Você deve ter visto algum frade franciscano, e o que mais deve ser característico é seu corte de cabelo estiloso. Aquela careca, em que fica apenas um circulozinho de cabelo, é chamada “tonsura”. Mas você sabe de onde ela surgiu ou quem a criou? Certamente, você vai achar que foram os cristãos, mas não é bem assim.
Esta é mais uma edição do LIVRO DOS PORQUÊS
Já de antemão posso lhe dizer: a tonsura não é nenhuma novidade cristã, embora a origem mesmo se perdeu nas brumas do tempo. Acredita-se que os primeiros celtas, ao norte da Grã-Bretanha, usavam a tonsura antes de seu contato com o Império Romano, mas não necessariamente por questões religiosas.
Tonsura celta
Algumas vertentes hindus cultivam a tonsura como parte de sua prática religiosa. De acordo com as regras dos Vedas, o Chudakarana (a feitura da tonsura, numa rima horrível) deve ser realizado no primeiro ou no terceiro ano da criança. É praticado até hoje na maioria das comunidades hindus, sendo muito comum na cidade-templo de Tirupathi (ao sul da Índia) e diariamente tanto homens quanto mulheres tonsuram aos milhares.
Os devotos hindus oferecem seus cabelos ao Senhor Balaji por favores recebidos, para mostrar gratidão e respeito. Tanto homens como mulheres oferecem seus cabelos.
Claro, o bom e velho Capitalismo dá uma ajudinha. Já que o distinto vai raspar o cabelo, que tal ganhar um dinheirinho? O cabelo comprido das mulheres que foi cortado é vendido por preços bem altos para fazer extensões de cabelo e perucas. O cabelo tonsurado dos homens é usado para extrair a l-cisteína, empregado nas indústrias alimentícia, farmacêutica e de cuidados pessoais.
No budismo, a tonsura faz parte do rito de se tornar um monge. Isso envolve raspar a cabeça e o rosto. Esta tonsura é renovada com a frequência, sendo necessária para manter a cabeça raspada, e alguns monges budistas chineses também têm 6, 9 ou 12 pontos no topo da cabeça como resultado da queima do couro cabeludo raspado com a ponta de um incenso fumegante.
Os monges jainistas arrancam os cabelos para manter o couro cabeludo nu e livre de piolhos, não por asseio, mas porque eles não querem correr o risco de fazer mal a esses seres vivos.
A origem da tonsura nos monges cristãos vem, como sempre, com hábitos romanos. Devemos lembrar que o que fez o sucesso do Cristianismo não foi um monte de pessoas humildes na Palestina, e sim com a classe média/alta de Roma.
Alguns clérigos da religião romana costumavam raspar o topo da cabeça (a famosa “coroinha”), de forma que o cabelo ali crescesse de forma diferente, adquirindo um formato de… coroa. À medida que os romanos iam se convertendo ao Cristianismo, levavam este hábito junto, trocando culturas na hora da mistura de crenças, assimilando o simbolismo da tonsura e adequando ao Cristianismo, que pregava a humildade, ou seja, simplesmente deram outro motivo para continuar com as mesmas práticas.
Essa “coroa” capilar é sugerida tendo começado com o apóstolo Pedro, mas isso é discutível, pois não tem nenhuma fonte segura disso, mas foi inserida na prática do Rito Latino da Igreja Católica.
De acordo com Germano I, patriarca de Constantinopla entre 715 e 730, :
A dupla coroa inscrita na cabeça do sacerdote por meio de tonsura representa a preciosa cabeça do sumo-apóstolo Pedro. Quando ele foi enviado no ensino e pregação do Senhor, sua cabeça foi raspada por aqueles que não acreditaram em sua palavra, como se estivesse em zombaria. O Mestre Cristo abençoou esta cabeça, transformou a desonra em honra, o ridículo em louvor. Ele colocou sobre ela uma coroa feita não de pedras preciosas, mas que brilha mais do que ouro, topázio ou pedra preciosa – com a pedra e a rocha da fé.
Membros da Igreja Ortodoxa Oriental e da Igreja Católica Romana usavam a tonsura, e ambas afirmam que suas origens remontam ao tempo de Jesus. No Rito Latino ou Ocidental da Igreja Católica Romana, a primeira tonsura (geralmente consistindo em um corte simbólico de alguns tufos de cabelo ou no máximo uma mancha nua do tamanho de uma moeda na parte de trás da cabeça) era o rito de indução alguém no clero. Existem diferentes tipos de tonsuras com base no padrão, como clerical, batismal e monástica.
Para os monges cristãos, o corte de tonsura começou como uma prática de cortar ou raspar totalmente o cabelo como sinal de devoção religiosa, mostrando sua humildade, abstendo-se de vasta cabeleira. Só que isso mudou para um estreito anel de cabelo em volta da cabeça. O motivo é que, durante as Cruzadas, os soldados cristãos aproveitaram que estavam de bobeira e, enquanto não estava passando a fio de espada muçulmanos (sem soldados ou velhos, mulheres e crianças), junto com outros cristãos (como foi o caso da Quarta Cruzada, que passaram o rodo em todo mundo em Constantinopla, até que as ruas virassem rios de sangue), eles aproveitavam e transmitiam a Boa Nova, do Cordeiro de Deus, o Príncipe da Paz.
No Islã, a fé praticada pelos muçulmanos é baseada nos chamados “cinco pilares”, ou valores devem ser respeitados. Uma delas é o Hajj (a peregrinação a Meca).
Muitos muçulmanos raspam as suas cabeças inteiramente; com isso, os cristãos não ficaram muito a fim de se misturarem com eles, e deixavam um anel de cabelo, no melhor estilo “vamos, Tesouro. Não se misture com essa gentalha”.
Hoje, pouquíssimas ordens religiosas cristãs fazem uso da tonsura, mas ela ainda está presente como um lembrete de humildade, abnegação e subserviência aos santos mandamentos de Deus, Todo-Poderoso.
Levítico 19:27 – Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem desfigurareis os cantos da vossa barba.
2 comentários em “A origem da tonsura e cortes de cabelos dos monges”