Camaleão quase vira guerrilheiro e depõe Governo do Zâmbia

Hoje acordei com uma pergunta existencial martelando na cabeça: será que existe um curso de “Como Ser Assassino Profissional 101” em algum lugar do mundo? Porque se existe, dois sujeitos na Zâmbia definitivamente faltaram às aulas. Ou foram reprovados. Ou o professor desistiu da humanidade no meio do semestre.

Dois idiotas, que não estavam sentados cada qual num barril, decidiram que a melhor forma de eliminar um presidente seria através de… bruxaria. Coisa normal em republiquetas.

Hakainde Hichilema, carinhosamente conhecido como “HH” (porque aparentemente até presidentes africanos precisam de apelidos de rapper), é um empresário que virou político e conseguiu chegar à presidência da Zâmbia na sexta tentativa – sim, SEXTA! – provando que persistência às vezes compensa, mesmo quando todo mundo já estava cansado de ver sua cara nas urnas. O homem tem uma obsessão quase patológica por campanhas eleitorais, tendo concorrido em 2006, 2008, 2015, 2016, 2021, até que finalmente os zambianos pensaram: “Ah, deixa o cara governar logo, pelo menos assim ele para de nos incomodar de cinco em cinco anos”.

Economista de formação e dono de uma fortuna considerável, HH representa aquele tipo de presidente que entende de números, gosta de negócios e agora tem que lidar com gente tentando matá-lo, o que, segundo me parece, não deve estar no manual de administração pública que ele estudou na universidade.

Jasten Mabulesse Candunde, cidadão moçambicano, e Leonard Phiri, chefe de aldeia zambiano, decidiram que a melhor forma de eliminar o presidente Hakainde Hichilema seria através de unga0bunga, com direito a amuletos e um camaleão vivo. Um camaleão, pessoal! Não uma bazuca. Não um rifle de precisão. Um lagarto tosco que o mais fantástico que consegue fazer é mudar de cor e ser mascote de princesa Disney.

E faço um adendo para manifestar meu agrado por não ter que fazer nenhuma referência a um terceiro participante nascido em Tilambuco.

Os dois gênios foram em cana em dezembro, flagrados com seus “instrumentos mortais”, incluindo o coitado do camaleão, que provavelmente estava lá se perguntando como diabos tinha virado cúmplice de um golpe de estado. O animalzinho deve ter pensado: “Cara, eu só queria comer uns insetos em paz, não derrubar governos”. Na mente desses dois asininos (você não, Carma-Camaleão) isso daria certão, embora seja como tentar derrubar um Boeing 747 com um estilingue feito de elástico de cueca.

O plano era tão sofisticado quanto um episódio de Scooby-Doo. Segundo a promotoria, foram contratados pelo irmão de um deputado da oposição, Emmanuel “Jay Jay” Banda – que, por sinal, já está enfrentando julgamento por roubo, tentativa de homicídio e fuga da custódia. Porque obviamente, quando você precisa de alguém para organizar um assassinato presidencial através de magia negra, você contrata a família de um fugitivo da justiça. Faz todo o sentido.

Imaginem a conversa na contratação:

“Oi, você mata presidente?”

“Opa, já é! Como?”

“Ah, com feitiçaria mesmo.”

“Er… ok, né?”

“Tu acha que vai precisar do que?”

“Uns amuletos comprados num camelô da Uruguaiana… Ah, e um camaleão”.

“Vou comprar na Amazon”

É o tipo de plano que faria os Três Patetas parecerem agentes da CIA.

O magistrado Fine Mayambu – nome irônico para quem teve que julgar uma coisa tão grotesca – sentenciou os dois a 24 meses de prisão com trabalho forçado, já que o motivo, segundo o senhor Meritíssimo, o crime era matar o chefe de Estado, e isso não é legal. Esta fascinante declaração soou como se Moisés estivesse trazendo as Tábuas da Lei, não o óbvio ululante de que dois malucos queriam usar um réptil para derrubar um governo.

“Os condenados não eram apenas inimigos do chefe de Estado, mas de todos os zambianos”, continuou o magistrado. E eu aqui pensando: não, cara, eles eram inimigos da lógica básica, do bom senso e da dignidade da espécie humana como um todo. Ah, e eram dois fidaputas por terem arrolado um pobre camaleão no meio desta zona.

O mais fascinante é que existe uma lei específica na Zâmbia para “professar conhecimento de bruxaria e posse de amuletos”. Ou seja, em algum momento da história legislativa do país, um grupo de parlamentares sérios se reuniu em uma sala séria e disse: “Aê, galera! Precisamos criar uma lei para quando alguém tentar matar o presidente com magia”. E todos concordaram que isso era uma preocupação legítima e necessária.

Enquanto isso, o camaleão provavelmente virou evidência no processo. Imaginem o animal sendo apresentado no tribunal: “Exibição A: o réptil cúmplice”, e o bicho lá choramingando “Não fui eu! Não fu eu! Não sei de nada, douto. Sô honesto, trabalhador”. A parte mais tragicômica (se é que existe uma parte que seja a mais tragicômica desta insânia) é que esses dois estrategistas da magia negra realmente acreditavam que conseguiriam eliminar um presidente com amuletos. Em pleno século XXI. Em um mundo onde existem drones, hackers, cyberataques e mil formas tecnológicas de causar problemas, eles escolheram a abordagem medieval com pitada de zoológico.

É como tentar hackear o Pentágono com um ábaco e um alguidar com pipoca e uma garrafa de cachaça.

Moral da história: Se você está planejando um golpe de estado, talvez seja melhor investir em algo mais confiável que repteis e superstição. Ou, melhor ainda, use essa criatividade toda para algo produtivo, como escrever roteiros de comédia. Porque, sinceramente, essa história daria um filme hilário. Com o camaleão como personagem principal, obviamente. Ele pelo menos não tinha escolha.

Ainda existem países mais esdrúxulos que o Brasil, mas ganharam por pouco.


Fonte: El Arabya, via @Cardoso

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