de adenina ou outros nucleotideos, mas eu duvido que isso tenha vindo em quantidades suficientes para combinações químicas.

          As pessoas pensam que os meteoros se materializaram aqui como por encanto.

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          1. @André, “até onde conhecemos física e quimica”, “eu duvido”, “aposto minhas fichas” são considerações sensatas que me dizem que o conhecimento vai até determinado ponto e que as posições são passiveis de revisão caso o conhecimento seja revisto.

            O que o @Deimos parece querer é uma certeza que ninguem com bom senso tem…

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  6. Virou mania entre os jornalistas pegar bobagem e jogar no ventilador antes de escrever qualquer texto? Acho certo que não haja diploma para jornalismo, porém deveria ser este trocado por um diploma de ciências exatas e biológicas… Parece que nenhum jornalista lembra-se da escola (é que tive amigos que fizeram jornalismo e custo muito a acreditar que eles possam escrever textos tão errôneos como este sendo que tivemos a mesma educação).

    A reportagem original é tão bizarra que justifica os comentários no site d’O Globo.

    Obrigada, André, por disponibilizar o link correto de tal estudo :/

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  7. Bem lembrado, logo mais vem o besteirol de deuses astronautas todo outra vez (bem da verdade nunca foi embora e ainda vende um bocado).

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  8. Tem um livro do Fred Hoyle chamado “O Universo Inteligente” em que ele defende a panspermia e tenta analisar as condições em que material biológico poderia “sobreviver à entrada na atmosfera”. Faz muito que li o livro, mas me parece que as considerações eram quanto ao ângulo de entrada e tamanho dos corpos.

    Era um livro de divulgação cientíca, portanto sem nenhuma demonstração matemática. Mas, provavelmente, o autor deve possui algum trabalho com os cálculos que reforçariam sua teoria e teriam um grande valor nesta discusão.

    Por outro lado, existia muita coisa suspeita no livro. Se não me falha a memória, ele defendia o modelo de universo estacionário, sugeria que a vida não podia ser fruto de “acaso” – citava até a analogia do furacão no ferro-velho montando um boeing. Ele também usou, como exemplo, um parasita que tem estágios nos caracois e humanos sugerindo que estas relações intricadas implicavam “algo mais” na origem dos seres vivos.

    Quanto a síntese de elementos em estrelas e supernovas, parece que ele acertou.

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  9. A pouco tempo foi divulgado que algumas pesquisas sugeriam que o petróleo poderia ter uma origem abiótica. Para mim – e para algumas pessoas que não acreditaram quando comentei isto – era bem difícil acreditar que condições de temperaturas e pressões extremas poderiam criar moléculas complexas como as existentes no petróleo.

    Então, em relação a vida, moléculas complexas poderiam ter se originado em codições extremas do universo – e em grande quantidade – e na entrada na atmosfera terrestre não seriam destruídas, apenas teriam a estrutura modificada? Assim, pode ter existido uma “molécula replicante” que poderia suportar temperaturas extremas ao entrar na atmosfera e depois dar origem a outras moléculas “mais sensiveis”.

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  10. Talvez não seja o que andam ensinando nas escolas, mas como andam ensinando. Desconfio que quase ninguém abandone algumas noções intuitivas da realidade depois de se passar pela escola.

    Intuitivamente tendemos a acreditar que muito calor e/ou pressão tende a fazer as coisas se tornarem menos organizadas: o fogo consome e a pressão faz estilhaçar ou esmaga as coisas.

    Ensinam: em condições extremas de temperatura e pressão pode-se criar um diamante (estrutura muito organizada). Mas, não ensinam como.

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