A retinite pigmentosa, também chamada de retinose pigmentar é um conjunto de doenças hereditárias que causam a degeneração da retina. Não existe “A” retinite pigmentar, mas doenças similares que atacam de forma diferente a sua retina, parte do olho onde as imagens captadas são formadas, em que uma parte está conectada ao nervo óptico, que levará a informação até o cérebro.
A retinose pigmentar é causada por problemas genéticos, que acabam fazendo besteira e não codificando as proteínas que deveriam. Isso leva à morte as células cones e bastonetes, levando à cegueira. Seria possível alguém ajudar a evitar isso. Haverá algum profissional que tenha alguma boa ideia? Acontecerá de quem vir nos salvar?
Vanessa Restrepo-Schild é química; com ela a oração e paz, pois só químicos vieram para salvar a Humanidade, e não carpinteiros comunistas que comiam na casa dos outros e não tomavam banho. Vanessinha é uma linda doutorando de 24 anos e pesquisadora do Departamento de Química da Universidade de Oxford. Ciosa de fazer o que qualquer químico faz melhor (salvar o mundo), Vanessa resolveu ser primeira a usar tecidos biológicos sintéticos desenvolvidos em laboratório.
Laboratório: aquilo que biólogos pegam emprestado de químicos e físicos confundem com a garagem de casa.
Toda pesquisa até agora tentando minimizar os efeitos da retinose pigmentar usava materiais mais rígidos, mas como químicos entendem de propriedades de substâncias, Vanessa viu que isso não era lá uma ideia muito esperta. A nova retina sintética de dupla camada que Vanessa e seus colaboradores estão desenvolvendo mimetiza o processo natural da retina humana, usando hidrogéis para isso, já que a maior parte é água, como nas melhores membranas biológicas (as piores também são majoritariamente água, mas você entendeu o que eu quis dizer). O material sintético pode gerar sinais elétricos, que podem estimular os neurônios na parte de trás do olho, assim como a retina original, não devendo nada para a original. Serpa 100% eficiente? Claro que não, já que até mesmo o olho humano é uma bosta, com ponto cego e outras zicas dignas da Seleção Natural.
Parado aí. Foi isso mesmo o que Vanessa e seu pessoal criou? Bem, é o que diz o press release da Universidade Oxford. Mas o que foi que Vanessa fez?
Lendo a pesquisa diretamente no periódico Scientific Reports, vemos que apesar de um fundo de verdade, o teto leva a uma conclusão errônea do que foi feito. Ela não criou uma retina nova, não conseguiu uma grande quantidade de material. O que Vanessa Restrepo-Schild, química responsável e conhecedora do que ela própria está desenvolvendo é, segundo suas palavras:
Criamos uma matriz de bicamadas de 4 × 4 com gotículas compreendendo bio-pixels de gotículas aquosas ativáveis pela luz. As gotas aquosas contendo bacteriorrodopsina (bR), uma bomba de prótons acionada por luz, foram dispostas numa superfície comum de hidrogel em óleo contendo lipídeos. Uma bicamada lipídica formada na interface entre cada gotícula e o hidrogel; Cada bicamada então entremeada de bR. Os eletrodos em cada gota mediram simultaneamente as atividades de bombeamento de prótons conduzidas por luz de cada bio-pixel. A matriz 4 × 4 derivada por essa abordagem de biologia sintética de baixo para cima pode detectar imagens em escala de cinza e padrões de luz que se movem através do dispositivo, que são traduzidos como corrente elétrica gerada em cada bio pixel. Propomos que matrizes sintéticas biológicas ativáveis pela luz, produzidas com materiais macios, possam ser interconectadas com tecidos vivos para estimular vias neuronais.
Ligando a tecla SAP
Vanessa e seu pessoal criaram um sistema bioquímico de camada dupla, com o auxílio da bacteriorrodopsina. Esta proteína não é fabricada assim por qualquer corpo vivo. Os principais são as Archaeas, seres muito primitivos, mais primitivos que bactérias, só perdendo para comentaristas de portais de notícia. Esta substância é uma bomba de prótons, ou seja, assim que é estimulada pela luz, recebe energia suficiente para mudar sua polaridade. Isso faz com que haja um lado mais positivo e um mais negativo no outro lado, de forma a repelir radicais de polaridade igual. Assim, a parte positiva empurra radicais positivos para fora da membrana da célula.
Essa reação físico-química é muito sensível a luz, mesmo ela sendo bem fraca, porque no caso empregado, que eram 4 microgotas apenas, qualquer emanação eletromagnética iria ter energia suficiente para um “empurramento”, e essa reação foi medida pelos pesquisadores, por meio de eletrodos, da mesma forma que você usa um multímetro para saber se está passando corrente numa tomada.
Basicamente, as imagens são em preto-e-branco, emulando tons de cinza, na melhor configuração binária 1 e 0, formando um bio-pixel. Está meio longe de substituir a retina natural, que apesar de toda a zica está 3 bilhões de anos na nossa frente, e, claro, tinha que ser melhor pelas bilhões de tentativas e erros.
Devemos criticar a pesquisa da quase-doutora Restrepo-Schild? Óbvio que não, mas também devemos meter o pé no freio no que se tratar de divulgação de press-release, já que estes são escritos não pelo pesquisador, mas por pré-jornaleiros, e isso é mais para divulgar junto a possíveis investidores e para servir de marketing para a instituição, de forma a conseguir mais alunos
Vou deixar o link do artigo publicado, já que ele está abertinho da silva.