Aprendemos que Evolução não se dá em indivíduos apenas, mas em populações. Aprendemos também que é um processo lento, mas de vez em quando ela nos prega peças e acontece mais rápido do que poderíamos supor, já que o mundo não é como queremos que seja, e as “leis científicas” são uma aproximação. Ou, como eu costumo dizer, “É regra que toda regra tem exceção”. Outro exemplo poderia ser o Lamarckismo, cujo princípio é a lei do Uso e Desuso. Você sabe, aquele lance das girafas serem pescoçudas para poderem comer as folhas das árvores mais altas por motivo sei lá, já que poderiam comer as folhas mais baixas.
Só que ainda temos um pequeno detalhinho: o Efeito Baldwin.
James Mark Baldwin nasceu em Colúmbia, em 12 de janeiro de 1861. Ele era psicólogo e um dos fundadores da primeira revista científica de Psicologia, The Psychological Review, em 1895. Baldwin escreveu uma importante obra em 3 volumes: A Teoria Genética da Realidade (título original: Genetic Theory of Reality. Being the Outcome of Genetic Logic as Issuing in the Aesthetic Theory of Reality called Pancalism).
Baldwin propôs o que hoje é conhecido com o Efeito Baldwin, cujo mecanismo procura explicar a evolução da aprendizagem, no que ele chamou de “um novo fator em evolução”, mas hoje chamamos de “Plasticidade fenotípica”, a habilidade de um organismo se adaptar ao ambiente durante sua vida.
Péra. Isso significa que se eu for jogado no meio da Antártida, eu terei condições de sobreviver?
Não. Não uma coisa tão drástica assim. Mas Baldwin cita como exemplo o caso de algum primata que em algum momento começou a usar o polegar numa posição quase opositora. Acabou por treinar e ensinar a outros primatas como usar o polegar de forma opositora, o que acarretou numa vantagem evolutiva. Nas gerações seguintes, outros macaquinhos conseguiam cada vez mais usar o polegar com posição opositora até chegarmos no polegar opositor que temos hoje, em que a seleção natural selecionaria aqueles com uma vantagem a mais para viver, fugir de predadores e ter tempo de se reproduzir.
Jogar você na Antártida não daria, pois você ia pra vala em poucos minutos de exposição ao frio sem roupas e/ou equipamentos adequados. Se fosse para você ganhar algo nessa empreitada, a única coisa que receberia seria um Prêmio Darwin, o que muito provavelmente poderia melhorar a espécie, com seus filhos percebendo o quanto isso foi idiota.
Um exemplo mais atual são os lagartos do Deserto de Mojave, na Califórnia. Alguns deles têm manchas laterais amarronzadas, o que são ótimas para servir de camuflagem. O interessante e que alguns desses lagartos foram parar na Cratera Pisgah, formada por rochas vulcânicas muito escuras, o que faria dos pobres lagartinhos um convite com neon na porta para quaisquer predadores. Baldwin fez efeito e muitos desses lagartos têm hoje o corpo totalmente escuro.
O dr. Ammon Corl pesquisa Ecologia Comportamental e Biologia Evolucionária na Universidade da Califórnia Santa Cruz. Infelizmente, ele não é tão importante para ter uma página que preste na referida instituição.
Corl e seu pessoal (que por sinal o chefe do laboratório onde ele trabalha assinou como colaborador porque… né?) documentaram este processo em detalhes meticulosos. Alguns indivíduos lagartísticos podem mudar as cores em um novo ambiente para tornarem-se mais escuros na lava.
A equipe de pesquisadores identificou os genes que regulam a coloração, os quais diferem entre populações dentro e fora da lava solidificada, tendo formado um solo escuro. Os lagartildos assim acabam com uma coloração tão escura quanto o solo, podendo se esconder melhor de predadores. Como isso lhes deu uma vantagem adaptativa positiva, geraram descendentes cada vez mais escuros. Os clarinhos eram alvos fáceis e não tinham tempo de sobreviver o bastante. Saudades Eternas, amiguinhos!
Este é, talvez, um dos melhores e mais detalhados exemplos do Efeito de Baldwin em uma população selvagem, mostrando o quão plástica é a adaptação dos lagartinhos acarretando na mudança acelerada de suas colorações.
Mais alguma consideração, mr. Darwin?
A pesquisa foi publicada no periódico Current Biology