Muitas vezes as pessoas confundem camuflagem com mimetização. Camuflagem é quando seu padrão de cores se mistura com a do ambiente, como leões em plena savana africana. Já a mimetização é quando o animal mimetiza, isto é, imita algo ao seu redor, como aranhas que se parecem com formigas, como a Myrmarachne plataleoides. Mas o clássico mesmo é o chamado bicho-pau, um artrópode insecta da ordem Phasmatodea. Ele tem este nome por ser parecido com um graveto, não necessariamente um pau, dada as dimensões. E por isso é chamado de stick insect. Esta gracinha chega até a 18 cm e nessa altura você está fazendo mil e uma piadinhas a respeito do bicho. Quando parar com a infantilidade, eu continuo.
Cientistas adoram o bicho-pau (inclusive), pois ele tem uns segredinhos que podem ser bem úteis. Um desses segredinhos é como o bicho-pau anda. Saber como ele move suas longas pernas e mantém-se em perfeito equilíbrio pode ajudar a vencer desafios em termos de engenharia e robótica.
O dr. Chris J. Dallman é pesquisador do Departamento de Cibernética Biológicas do Centro de Excelência em Interação Cognitiva e Tecnologia, que é vinculada ao Departamento de Neurobiologia e Comportamento dentro da Faculdade de Biologia da Universidade de Bielefeld, na Alemanha. Se bobear, eles montam isso tudo num único nome. O interesse principal de Dallman com relação ao bicho-pau é que ele pode dar as capacidades do bicho-pau a Hector, o robô insetão, sobre quem nós falamos aqui em 2014.
A Natureza teve 3 bilhões de anos para entender que os terrenos n]ao são lisinhos e asfaltados. Logo, por simples tentativa e erro, ao longo de trocentas gerações, artrópodes se tornaram um exemplo de design vencedor. Maluquice seria se inventassem algo diferente, mas vai saber.
O que chamou a atenção de Dallman é como o bicho-pau anda, de uma forma um tanto quanto diferente de outros insetos. Suas patas dianteiras não são lá bem usadas para suporte de seu peso (estamos falando de força, e não massa) e locomoção, mas como sensores táteis. Essas patas vão tateando e sentindo o terreno, de forma que as 4 patas restantes façam o serviço. Mas não é só isso.
As pernas do meio e as traseiras suportam o peso do inseto na mesma junta que estava é responsável pela propulsão. Ela levanta e manda o bicho pra frente. O ponto principal do estudo de Dallmann é saber como o minúsculo cérebro do bicho-pau comanda tudo isso, já que depende de feedback das patas que agem como sensores de terreno, e depois manda o comando para as outras patas restantes. E você aí achando que é mole, mas olhe o tamanho do cérebro do bicho! Não, a resposta não está apenas no cérebro, mas no conjunto de nervos e músculos ligados em cada um dos membros.
Quer videozinho, né? Sim, eu sei que você quer. O The New York Times fez um.
Herr doktor Dallmann está interessado na morfologia e neurociência do bicho-pau, mas a ideia dele de pesquisa não é a biologia per se, e sim construir robôs que terão utilidade para movimentação em lugares difíceis, desde busca e reconhecimento em áreas de conflito armado ou ate mesmo encontrar pessoas feridas em escombros em caso de desabamentos. A pesquisa foi publicada no periódico Proceedings of Royal Society B.
Interessante como geralmente o melhor caminho para ser criar um robô adaptado ao ambiente é mimetizar um animal. Muito legal esse tipo de pesquisa.
Temos um designer estúpido que já selecionou naturalmente os melhores projetos, e temos um histórico quase completo de projetos ultrapassados nos quais podemos dar aquele upgrade!
Tudo isso graças à gambiarra mais bacana do universo: nosso cérebro!
André, nesse caso do bicho-pau eu confundiria camuflagem com mimética. O exemplo mais clássico de mimética que lembro dos tempos de escola é o da borboleta vice-rei que imita a monarca. Eu sempre tinha entendido que mimética era quando eram imitados outros animais ou algo do tipo. Acho que nessa parte meus livros de biologia não foram muito claros.
Mimetismo é uma imitação. Como o bicho-pau, bicho-folha etc.