Eu sempre gosto de frisar como algumas bobagens que ainda circulam não passam disso: bobagens. A minha preferida é que vidros não são sólidos, mas líquidos super-resfriados, que escorrem com o tempo por serem altamente viscosos. Uma “prova” disso seria que os vitrais das antigas catedrais tem a parte inferior mais grossa que a de cima. Eu postei o artigo Afinal, o vidro é líquido ou sólido? explicando o que acontece e mostrei peças romanas e egípcias muito antigas.
Agora, temos mais um exemplo: arqueólogos encontram tigela impecável de quase 2.000 anos em Nijmegen, Países Baixos.
Nijmegen é um lugar fascinante por ser muito antigo. Situada na província da Guéldria, no leste dos Países Baixos, bem próximo à fronteira com a Alemanha, Nijmegen é considerada a cidade mais antiga do país, tendo mais de 2 mil anos. O lugar foi um assentamento romano no primeiro século, que depois virou um posto avançado, um forte e evoluiu até uma cidade.
Foi naquelas proximidades que foi encontrado o Capacete de Nijmegen, um capacete esportivo de cavalaria romana com data estimada entre o século 1 ou 2, tendo sido encontrado em 1915 no leito de cascalho na margem esquerda do rio Waal.
Recentemente, um grupo de arqueólogos trabalhando num sítio arqueológico em Nijmegen encontraram vestígios de casas e até mesmo um poço! Olhando mais as cercanias, acharam uma tigela de vidro absurdamente conservada, num estado impecável. Uma perfeita obra-prima!
O assentamento está localizado em uma área onde o solo arenoso se transformou em solo argiloso com o passar dos muitos séculos. Isso fez com que o local se tornasse favorável porque os moradores podem aproveitar as vantagens de ambos os tipos de solo, e ele ajuda na conservação de peças que foram enterradas.
Esta belíssima tigela de vidro azul foi retirada do chão em 2021, completamente intacta, um tesouro arqueológico inestimável. Mas onde foi feita? Como foi parar ali? A melhor resposta é: ninguém sabe. Havia fábricas de vidro na então chamada Colonia Claudia Ara Agrippinensis, hoje é a cidade de Colônia, Alemanha, por sinal, a mais antiga cidade alemã, tendo sua fundação uma data incerta, mas em 39 A.E.C., as forças romanas ocuparam a margem esquerda do Rio Reno e lá se estabeleceram, formando uma colônia romana a pedido de Júlia Agripina Menor, esposa do imperador Cláudio.
Pode ser também que a tigela tenha sido feita na própria Península Itálica e talvez Roma, mas isso não é certeza, já que, como disse, tinha fábricas de vidro em outros lugares, já que quando Roma se assentava, já formava uma cidade logo, com tudo o que uma cidade romana precisava para se manter, e obviamente cobrar tributos de quem estivesse lá.
Tigelas assim eram feitas preparando o vidro, deixá-lo em estado fundido e depois derramavam a massa fluida sobre um molde. Como tinta como conhecemos hoje não existia – e de qualquer forma interferiria na transparência do vidro – eram adicionadas substâncias para dar cor, o que é feito até hoje.
Compostos | Cores |
óxidos de ferro | verdes, marrons |
óxidos de manganês | âmbar profundo, ametista |
óxido de cobalto | azul profundo |
cloreto de ouro | vermelho rubi |
compostos de selênio | vermelho-escuro |
óxidos de carbono | âmbar / marrom |
uma mistura de manganês, cobalto, ferro | preto |
óxidos de antimônio | branco |
óxidos de urânio | verde-amarelado |
compostos de enxofre | âmbar / marrom |
compostos de cobre | azul claro vermelho |
compostos de estanho | branco |
chumbo com antimônio | amarelo |
Para os moradores de Nijmegen do assentamento no Winkelsteeg, essa tigela era de grande valor. Não monetário, mas histórico. É uma parte da cidade, da cultura deles. O preço de sua própria história e inestimável.
Fonte: Hyperalergic
Caraca, se eu encontrasse uma dessa eu jamais pensaria que teria tanto tempo assim, realmente fantástico o estado dela.
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