As chaves para a regeneração de tecidos escondidas em nosso DNA

Você não é o melhor que a Seleção Natural pôde fazer, porque Seleção Natural não está nem aí para “perfeições”. Tudo bem que humanos constroem cidades, países, civilizações, armas atômicas capazes de mandar todos os anteriores pelos ares. Ainda assim nosso corpo é cheio de problemas, como sermos incapazes de enxergar em ultravioleta e infra-vermelho, não respiramos debaixo d’água e nossos sistema de cicatrização é bem legal, mas perder um braço não deixa ninguém feliz.

Há muitos, muitos, muuuuuuuuuuuuuitos anos, nossos ancestrais não tinham esse problema. Eles eram capazes de regeneração, ou seja, se cortassem um membro fora (esse inclusive), nascia outro no lugar. Hoje, só alguns animais, como os platelmintos (bem inferiores, por sinal) salamandras e axolotle possuem capacidade de regeneraçao. Mas por quê? Onde nossos ancestrais perderam esta capacidade?

O dr. Junsu Kang é pesquisador do Departamento de Biologia Celular do Centro de Medicina da Universidade Duke, que fica em Durham, na Carolina do Norte, nos EUA. Ele lidera um estudo que visa saber em que ponto de nossa história evolutiva houve a separação de espécies, sendo uma capaz de regeneração e a outra, não. Dessa espécie que não tinha capacidade de regeneração, surgimos nós, alguns milhões de anos depois. Alguma pista está escondida em nosso DNA, e parece que ela está sendo desvendada.

Kang e seus colaboradores verificaram que os principais genes que conferem a capacidade de regeneração naquelas criaturinhas safadas também têm homólogos em humanos. Estamos prestes a fabricar um Deadpool? melhor não.

Só que a questão não é bem o gene, pois gene é que nem pai: não basta ter, tem que participar, e se você deu uma risadinha, entregou a idade. Sendo assim, o gene precisa ser expressado quando ocorre a lesão. Isso é feito por determinadas sequências que regulam isso; as chamadas “sequências regulatórias” (duh!). Como fazer isso? Como fabricar estas sequências? Quem são elas? Como se alimentam? Eis a dor de cabeça, pois nem o Globo Repórter sabe.

O dr. Kang adora trabalhar com peixe-zebra e foi justamente neles que identificou a presença destas sequências regulatórias. O peixe-zebra é um lindo peixinho ótimo como modelo para a pesquisa sobre regeneração. Estas sequências receberam o nome de Elementos Potencializadores de Regeneração de Tecidos (Tissue Regeneration Enhancer Elements” – TREE). São sequências no DNA com capacidade de ativar genes em locais de lesões e até mesmo com capacidade de mudar os animais de modo que possam se regenerar. Praticamente, uma fábrica de Wolverines. Ou quase isso.

Kang descobriu que o segredo está num gene chamado leptina b, um gene previamente ligado com a obesidade, mas que agora parece ter um fim mais nobre. O dr. Japa separou os 150.000 pares de bases da sequência da leptina e identificou um elemento potencializador, a cerca de 7000 pares de bases de distância do gene. Ao trabalhar com esta sequência, Kang descobriu que o elemento pode ser separado em duas partes distintas: uma que ativa os genes que atuam em corações que sofreram lesão e, ao seu lado, uma outra que ativa os genes numa barbatana lesionada.

Exatamente, a ação é in loco. E cada membro é ativado por um elemento potencializador distinto. Sim, eu sei que genética é uma coisa louca. Não precisa me dizer isso. tem horas que nem eu entendo.

Kang resolveu, então, fundir estas sequências de dois genes de regeneração, um fator de crescimento de fibroblastos e aplicou neuregulina 1. Esse milk shake bioquímico serviu para criar peixes-zebra transgênicos, cujas barbatanas e corações tiveram respostas regenerativas superiores após lesões, e no modo automático. Show, né?

A busca é encontrar os elementos genéticos similares a esses em nós mesmos, de forma que possam ser combinados com tecnologias de edição de genoma para melhorar a capacidade dos mamíferos, de forma que possamos reparar e regenerar partes do corpo danificados ou ausentes.

Infelizmente, este tipo de pesquisa, a qual foi publicada na Nature, não tem impacto social. Ela não discute os vieses e necessidades antropológicas de sair por aí promovendo sexo oral em indivíduos desconhecidos em banheiros públicos. Essa pesquisa só sonha em podermos fazer pessoas com problemas cardíacos se curarem, paraplégicos voltarem a andar e amputados terem seus membros de volta. O que isso tem de importante em comparação com gente se chupando em banheirão imundo e fedorento espalhando toda sorte de doenças venéreas sem o menor cuidado?

Um comentário em “As chaves para a regeneração de tecidos escondidas em nosso DNA

  1. Fígado, procura no fígado!

    Uma pena que não ajuda em nada a pesquisa do banheirão, quem sabe um dia descubram como ser tão relevantes quanto o grande Tedson.

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