
A última decisão do STF diz respeito a professores e o tempo que, supostamente, seria o intervalo entre as aulas, mais conhecida como “recreio”. Segundo a decisão, o recreio integra jornada de professores, ou seja, o tempo que professor fica no recreio tomando conta de aluno vai ser considerado hora trabalhada e, portanto, remunerada.
O caso chegou ao STF por meio de um recurso protocolado pela Associação Brasileira das Mantenedoras de Faculdades. A entidade questiona decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST) sobre a questão. E aqui começa o artigo, quando as pessoas não tem a menor ideia do que é a jornada de professores.
Eu postei isso no Twitter ontem. E o que se seguiu foi o total assombro das pessoas.
STF diz que recreio integra jornada de professores. Ou seja, o tempo que professor fica no recreio tomando conta de aluno vai ser considerado hora trabalhada e, portanto, remuneradahttps://t.co/6VHq3GtYMr
— Ceticismo.net (@ceticismo) November 14, 2025
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“Como assim não era?”
“Ain, a hora do professor tem 50 minutos”
“Não porque a CLT diz que a jornada de 8 horas…”
As pessoas realmente não entendem que professor de um modo geral não cumpre jornada de 8 horas ou qualquer jornada; não que não tenha professores que não tenham, mas isso depende. Alguns professores (ok, professoras, já que a maioria são mulheres, mas isso nunca é discutido pelo pessoal que quer igualdade de gêneros nas profissões) de Fundamental 1 tem a jornada o dia inteiro, simplesmente porque ficam numa única turma . No máximo, uma turma de manhã e outra à tarde, e isso mais no caso de Primeiro, Segundo e Terceiro anos (do Fundamental). Mesma coisa professoras de Educação Infantil, então, o salário é fixo
Na larga maioria dos casos, os professores dão aula em diferentes turmas, em diferentes horários, e o cálculo é a hora-aula. Quanto mais aulas ele/ela der, recebe mais no final do mês. Em compensação, se o colégio não tiver boa quantidade de alunos, ele não abre outras turmas, o professor, então, receberá menos.
Alguns professores dão muito poucas aulas em determinados colégios (como apenas duas turmas, por exemplo), mas isso porque é interessante pra ele por ser perto de casa ou “caminho” para sair de casa e ir para outro colégio no qual ele terá mais turmas. O professor ganhará apenas essas horas e nada mais. Tem os adicionais e descanso remunerado, porque o legislador entendeu que professor é fodido e trabalha em casa fazendo planejamento, corrigindo insanidades, fazendo diário, relatório etc. Não dá para mensurar quanto tempo se gasta nisso (muito!), então manda o 1/6 a mais (o sexto dia, que seria o sábado de Sol, sem sair de caminhão).
O que as pessoas não estão entendendo e estão misturando as estações com a famigerada hora de almoço, é que o recreio não é hora de almoço. A questão do STF é que alguns colégios toscos entendem que a hora do recreio é PRO ALUNO, e o professor tem que ficar no pátio, tomando conta dos remelentos enquanto eles tocam o terror. Assim, o professor está agindo como educador, logo, está trabalhando, então, tem que receber por este tempo.
Sacaram o argumento que empresas com jornada de 6 horas e acima são obrigadas por lei a darem um mínimo de 1 hora de almoço, que não é pago, mas não é assim que a banda toca.
O período previsto pela CLT é de 6,7, 8 etc horas MAIS uma hora de almoço. Você efetivamente trabalhou as 6, 7, 8 horas. Por isso que o turno que começa às 8 termina às 17 (8 horas de trabalho mais 1 hora de almoço). Empresas que têm 3 turnos de 8 horas fecham acordos para oferecerem 30 minutos, mas não é o que diz a CLT.
A pessoa aceita trabalhar neste sistema porque precisa trabalhar. O acordo é feito com quem não está lá trabalhando, já que sindicalista não trabalha. O intervalo de 15 minutos, caso a jornada de trabalho seja superior a 4 horas e não superior a 6 horas está computado junto porque a base de cálculo é hora e não minutos.
É o mesmo que você sair para ir ao banheiro, e quem trabalha com telemarketing tem hora prevista para sair do posto e ir ao banheiro, independente de quanto tempo trabalhe, o que não é previsto na CLT e todo mundo faz vista grossa. Quer mijar? Segura aí.
Só que professor tem base de cálculo hora-aula, o período que ele estaria com os alunos, fora os adicionais. Se o professor dá dois tempos (ou aulas, como costumam chamar em alguns lugares), fica com uma janela de 50 minutos e vai dar mais 2 tempos depois, ele recebe pelos 4 tempos apenas. Em síntese, ele não está trabalhando, e nem era para estar. Se ele ficar na sala dos professores acessando Twitter ou vendo vídeo no XVídeos, é problema dele.
De novo, a resolução leva em conta que o professor que está tomando conta de aluno durante o recreio implica que ele está exercendo o papel de educador, logo, ele ESTÁ trabalhando, logo, ele TEM que receber pelo tempo. Mas e se ele não estiver? Bem, a escola que tem que provar que ele NÃO ESTÁ agindo como educador durante o recreio, cuidando da própria vida e de seus problemas particulares. Mas muitos colégios, para não contratar inspetores de pátio ou qualquer outro funcionário, coloca o puto do professor para ficar tomando conta dos alunos. Não importa se o recreio durar 10 minutos ou 4 horas. Se você está tomando conta de aluno, você está trabalhando.
As pessoas levam em conta seu mundinho mágico “eu nunca vi isso acontecer” e eu nunca vi um ornitorrinco. Ornitorrincos não existem?
“Ah, mas e os professores que ficam na sala dos professores sem fazer nada?”
A escola usa câmera, mostra pro Ministério do Trabalho e pronto, taí a prova. Simples, não?
Agora, eu quero ver as inúmeras mostras culturais e apresentações que professores tem que participar fora do horário contratado e não recebe por isso.
Mas claro, vocês não veem isso. Sequer sabem o que o filho de vocês estão fazendo no quarto quando deveriam estar estudando.
Fonte: Agência Brasil
PS. Qualquer dia eu explico que o recesso de meio do ano não está na lei e que se o colégio quiser, professor tem que ir.

Eu instintivamente não quis fazer licenciatura quando estava me formando na faculdade porque eu não queria dar aula. Eu sou só bacharel. Eu digo instintivamente porque só agora eu me toquei da palhaçada que é a remuneração. Aff.
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