Revista americana mostra caricatura de Obama como terrorista

Para quem está acostumado com fóruns de discussão (na verdade, o plural devia ser fora, posto que forum é uma palavra latina; mas deixemos os preciosismos de lado) a sigla FUD não é estranha. E não, não tem nada a ver com sacanagem (pelo menos não no sentido que você está pensando, seu pervertido). FUD é abreviação de Fear, Uncertainty and Deception (Medo, Incerteza e Dúvida), e é muito aplicado por marketeiros para impor fatos pouco verdadeiros (ou mentiras da grossa mesmo).

Os EUA são mestres no FUD e o Macartismo foi um belo exemplo disso. E agora, o mais novo ataque de FUD é com relação a Barack Obama, o primeiro candidato negro à Presidência dos Estados Unidos da América.

A influente revista americana “New Yorker” está causando polêmica mesmo antes de chegar às bancas. A edição que será distribuída no dia 21 traz na capa uma caricatura do provável candidato democrata Barack Obama com um turbante e uma roupa tipicamente árabe, cumprimentando sua mulher, Michelle, vestida com uma roupa militar e carregando uma arma. A expressão dela, com cabelo Black Power e o cumprimento dos Panteras Negras, grupo ativista anti-racismo dos EUA, dá uma sensação de que ambos estão tramando destruir o modo de vida da nação que mais se preocupa com a liberdade e democracia (favor ligarem o Sensor de Sarcasmo, como diz o Carlos Cardoso).

A charge da New Yorker (revista conhecida por seus artigos críticos e sátiras) mostra Obama de sandálias, com uma roupa tradicional e um turbante, vestes semelhantes às usadas pelo senador durante uma visita ao Quênia, em 2006, em fotos que causaram polêmica ao serem divulgadas no início do ano, durante a disputa das primárias eleitorais. A revista também desenhou Obama e Michelle usa botas – com roupas camufladas e empunhando um rifle automático – à frente de uma lareira onde queima uma bandeira americana (qualquer semelhança com o que o pessoal do Irã faz, não é tão mera coincidência assim), fazendo o mesmo gesto que fizeram quando o democrata garantiu a nomeação partidária. Obama, questionado neste domingo (13/07) sobre a publicação, foi cauteloso ao dizer apenas “não tenho resposta para isso”.

Segundo alegações, a charge teria o objetivo de satirizar a maneira como os críticos de direita vêm tentando retratar Obama e a política de medo que eles estariam colocando em prática, com direito a campanhas anônimas para tentar disseminar o boato de que o senador é muçulmano, apesar de ele ser cristão, mas sua família é de origem muçulmana.

Obama enfrentou boatos anteriores de que seria também um muçulmano, religião que muitos americanos associam negativamente ao extremismo (obviamente, esquecem os Jesus Camp da vida). Os boatos foram reforçados com a divulgação de uma foto na qual Obama aparece com trajes típicos em visita ao Quênia, onde sua família paterna mora. Só que Obama converteu-se, já adulto, ao cristianismo e é membro da Igreja Batista da Trindade Unida em Cristo, em Chicago. Sua equipe acusou a campanha de Hillary, sua rival à época, pela divulgação da foto. Assim caminha a doce atuação dos políticos no mundo todo. Acho até que o bordão “Meu nome é OBAMA” cairia bem, não acham? ;-)

A campanha de Obama disse estar ciente do tom crítico e satírico que a revista tentou usar, mas afirmou acreditar que a publicação errou no tom.

“Talvez a New Yorker tenha julgado, como um de seus funcionários nos explicou, que a capa deles seja uma sátira ao retrato ridículo que alguns críticos de direita tentaram criar para o senador Obama, mas a maior parte dos leitores irá julgar a capa de mau gosto e ofensiva. E nós concordamos”, afirmou o porta-voz da campanha de Obama, Bill Burton.

O desenho ilustra um artigo intitulado “A Política do Medo” (lembram do que eu falei sobre FUD?). De acordo com a revista, a ilustração retrata “uma série de imagens absurdas ligadas ao casal Obama e mostra as óbvias distorções que elas representam”. O comunicado divulgado pela publicação acrescenta: “A bandeira em chamas, as roupas islâmicas e nacionalistas radicais, a saudação com os punhos, o retrato na parede, todas são referências a diferentes ataques (sofridos por Obama).”

“Sátira faz parte do que fazemos, e a intenção é dar luz a estes temas, colocar um espelho em frente ao preconceito, ao odioso, ao absurdo. E este é o espírito da capa”, completa o texto. A New Yorker é uma das mais conceituadas publicações jornalísticas americanas e sua orientação política é predominantemente de centro-esquerda.

Algumas das imagens mostradas na ilustração de fato foram exploradas, por vezes até de formas risíveis, pela mídia conservadora americana. Devemos lembrar que para ser “alguém” naquele paisinho de fofoqueiros, que metem o bedelho na política interna de todos os países, o sujeito tem que ser um WASP (White, Anglo-Saxon Protestante, isto é, um Branco Anglo-Saxão e Protestante). Tendo suas origens em outra etnia (falar “raça” é biologicamente errado, posto que brancos e negros fazem parte da mesma raça humana), como cor de pele diferente e religião diferente (mesmo Obama ter se convertido mais tarde), o preconceito no país que serviu de berço para uma aberração chamada Ku Klux Kan ainda atinge qualquer um que queira ter maior proeminência. Obama é filho de uma americana agnóstica com um queniano islâmico que, por sinal, este se tornou ateu. hehehe. Ou seja, ser negro, filho de um agnóstico com um ateu (antes era muçulmano) não faz muito sucesso no lugar lindo onde a democracia reina (Demon Cracia poderia ser o governo do diabo, né?).

Comentaristas da rede de televisão Fox News chegaram a indagar se o cumprimento feito por Obama a sua mulher Michelle, durante um comício, no qual os dois tocaram seus punhos cerrados, poderia ser uma “saudação terrorista”. E, é claro, se ele fecha-se a mão e espetasse o polegar e o dedo mínimo, numa autêntica saudação hang loose evidenciaria que ele era surfista e clarearia os cabelos com parafina. Que tal isso?

Ativistas pró-Obama deram o troco ao colocar no site YouTube saudações semelhantes feitas pelo senador Joseph Lieberman, da ala conservadora do Partido Democrata e que apóia o republicano John McCain. No vídeo, Lieberman é visto saudando um colega com o punho cerrado, seguido de um letreiro: “Joe Liberman – Terrorista”. (no momento não tenho como colocar este vídeo. Assim que puder, eu coloco)

Uma pesquisa divulgada há poucos meses pelo instituto de pesquisas Pew Research Center apontou que 10% dos americanos acreditam que Obama seja muçulmano.; e a pesquisa mais recente do canal NBC News e do jornal “Wall Street Journal” aponta que Obama tem 47% das intenções de voto contra 41% do republicano John McCain. A coisa tá feia pros WASPs, mas eles devem reagir de alguma forma. Lembremos que Kennedy era um WASP ¹ acabou com um tiro na cabeça…

No começo de sua campanha, Obama brincava freqüentemente que o povo não se lembrava de seu nome. A própria rede de TV norte-americana CNN teve de fazer uma correção após confundir o nome do senador com o do terrorista de origem saudita Osama bin Laden, líder da rede Al Qaeda. Chamá-lo de “Barack Osama”, no entanto, não foi um engano cometido exclusivamente pela rede de TV. Outros políticos, principalmente da oposição, já erraram seu sobrenome algumas vezes.

Sua ascensão na corrida democrata deve-se muito às suas promessas de mudanças e o fato de não estar associado — como Hillary Clinton — ao que chama de “velha política” de Washington.

Mas o argumento da inexperiência será, como apontam os analistas, o maior argumento da campanha republicana para atacar sua candidatura. McCain, aliás, já declarou inúmeras vezes que Obama não está preparado para governar os EUA e que fala de política externa sem ter experiência no assunto.

¹ Realmente, o nosso amigo Humberto está certo. Kennedy era de uma tradicional família Irlandesa e foi o primeiro presidente católico romano dos Estados Unidos, segundo a própria Casa Branca. Ceticismo, Ciência e Tencnologia sempre admite seus erros, pois procuramos oferecer informação de qualidade. Valeu, pessoal.


Fontes diversas

6 comentários em “Revista americana mostra caricatura de Obama como terrorista

  1. Hummmm, será por isso que ele foi morto? —

    Se os religiosos cristãos americanos fossem um pouco mais fanáticos (e tolos, e inconseqüentes) do que já são, eu não teria tantas dúvidas disso. Falta muito, realmente muito pouco, para que isso não seja claramente visível.

    Curtir

Deixar mensagem para André Cancelar resposta