Você deve ter ouvido esta história: a prova que vidros são líquidos altamente viscosos é que os vitrais das catedrais são mais grossos embaixo do que em cima; e a única explicação para isso é que o vidro vai escorrendo muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito lentamente ao longo dos anos, décadas e séculos.
É uma explicação simplista para mentes simplistas.
O problema é que as técnicas dos vidreiros medievais eram ridiculamente imprecisas. Era tudo artesanal até o talo, o que não daria condições de fazer medidas perfeitas. Ademais, quando saía o tijolão de vidro, não havia como “alisar” a massa, de forma que ela tivesse a mesma espessura ao longo da peça.
A proposição é tão ridícula que o vidro não “escorre” para fora do caixilho. Ele está todo lá dentro. O vidreiro medieval sabia o que ia acontecer depois de séculos? Ou é mais provável que o vidreiro sabia que o vidro ali era mais grosso e foi instalado com a parte mais espessa embaixo, fazendo um caixilho sob medida?
Não apenas isso, vem a parte desagradável para a narrativa “vidro escorre com o passar dos séculos”, e são estas peças abaixo:
As peças acima são egípcias, da 18ª Dinastia, se situando entre 1390-1336 A.E.C. Sim, eu sei que não parece vidro. Acredite: são. O fato de não terem tido condições, equipamentos e técnica de polimento não faz que o material com o qual fizeram estas peças deixe de ser vidro.
Vaso romano. Datado entre os anos 1 e 100 E.C.
Vaso romano. Datado entre 25 AEC e 25 E.C.
Tigela romana. Datada entre os anos 50 e 1 AEC
Rosto de mulher representando a deusa Juno. 1º século.
Pássaros de vidro com o intuito de armazenar perfumes. Era preciso quebrar o pescoço. O segundo ainda tem parte do conteúdo. Datado entre o 1º e 2º séculos.
Vaso romano. Datado entre o 3º e 4º séculos.
Como podem ver, são peças muito antigas que ainda mantém seus formatos originais. Estão em museus em todo o mundo (você, não. Brasil). São maravilhas feitas por artesãos, capazes de feitos fantásticos, com o que podemos achar que eram ferramentas toscas, mas a mente humana e sua capacidade sempre foram capazes de operar milagres artísticos.
Mito propagado inclusive por professores de ciência e revistas de “divulgação” herr científica. Texto simples que vai direto ao ponto com contra-exemplos simples. A velha questão de aprender a pensar ao invés de decorar fatos (ou mitos) com aparência de ciência.
Teve uma equipe de pesquisadores que estimou a velocidade do suposto escoamento do vidro. 0,000000001 nm por ano! Seriam necessários 1,0 bilhão de anos para se observar apenas 1,0 nm de diferença na espessura.
https://ceramics.org/ceramic-tech-today/glass-viscosity-calculations-definitively-debunk-the-myth-of-observable-flow-in-medieval-windows
Lendo esse artigo me lembrei desse experimento:https://smp.uq.edu.au/pitch-drop-experiment