Robôs-ajudantes são o futuro? Não para idosos

Em qualquer obra decente de ficção científica, é clichê ter robôs-cuidadores, seja como enfermeiros, seja como diaristas, ajudando em tarefas domésticas. O problema é que pessoas mais velhas têm certa reserva (e até mesmo aversão) a este pensamento, preferindo ao invés disso, pessoas reais, de carne e osso.

O problema reinante aí é que pessoas de mais idade são exatamente o público mais necessitado de ter acompanhamento mais intensivo, pois algum insano resolveu que empregados domésticos não são escravos e têm direito a algo chamado "vida", tendo resguardado dias de folga, férias etc.

Em teoria (e tudo é lindo na teoria não-científica), robôs não se cansam, não perdem a paciência, não esquecem, não possuem ego que possa ser ferido e a menos que seu nome seja Sarah Connors, ele será seu amigo fiel e a parte mais limpa da sociedade, como diria a drª Susan Calvin.

Por outro lado, temos que lutar contra 3,5 bilhões de anos de evolução biológica. Nós nos sentimos intimidados com algo que não é semelhante a nós, mas como temos um péssimo planejamento, quanto mais próximo de nós, mais estranho ele é. É o Vale da Estranheza.

Quanto mais próxima do ser humano uma máquina é, mais bizarra ela se apresenta. Eu não me sinto intimidado por um aspirador de pó. Mas se aquela porcaria andar sozinho e falar comigo, das duas uma: Ou fujo pras montanhas ou dou um tiro naquela coisa. Nós gostamos do R2D2 simplesmente porque ele parece uma lata de lixo que assobia. Já o General Grievous é mais feio, meio humanoide, mau feito o Pica-Pau. C3PO é diferente, pois é tão atrapalhado que você o acha engraçado e não perde tempo pra achá-lo mais esquisito que seu vizinho que se esconde durante o dia e só aparece de noite.

Nossos pais e avós não estão acostumados com robôs humanoides. Preferem cães, já que estes acompanham os seres humanos há mais de 100 mil anos! Robôs tem décadas (eu falei "robôs" e não "autômatos". Seja um bom menino e pesquise a respeito). Cla-aro que temos a tendência de preferir outro ser biológico. Mas cães, embora ótimos de servir como guias para cegos, não são muito funcionais na hora de fazer café.

Cory-Ann Smarr podia ser como Susan Calvin, mas a primeira ainda não tirou seu PhD. Ela também é um pouco mais alta que a drª Calvin e não possui uma falta de encanto como a psicóloga de robôs. Smarr trabalha com interação humano-robô e com robótica assistiva no Instituto de Tecnologia da Georgia.

Juntamente com sua orientadora, drª Wendy Rogers (que não tem nenhum ancestral que foi cobaia do exército norte-americano), acordo com Cory-Ann (o que dá na cabeça de um pai de registrar uma filha com este nome?), pesquisa como melhorar a vida de pessoas idosas e como é sua relação com robôs. Para Rogers, que não tem nenhum parente que canta música Country, "parece que as pessoas mais velhas são menos propensas a confiar em um robô com a respeito à tomada de tarefas do que com o acompanhamento ou assistência física (…) os investigadores devem ter cuidado para não generalizar preferências ao projetar robôs de assistência."

Pessoas idosas têm maior aversão à moderna tecnologia. São poucos os que se sentem confortáveis com computadores, smartphones etc, mais preferindo deixar tudo na mão dos filhos ou netos do que tentar entender oque diabo é aquela linda tela cheia de desenhinho. um celular é fácil de entender: você digita o número e manda chamar, mas na hora de configurar o bicho temos problemas. Quando comecei a usar computadores, minha avó pediu para eu tomar cuidado e me alimentar bem, pois ela tinha escutado sobre "vírus de computador" e eu devia me cuidar para não ficar doente (você ri, mas eu já vi gente nova olhando para um pendrive como se aquilo fosse magia negra, preferindo o uso de disquetes).

As TV antigamente eram simples: você ligava, trocava de canal (via seletor, cleck-cleck-cleck), aumentava de volume e só (ok, tinha o bombril na antena também, oque tem fundamento científico). Hoje, é tudo mais complicado. Tem hora que eu mesmo não sei onde está o menu específico para impedir que ela corra atrás das crianças, como diria o Carlos Eduardo Novaes (um doce para quem pescar a referência).

Depois de mostrar a adultos com idades entre 65 a 93 anos um vídeo das capacidades de um robô, os pesquisadores pediram a eles sobre a sua disponibilidade para a assistência com 48 tarefas comuns da casa. Os participantes geralmente preferiram ajuda robótica sobre a ajuda humana para tarefas como a limpeza da cozinha, lavar a roupa, e tirar o lixo. Mas quando ele veio para ajudar a se vestir, comer e tomar banho, os adultos tendem a dizer que preferem assistência humana sobre assistência robô. Preferiram, também ajuda humana para atividades sociais, como a família e os amigos chamando, ou receber convidados. Em outras palavras, diferente de Soylent Green, robôs não são gente.

De minha parte, acho que a pesquisa falhou num ponto. Os idosos do estudo eram todos saudáveis ??e independentes, e quase 75%. disseram que usaram tecnologias cotidianas, como telefones celulares e eletrodomésticos. Muitos disseram que não precisa de assistência imediata.

Ora, claro que uma pessoa independente não vai querer nenhuma ajuda, e se ela já saudável não vai querer ajuda de pessoas, quanto mais de um robô. E, cá pra nós, há uma diferença IMENSA entre ligar pro seu filho e programar um robô para tarefas diárias. Pessoal não programava nem o timer do vídeo-cassete… Seria diferente caso a pessoa necessitasse, devido a alguma limitação mais séria, de uma ajuda. Somos arrogantes demais para querer ajuda quando não precisamos, e às vezes até quando realmente precisamos. É triste e depressivo precisar de alguém pra regar as suas plantas e muito pior se for pra lhe dar banho ou limpar a sua bunda.

A verdade que nossos pais e avós viveram num mundo diferente, onde máquinas não falavam, não interagiam, não faziam nada além da simplicidade para a qual elas foram desenvolvidas. Eu acho muito estranho o SIRI, pois falar com uma máquina é algo meio bizarro, apesar que é natural que falemos ao telefone, mas não com o telefone. Some-se a isso que um smartphone não caiu no Vale da Estranheza, mas quando um boneco de metal fala com familiaridade com você, mesmo que seja Andrew Martin, a coisa muda de figura.

As pesquisadoras estão planejando estudos futuros para os adultos que atualmente precisam de ajuda com as tarefas diárias, pois este será o verdadeiro foco. Entretanto, não creio que robôs como a Rose estarão no mercado em breve, até que conheçamos todos os principais comportamentos da máquina mais idiossincrática que existe: o próprio ser humano, até que Isto possa servi-lo de forma mais adequada.

Só espero que não sejam tão feios quanto o RIBA, o Pedobear robótico.


Fonte: Georgia Tech

17 comentários em “Robôs-ajudantes são o futuro? Não para idosos

  1. Acredito que um dia os robôs farão a diferença no futuro, principalmente no aspecto econômico. Mas infelizmente ainda existe essa tecnofobia da parte dos mais velhos, especialmente no “terceiro mundo”. Aqui no Japão os robôs parecem já fazer parte da natureza japonesa. Tanto que o país é o mais automotizado do mundo: são 265 robôs para cada 10.000 trabalhadores (Cingapura vem em segundo com 169 e Coreia do Sul com 165. A Espanha com 84 fica na lanterna. Isso vi numa revista e não tenho link :P ) e mesmo na sua pior crise tem um índice de desemprego relativamente baixo: só de 4,8% e Cingapura fica abaixo dos 3%. A Espanha, bem…

    Eu pessoalmente dispenso robôs para afazeres domésticos. 1º porque eles sairão BEEEEM caros, 2º gastarão uma energia danada, especialmente carregando baterias, 3º manutenção, e fora que não durarão para sempre. O dia que esse troço pifar de vez teremos um belo trambolho em casa. Como jogar isso fora?

    Bem, prefiro esse robozinho aqui que aspira toda casa, vai para o carregador sozinho e ainda é barato.
    http://www.youtube.com/watch?v=te1YgVqvaiA&feature=related

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    1. PS: adquiri o iPhone 5 mês passado. O SIRI é realmente fantástico, mas quase não uso ele para algo útil. Apenas brinco. Uma vez disse para “ela” (a voz é feminina) “Eu te amo!” e ela me respondeu “Você não pode se declarar para alguém sem conhecer pessoalmente” e perguntei como poderia e ela disse: “Por qual motivo você quer saber?”

      Parei aí… :oops: Deu medo…

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    2. Não é algo “de velho”. As pessoas são meio luditas. Preferem ficar numa fila imensa no cinema, enquanto eu compro no Ingresso.com ou uso máquina de auto-atendimento (normalmente vazias). Acham que o “sistema” vai roubar-lhes no cartão de crédito, mas meu irmão teve o cartão clonado duas vezes quando foi abastecer o carro.

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  2. É natural que a atual geração de idosos tenha mesmo essa resistência a novas tecnologias, mas a a geração de idosos de daqui a uns 20 ou 30 anos, será que essa geração que nasceu e foi criada rodeada de tecnologia, ainda terá essa resistência ?
    Isso é problema da faixa etária ou porque a geração atual de idosos teve pouco contato com tecnologia ?

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      1. @André, Certo, tecnologia não tem a ver somente com computadores e robôs. A idéia que gostaria de transmitir e minha dúvida é: Se a atual geração que tem hoje grande contato com computadores e robôs, quando ficar idosa, terá a mesma resistência da atual geração de idosos que não tiveram ou tiveram pouco contato com computadores e robôs ?

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    1. @Franzoi, A nossa geração durante a velhice falará da mesma forma acerca das novas tecnologias, pois aversão a mudança parece ser parte de nós macacos pelados.E quando ouço isso fico imaginando os velhinhos daqui uns anos jogando Counter Strike na pracinha e falando que tudo no seu tempo era melhor.
      “Isso é problema da faixa etária ou porque a geração atual de idosos teve pouco contato com tecnologia ?”
      :???: Tecnologia na boca de alguns virou sinônimo de computadô e Iwhatever.

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  3. Interessante a pesquisa. Eu pensaria que por uma questão de privacidade, as pessoas iriam preferir o auxílio de robôs para se vestir, comer, tomar banho, trocar a fralda, etc.
    A propósito, no filme “Soylent Green” (1973) não há robôs. Mesmo na história original “Make Room! Make Room!” do excelente Harry Harrison, não existem robôs.

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    1. A propósito, no filme “Soylent Green” (1973) não há robôs. Mesmo na história original “Make Room! Make Room!” do excelente Harry Harrison, não existem robôs.

      JURA? Estou estupefato.

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    2. @Cyro,

      “Em outras palavras, diferente de Soylent Green, robôs não são gente.”

      A inferência é sobre o que os robôs são feitos e sobre o que o bolacha verde é feita. ;-)

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  4. só eu achei que a japinha* (no vídeo) estava com cara de medo o tempo todo?

    Sem contar que foi um processo 99% assistido.

    *Oi, Cardoso.

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  5. “Pessoal não programava nem o timer do vídeo-cassete… ”
    Eu pessoalmente nunca programei o vídeo-cassete por que os programas nunca começavam no horário anunciado…….
    Claro que haviam dois relógios diferentes e dois interesses diferentes (meu e da emissora) em conflito.
    No caso de programar um robo para me alimentar ou me dar banho, quando for um velho capenga, ele terá que ter inteligência para resolver este tipo de conflito, já que nem sempre vou querer comer na hora programada, nem tomar banho na hora programada. O robo terá que pesar se estou com razão naquele momento, se estou sendo teimoso, ou se quero só testar a programação dele, e ele terá sempre que decidir pelo meu bem. Como alguns enfermeiros de hoje, que dizem “Ou come, velho inútil, ou te encho de porrada!”
    DEsenvolver esta inteligência é a parte mais díficil ( considerar o bem da pessoa, e não dar porrada nela, vamos deixar claro)

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    1. @reinaldo, Reinaldo, eu conheci gente que colocava fita isolante sobre o relógio do VCR para não ver ele piscando em 12:00 o tempo inteiro… Ou seja, não estamos falando de usar o timer, e sim ajustar o relógio!!!! Algo que muitos não fazem até hoje nos fornos de micro-ondas que tem relógio no display…

      Quanto ao seu argumento dos programas nunca começarem no horário, isso não é inteiramente verdade, já que vários canais respeitam o horário estipulado (de modo geral os canais pagos, TV aberta é que não respeitava muito), e sempre existiu a possibilidade de programar o aparelho para iniciar a gravação antes do horário marcado, e terminar depois (1/2 hora? 1 hora? OK, desperdício de fita, mas dava para fazer)

      Mas posso inferir que no seu caso, quando você for ter um robot para te ajudar no futuro, você vai fazer como já fazia no passado: não vai programar nada, e vai ativar o bichinho sempre que quiser tomar banho ou comer, sem despender nenhum esforço extra para ler o manual e descobrir como programar o robot…

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