Esta semana veio a notícia que cientistas chineses modificaram um embrião humano geneticamente. Claro, vindo da China a gente abre o olho e fica com o pé atrás, dada a tendência de falsificar pesquisas de vez em quando ^{[1] [2] [3]}.

Terapias genéticas nem são tanta novidade assim, mas é a primeira vez (se formos levar a sério a pesquisa xing-ling) que é feita diretamente num embrião. Mas, a pergunta que começa a martelar: É certo isso? O fim justificam os meios?

As pessoas pensam que a Ciência é anárquica e pesquisador faz o que quer. Seria legal se fosse verdade, ou muito mais brutal do que já fizemos de ruim até hoje. Muitas pesquisas têm que dar de cara com um conselho de ética, para avaliar que diabos você pensa que está fazendo. Eu não posso pegar qualquer mendigo, levar para um laboratório e fazer pesquisas neles, apesar de isso já ter sido feito no passado, mas no passado ainda matávamos em nome da religião e… bem, deixa pra lá.

Talassemia é uma doença também conhecida como "Anemia do Mediterrâneo". Esta tristeza é hereditária e foi trazida para o Brasil pelos habitantes dos países banhados pelo mar Mediterrâneo (entenderam  o nome?). Ela acarreta na produção anômala de hemoglobina, a proteína responsável pelo transporte de oxigênio para todos os tecidos do organismo. A equipe trabalha na tentativa de modificar o gene responsável pela talassemia tipo beta, que assim como a sua irmã alfa e delta, não tem cura. A versão intermediária necessita de transfusões de sangue com a finalidade de aumentar a oferta de glóbulos vermelhos, já quando o negócio começa a ficar mais hardcore, o paciente não só vai necessitar de transfusões, mas de medicamentos que retirem o excesso de ferro no sangue. O ponto final é apelar para transplante de medula óssea. E isso porque somos um projeto perfeito, criado por um desenhista inteligente.

Os pesquisadores usaram a técnica CRISPR/Cas9, sobre o que você aprenderá com este vídeo, para que eu não perca tempo explicando, já que este artigo não é sobre isso.

A equipe pegou 86 embriões, mas 71 sobreviveram, dos quais 54 foram geneticamente testados. Esta análise revelou que apenas 28 conseguiram êxito. A análise também revelou uma série de mutações paralelas, que presumiram serem causadas ??pela técnica de atuar em outras áreas do genoma. A pesquisa foi publicada no periódico Protein & Cell.

Mas a questão mais importante disso é "isso é certo?". Estamos melhorando e nos protegendo de doenças, certo? Mas isso não seria eugenia também? Eu sei, é um assunto delicado. Conheço um casal que fez tratamento para a moça engravidar por inseminação artificial. Analisando os embriões, descartou-se os que não sairiam tão legais, ficando com os melhores (alguns deles ia ter síndrome de Down, segundo me contaram). Isso não seria escolher os indivíduos, melhorando a cepa? Ou é um direito, já que, convenhamos, nem eu nem você queremos ter filho com problemas genéticos. É hipocrisia dizer que OS OUTROS devem aceitar ter filhos com doenças sérias.

Chegará a um ponto que resolveremos todas as nossas doenças antes de termos nascido. Seremos criaturas melhores? Creio que não, pois muitas doenças podem surgir com o passar do tempo. Tem gente que hoje, pagando um valor bem altinho, pode ter filhos do jeito que quiser. A imprevisibilidade está morrendo, mas isso ainda está infinitamente longe de atingir a toda população, sem falar que devemos lembrar que as mudanças foram o que garantiram que nós estejamos aqui, hoje. Qualquer mudança no ambiente poderia, do contrário, garantir nossa extinção.

Outra coisa a ser pensar é "o que pode dar errado nisso?". Bem, dificilmente um filho seu nascerá com tentáculos, mas os próprios pesquisadores disseram que houveram mutações paralelas. O que elas causam? Não se sabe ao certo. Uma nova doença? Pode ser que sim, pode ser que não. Isso será aplicado amanhã em larga escala? Com certeza, não.

Isso ainda vai dar pano pra manga, mas o bom é que profissionais dessa área é que discutirão sobre isso, e não um idiota como aquele babaca que ganhou bolsa pra dizer que a fabricação de próteses era eugenia.

AQUI você poderá ler a opinião de vários cientistas sobre essa pesquisa.