
A mulher que enverga a roupa branca olha pelas lentes de seus óculos a peça de vidro. Uma simples peça de vidro com tampa. Dentro daquela peça de vidro que também tem uma tampa de vidro tem… coisas… coisas vivas. Minúsculos seres que farão a diferença no mundo. Seres responsáveis por alimentar países, erguer nações, acabar com a fome. A mulher do jaleco branco pousa a peça de vidro que é o pequeno universo que ela ajudou a criar, mas ela não é uma mulher qualquer. É alguém paciente, convicta, insistente, e por longas décadas ela logrou o seu intento. Não, ela não é uma mulher qualquer, ela é uma cientista. Ela é Mariângela Hungria.
Na última terça-feira, 13 de maio de 2025, o mundo finalmente reconheceu algo que o Brasil já sabia há décadas: Mariângela Hungria é uma das grandes protagonistas da revolução agrícola sustentável. Ao receber o World Food Prize 2025, o prestigiado “Nobel da Agricultura”, sua trajetória de dedicação à Ciência e ao desenvolvimento de soluções inovadoras para a produção de alimentos ganhou o merecido destaque internacional.
Mariângela Hungria da Cunha nasceu em Itapetininga, São Paulo, aos seis dias de um certo fevereiro, que não me cabe dizer o ano, pois, não é certo dizer a idade de uma senhora. Ela ingressou no curso de Agronomia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba, em 1976, formando-se em 1979. No último ano da graduação, Mariângela descobriu as pesquisas sobre fixação biológica do nitrogênio, introduzida pela professora Alaídes Puppin Ruschel, com quem fez o mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, e no ano seguinte, ingressaria no doutorado em Ciência do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Mariângela ingressou como pesquisadora na Embrapa, aquele lugar que desenvolve pesquisa de ponta em Agronomia e Agricultura, lugar cujas pesquisas de décadas foram destruídas pelo MST porque… sei lá, nem eles sabem, mas selvagens são assim mesmo. Depois, Mariângela fez estágios de pós-doutorado em Microbiologia na Universidade Cornell. O principal foco de seus estudos é a fixação biológica do nitrogênio, um processo natural em que bactérias transformam o nitrogênio do ar em alimento para as plantas. É o nitrogênio, um nutriente inorgânico, que ajuda a alimentar as plantas e não material orgânico. O material orgânico é degradado por agentes decompositores, que o transformam em nutrientes inorgânicos.
Desde 1991 na unidade de Londrina (PR), Mariângela lidera pesquisas que transformaram a agricultura tropical., e ao longo de mais de 40 anos, suas pesquisas possibilitaram tecnologias inovadoras de inoculação e coinoculação de sementes com bactérias como Bradyrhizobium e Azospirillum. Essas técnicas permitem que culturas como soja, feijão, milho e trigo obtenham nitrogênio diretamente do solo, reduzindo ou eliminando a necessidade de fertilizantes químicos.
O impacto é imenso: estima-se que a fixação biológica do nitrogênio gere uma economia anual de cerca de US$ 14 bilhões para o Brasil, já que aqui – um país extremamente dependente de agricultura – não desenvolveu indústrias de produção de adubos e fertilizantes, tendo que importar tudo, o que já lhe dá uma pista do porquê tudo sobe quando o dólar dispara. O motivo do preço daqui subir quando o dólar cai é safadeza, mesmo.
Com a diminuição do uso de fertilizantes químicos, reduz-se significativamente as emissões de gases de efeito estufa e a poluição de corpos d’água. O resultado não é apenas mais produtividade, mas um modelo agrícola sustentável que equilibra produção e preservação ambiental.
O World Food Prize vem coroar uma trajetória já marcada por reconhecimentos internacionais. Mariângela já foi agraciada com o Prêmio Fundação Bunge na categoria “Vida e Obra” em 2022 e listada entre os 100 mil cientistas mais influentes do mundo pela Universidade de Stanford. Além disso, é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Mas seu impacto vai além das premiações: Mariângela é uma incansável defensora da participação feminina na Ciência. Como orientadora, já formou mais de 100 estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado, incentivando mulheres a ocuparem espaços na pesquisa científica.
A trajetória de Mariângela Hungria é uma prova de que a Ciência não apenas explica o mundo, ela o melhora. Seu trabalho, fundamentado no conhecimento e na inovação, gera impactos concretos na sociedade, promovendo uma agricultura mais sustentável, produtiva e inclusiva. E hoje, ao olharmos para seu legado, fica claro que pesquisadores como ela não apenas cultivam plantas, mas cultivam o futuro. O futuro que germina e frutifica em grandes nomes da ciência como Mariângela Hungria.
Fonte: Academia Brasileira de Ciências, via Gustavo

Excelente. Mesmo com o histórico ódio do Brasil à ciência e toda a putaria acadêmica que rola por aí, a gente ainda consegue fazer coisas incríveis. Mas divulgar essas coisas não dá view nem monetiza. =(
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Estão ocupados monetizando com bebês reborn
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