
Você já parou para imaginar um mundo onde o motor do seu carro ronca com o poder do cocô de vaca? Parece enredo de filme B, daqueles com zumbis ecológicos e um herói brandindo uma pá como se fosse Excalibur. Mas, segure sua xícara de café, porque na Índia isso não é ficção: é realidade, e das mais absurdas e brilhantes. O governo indiano resolveu transformar a montanha de esterco produzida por suas vacas sagradas em biogás e CNG, o gás natural comprimido que faz aqueles tuk-tuks zunirem pelas ruas e fogões cozinharem. E, pasme, eles estão jogando rios de dinheiro para transformar esse sonho fedorento em realidade.
A Índia tem um problema que é, digamos, monumental: 300 milhões de vacas, divindades de quatro patas que, além de leite e aura sagrada, produzem um tsunami diário de esterco, o suficiente para encher o Taj Mahal até o teto; uma espécie de Presente Divino, só que fede. Em vez de deixar esse “presente” apodrecer e entupir rios, o primeiro-ministro Narendra Modi, com seu plano “Lakhpati Didi” (que quer transformar mulheres rurais em empreendedoras faturando 100 mil rúpias por ano), lançou o Satat Scheme em 2018.
O nome soa como algo que um guru sussurraria em meditação, mas é só um acrônimo para Sustainable and Alternative Towards Affordable Transportation. A ideia? Pegar o cocô, jogar num tanque, deixar fermentar e transformar em energia limpa.
O governo já desembolsou 5.000 crore de rúpias; e para quem não está acostumado com a matemática indiana, um crore é 10 milhões, então estamos falando de 50 bilhões de rúpias, ou cerca de 600 milhões de dólares ou o quanto o americano está pagando por um quilo de café com as taxações.
Esse dinheiro financia 7.000 plantas de biogás, muitas comandadas por mulheres que trocaram as panelas pelo empreendedorismo fecal. É como transformar o quintal num laboratório de alquimia, onde o ouro é metano puro.
Como funciona essa mágica? Simples, mas genial: o esterco é misturado com água e bactérias anaeróbicas em digestores gigantes. Imagine estômagos mecânicos de vaca, só que menos charmosos. O resultado é metano, que pode ser purificado em CNG para abastecer carros em Mumbai ou fogões em vilarejos remotos. O bônus? O resíduo sólido vira fertilizante orgânico, fechando o ciclo como uma sinfonia ecológica. Comparado ao petróleo, isso corta emissões de carbono em até 90%, segundo a ONU, além de reduzir a dependência da Índia de importações de gás, que custam bilhões anualmente.
É como se a Mãe Natureza desse uma risada irônica para os céticos do aquecimento global: “Viu? Até o cocô pode salvar o planeta.” Enquanto o Ocidente sonha com Teslas brilhando nas estradas, a Índia responde com vacas, que são bem mais baratas e, convenhamos, eternas.
Além de saborosas, mas não contem aos servos de Kamadhenu.
O que dá sabor à história é o fator humano. Em vilarejos de Uttar Pradesh e Bihar, mulheres que antes mal tinham voz, agora gerenciam microempresas de biogás, orgulhosas e com o bolso mais cheio. O governo banca tudo: da construção das plantas à venda do gás para gigantes como a Indian Oil Corporation. Até o fim de 2025, planejam mais 5.000 unidades, mirando 15 milhões de toneladas de biogás por ano. É pop e erudito ao mesmo tempo: lembra Aristóteles, que na Grécia antiga já falava do “pneuma” vindo da decomposição? Pois é, ele nem sonhava que o cocô viraria o combustível do Bollywood do futuro.
No contexto global, a Índia não está sozinha: a China usa esterco de porco para biogás, e fazendas holandesas iluminam vilas com o mesmo truque. Mas, com 20% do gado mundial, a Índia tem um estoque inesgotável de “matéria-prima”. O cheiro? Não é um perfume parisiense, mas filtros modernos tornam o processo menos agressivo que um churrasco malfeito. Críticos dizem que é só um paliativo para a poluição caótica de Délhi, mas transformar cocô em combustível é mais do que muitos fazem enquanto o planeta vira uma churrasqueira global. O plano é suprir 10% da demanda de CNG até 2030, criando 100 mil empregos, muitos para mulheres em áreas onde o desemprego é um dragão mitológico.
No fim, essa história é uma comédia cósmica com uma lição escondida: o absurdo da realidade nos ensina que as soluções podem vir dos lugares mais improváveis. Modi e sua turma estão jogando pesado, investindo bilhões de rúpias para transformar esterco em esperança. Se der certo, talvez inspire o mundo a olhar para o próprio curral com novos olhos. Sim, eu sei qual a piadinha que você está pensando agora. Vamos manter a compostura por causa do horário
Fonte: Independent

Um comentário em “Vacas fazem milagres na Índia sob a forma de cocô”