Nada pior pro jornalismo científico que jornaleiro pseudocientífico. Esta raça ignorante não entende picas do que se propõe a escrever e, não-raro, sai um monte de besteiras insanas.
O caso de hoje é com a New Scientist, em que a jornaleirinha descolada entrevistou um cientista, não entendeu nada do que ele falou, leu o título a publicação e trocou os cascos dianteiras pelos traseiros achando que qualquer hora teremos vida baseada em silício; ou seja, que qualquer hora teremos pedras vivas.
Atirando pedras bem mortas em jornaleiros idiotas, esta é a sua SEXTA INSANA!
Aviva Rutkin é repórter da New Scientist, que vez por outra banca a Super Interessante (e isso nem de longe é um elogio). Ela entrevistou a drª. Frances H. Arnold, que é química (com ela a oração e a paz). Arnold disse qual era a sua meta: aniquilar os inimigos, vê-los fugindo diante dela e ouvir o lamento de suas mulheres produzir substâncias melhores. Assim, como qualquer químico (com eles a oração e a paz), Arnold não se contenta com o que a Natureza nos deu, preferindo fazer coisas novas, como ligar átomos de silício (que os jornaleiros brasileiros traduzirão por “silicone”), numa cadeia carbônica.
Rutkin começa falando aquele blábláblá básico sobre o silício ser o elemento mais abundante na Terra, bem como descreve mais ou menos como a equipe da tia Frances começou a estudar uma proteína encontrada no DNA da bactéria Rhodothermus marinus. De posse dessa e outras substâncias, a equipe de Arnold resolveu o que poderia fazer legal com aquelas possibilidades, daí sintetizaram essa proteína numa bactéria Escherichia coli e modificaram-na por meio de mutações no seu DNA (na da bactéria, não da drª Arnold). Por meio de seleção artificial, os pesquisadores conseguiram uma versão de proteína que consegue se ligar a átomos de silício.
O silício, por estar na mesma família do carbono, tem propriedades semelhantes (mas nunca iguais) ao carbono. Tendo 4 elétrons no último nível, o silício também pode estabelecer ligações tridimensionais intricadas, conferindo estruturas bem resistentes aos materiais, como é o caso da sílica, por exemplo, que pode-se apresentar-se sob a forma de quartzo, cuja variedade mais linda é o cristal de rocha, bem duro e maravilhoso que até Sarah Sheeva bate palmas.
O silício estabelece ligações bem resistentes e capazes de fazer cadeias longas, mas nem de longe se assemelha ao que o carbono é capaz de produzir, dado ao tamanho do átomo, enquanto o carbono, sendo menor e mais leve, consegue substâncias que se esticadas alcançariam cerca de 1 km (não é exagero). Em resumo seria mais ou menos isso:
O problema se deu quando Rutkin ficou entusiasmada e saiu coisas como…
The fact that this bacterium has been engineered to produce carbon-silicon bonds more efficiently than chemists can in the lab is exciting
O fato de que esta bactéria foi projetada para produzir ligações carbono- silício mais eficientemente do que os químicos podem fazer no laboratório é emocionante
E isso foi feito onde, sua energúmena? No sagrado reino de Nosso Senhor Jesus, com as bactérias pensando “nhé! Não tenho nada pra fazer. Acho que vou fazer umas paradas de ligar carbono e silício, mesmo sem ser novidade”?
E ainda coroa com a boa e velha tese de…
it signifies that a lifeform could potentially be at least partially based on silicon, and if the researchers continue to grow these kinds of bacteria, we could get a better understanding of what they could look like.
Isso significa que uma forma de vida poderia ser, pelo menos, parcialmente baseada em silício, e se os pesquisadores continuam a cultivar esses tipos de bactérias, poderíamos obter uma melhor compreensão como poderiam ser.
NÃO, MINHA PHYLHA! Não é isso que diz a bosta da pesquisa, e não, não dá pra ter vida baseada em silício. Você andou vendo Star Trek emaconhada, leu o paper e achou que era a mesma coisa! Vida é muito mais complicada que uma proteína feita quase totalmente de carbono e um ou outro átomo de silício. Ninguém fez uma proteína de silício, SUA MULA!
– It is dead, Jim
– Çaporra é uma pedra, Orelhudo!
Fico impressionado o grau de analfabetismo funcional da classe jornaleirística. O título do paper, publicado na Science, é Directed evolution of cytochrome c for carbon–silicon bond formation: Bringing silicon to life (Evolução dirigida do citocromo c para a formação de ligações carbono-silício: Trazendo o silício à vida) e não Bringing life to silicon (dando vida ao silício), a pesquisa enfoca como usar átomos de silício em substâncias primordiais para seres vivos, e não criando uma merda de um ET pedregoso do mal, capaz de devorar tudo.
Fonte: New Scientist via @Cardoso
A muito anos, Glória Maria entrevistando um cara da Pixar.
O assunto era sobre um novo software que combinava características de dois personagens para dar movimento a um terceiro. O técnico mostrou a animação de um abajur que pulava de um jeito, depois outro que pulava com movimento diferente, aí rodou o software e gerou um terceiro abajur que pulava mais ou menos como os dois primeiros
O diálogo, na entrevista, foi assim:
Glória: Se você combina as características dos outros dois para gerar um terceiro, isso é sexo?
Técnico: Não. Nós nós apenas combinamos as propriedades no sistema….
Glória: Mas combinar pai e mãe para gera um filho é sexo.
Técnico: Não, isso não tem nada a ver com sexo.
Glória: Mas é sexo…
Técnico: Tá bom, mas isso é VOCÊ que está dizendo.
A manchete durante a semana toda nas chamadas do Fantástico do próximo domingo foi algo parecido com:
“Americanos inventam abajur que faz sexo”.
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Eu PRECISO achar esta entrevista!!!!!!
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Cheguei a dar uma procurada no Youtube, não encontrei. Talvez eu não tenha procurado direito.
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Tentou contato direto com ela, talvez possa indicar o ”número” do programa em que foi levada ao ar. A globo tem todos eles em arquivos, não sei se pelo ano está no formato videotape ainda ou se já foi digitalizado. Não sei se ela tem FB algo assim que favoreça um contato.
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Mais recentemente, o Fandárdigo estava numa hype de pirâmides sobre um poço de magnetismo natural sei lá das quantas que uma seita insana tinha inventado aqui no Brasil, e chamaram um Físico para dar seu parecer.
Foi digno de riso, pena, ódio e todas as emoções negativas ver que o pobre Físico estava tentando desmascarar os falastrões da seita (dava pra ver até na expressão facial e no tom de voz do coitado), mas, a edição do pogama fez parecer que o Físico dizia que a Física estava APOIANDO à presepada.
Jornaleiros…
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Com a entrevista dele editada no talo
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