O planeta que tinha que estar lá

Eu gosto da Astrologia. Ela é divertida! Meu divertimento principal é quando alguém pede para eu ler o horóscopo, eu pergunto pelo signo, me respondem e leio um horóscopo qualquer só pra ver a pessoa confirmar tudo aquilo. O problema é que a Astrologia é meio distraída. Não deu pela falta de umas coisinhas pequenas e sem importância.

Como planetas, por exemplo.

Em 1821, Alexis Bouvard publicou tabelas astronômicas da órbita de Urano, planeta descoberto por William Herschel em 13 de março de 1781. O problema é que as tabelas apresentavam dados… estranhos. Diversas observações posteriores revelaram desvios substanciais das tabelas. Se Newton estivesse certo (e normalmente ele estava), as contas mostrariam que a órbita de Urano deveria ser outra.

Claro, isso só podia significar uma das duas coisas:

1) As contas estavam erradas.

2) As observações estavam erradas.

Mas então, lembraram que havia uma terceira opção: sabendo que gravidade é uma ação causada por corpos próximos (em termos astronômicos), o mais certo é que havia algo ali, cuja massa estivesse perturbando a órbita de Urano.

Em 1843, John Couch Adams começou a trabalhar na órbita de Urano usando os dados de que dispunha. Como trabalhos assim acabam dando merda se fizer tudo sozinho, a menos que você seja Kepler e Galileu (não, Newton não trabalhou sozinho. Pegava dados com todo mundo, ou roubava na cara-de-pau, mesmo) solicitou dados extras de Sir George Airy, o Astrônomo Real, As informações chegaram em fevereiro de 1844, já que era uma época que ninguém tinha pressa. Adams continuou a trabalhar entre os anos de 1845 e 1846 e produziu várias estimativas diferentes de um novo planeta.

Nesse meio tempo, um certo astrônomo chamado Urbain Jean Joseph Leverrier começou a chegar nas mesmas conclusões que Adams, apesar de não saber o que o inglês estava fazendo. O francês fez seus próprios cálculos, e apresentou para a sociedade astronômica francesa.

Ninguém deu a menor pitomba pro sujeito e suas contas. Garçom, mais vinho. Dizíamos nós que…

Em junho de 1846, Sir Airy leu o trabalho de Le Verrier, viu que os dados eram semelhantes aos de Adams, e mandou James Challis a procurar o planeta. Challis ficou igual a um mané olhando pra cima entre os meses de agosto e setembro sem ter visto absolutamente nada; mas mandaram, tem que fazer!

Tanto no trabalho de Le Verrier quanto no de Adams, havia previsões sobre onde estaria o planeta fujão. Era uma questão de saber quem estava certo: o “rã” ou o “tommie”. Le Verrier mandou uma carta ao astrônomo Johann Gottfried Galle do Observatório de Berlim, pedindo para que o chucrute fizesse uma busca com o telescópio refrator do observatório. Heinrich d’Arrest, um estudante do observatório, sugeriu a Galle que eles poderiam comparar um mapa do céu recentemente desenhado na região da localização prevista de Le Verrier.

Numa tranquila noite de 23 de setembro de 1846, Netuno apareceu a nordeste de Iota Aquarii, a um grau da posição “cinco graus a leste do Delta de Capricórnio” que Le Verrier previra. Adams previra que seria a cerca de 12 graus.


Telescópio usado para observar Netuno pela primeira vez

Sim, aquela matemática que muitos dizem não servir pra nada foi a ferramenta para achar um planeta inteiro! Nada mal, hein? Só que aí surgiu um outro problema: quem descobriu o planeta na verdade? Le Verrier ou Adams? Começou o bom e velho bairrismo, ainda mais que França e Inglaterra nunca se entenderam ao longo da História. Ficou convencionado que ambos descobriram conjuntamente, ainda que de forma independente, embora as previsões de Le Verrier tenham sido mais próximas e, graças a ele e sua insistência, foram catar nos Céus Amigos onde estava o Senhor do Oceano.

 

Ah, e mais uma coisa: com o tempo viram que a órbita de Netuno não estava certinha, também. Algo tinha que estar influenciando seu movimento. A saber, era Plutão, o planeta-hobbit, mas aí já é assunto para outro dia.

Feliz aniversário, Net!

2 comentários em “O planeta que tinha que estar lá

  1. Eu fazia a mesma coisa quando me pediam pra ler horóscopo no jornal, só que ia emendando 2, 3, 4 signos, kkkkkk Sabe, é que eu sou de Aquário com ascendente em Pangea, então a zoeira faz parte do meu ser.

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  2. Lembro de ler essa história do James Vacilão em uma revista quando garoto, se eu não me engano ele, após esse observatório alemão ter encontrado Netuno, revisou as observações dele e parece que ele tinha observado o planeta em uma noite, mas não conseguiu identifica-lo pois esqueceu de fazer um procedimento kkkkk

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