Robótica educacional é algo recente, mas não deveria ser tanto assim. Os princípios de Mecânica e situações práticas em termos de Física aplicada já deveriam constar dos nossos currículos há muito tempo. Obviamente, temos que levar em conta o aspecto que isso alienaria nossas crianças, deixando-as menos reflexivas sobre as vicissitudes filosóficas numa conjuntura babaca e sem sentido, tão amada pela escória que dita os rumos educacionais do país.
Só muito recentemente alguns colégios (em geral, de classe média, média alta, rica pra cacete) incluíram aulas de robótica educacional, as quais eu acho que estão bem aquém do que deveriam ser, mas é um começo. Entre os vários kits de montagem existentes, a Barobo lançou um que é totalmente modular, pronta para dominar o mundo… ou, pelo menos, ensinar algo a nossas crianças.
Quando eu era menino, e isso vão longas décadas, havia os kits da Lego. O máximo que vocês, pedantes, poderiam chamar de "tecnologia" (afinal, na mente tola "tecnologia tem a ver com informática apenas) eram carrinhos de controle remoto, que eram caros e ainda continuam caros; nessa época, computador era coisa de ficção científica. Hoje em dia, kits como o Mindstorms vêm com sensor disso, sensor daquilo, dança, frita ovos e sussurra "Morte aos Humanos!"
Este é um tipo de kit de mobot, isto é, um robô móvel, e antes que você venha me corrigir, EU SEI que todo robô se move, nem que seja um braço, mas esta mobilidade é reduzida e simplista frente ao que um mobot faz, que é desde montar uma espécie de linha de produção até servir de veículo,
O Mindstorm é muito bom, mas tem algumas limitações, principalmente pedagógica. Uma delas é que as revistas trazem os modelos já ditados do que e pra fazer. As revistas que trazem estas atividades e propõem um problema, só que na verdade não propõem problema nenhum. Ele começa com uma história em quadrinhos (sempre) tecendo sobre um tema, e parte para a montagem. Por exemplo, fala de órbitas planetárias e propõe criar um miniplanetário, com a Terra girando ao redor do Sol. A criança contrói e… nada. Só isso. Construiu, acabou. Fim, C’est fini. Sobra pouco espaço para alguma alteração no projeto.
Vendo o projeto de um elevador, eu constatei uma coisa: o projeto estava errado, pois de acordo com a "receitinha", o cabo ficava na diagonal, impedindo que o "cubículo", digamos assim, subisse inteiramente, forçando atrito entre as partes. Eu sugeri uma alteração no projeto, de forma que o cabo ficasse na vertical. A "representante tecnológica" (aka, uma pedagoga que não entende nada de Física) disse que eu não podia alterar o processo de aprendizagem, pois a situação problema bláblábláblá whiskas sachê blábláblá e por isso não podíamos alterar nada. tinha que ser daquele jeito. É aquela velha mania de colocar quem não domina uma coisa para dar aula, se bem que na mente deles basta seguir a receita. O que você ensinou? Uéééé? Era pra ensinar algo?
No caso das Olimpíadas de Robótica (da qual eu tive a infelicidade de participar certa vez e me arrependo até hoje), vemos um festival de robôs lindos e maravilhosos. Bullshit! As crianças contam com ajuda do pai/tio/amigo que fez engenharia, pois não temos tantas crianças de 13 anos tão geniais assim para criar aqueles robôs. Aliado a isso temos que pelas regras, acabam participando adolescentes mais velhos, já no Ensino Médio. É competição desigual, mas quem pediu a minha opinião?
Um kit de robótica educacional que vi esta semana, apesar de mais simples, achei mais legal. É o da Barobo. Simplesmente, seus kits são formados por robôs (quase) independentes, cujos módulos trabalham em cooperação.
Abaixo, temos um vídeo de apresentação.
Maravilhoso, não? Não tão maravilhoso é o preço: Cerca de 270 dólares cada módulo ("lá", obviamente). Conhecendo o Brasil, pais preferirão dar um noutebúque, com acesso à Internet (digrátis, financiado pelo Estado, na maioria dos casos), onde os pimpolhos acessarão conteúdo educacional como sites pra baixar filme pirata, crack de joguinho, Facebook e sites especializados em contingente reprodutivo (ou quase). Construir robôs é coisa de nerd e é mal visto com os amigos, pois gostar de estudar é coisa de loser.
Em termos de aparelhos, eu não acho que o mobot da Barobo substitua o Mindstorms, pelo contrário. Eles devem ser usados em conjunto, mas dificilmente colégios investirão assim. Ademais, sejamos honestos: não há professores capacitados para trabalhar com eles, pois engenheiros e físicos não dão aula pra Ensino Fundamental, tendo as crianças que se contentar com criaturinhas que acham que "tecnologia" é clicar no menu Windows (que ainda chamam "menu Iniciar") e acham mais fácil usar disquetes do que pendrives, pois estes últimos são mais complicados e surtam quando viram que os PC atuais não vêm com drive de disquete (sim, eu vi e ouvi isso).
O material educacional de robótica para crianças ainda é bem podre aqui no Brasil. As crianças limitam-se a construir algo e não a derivar novas soluções. São instadas a um trabalho mecânico quando tinha que ser intelectual, mas para fazer isso é preciso que sejam orientadas, só que não há pessoas capazes disso, pois têm que seguir o que as malditas revistas dizem. Em outras palavras, aquilo já é feito pra ser trabalhado co incompetentes, na base da receita de bolo, e sabemos que nem sempre as receitas saem perfeitinhas.
O objetivo é a criança errar, para que você trabalhe com elas onde ela errou e por que não deu certo. Sorte nunca alavancou nada, e sim as tentativas e erros.
Os campeonatos de robótica são mais uma vitrine de vendas do que algo que vá fazer diferença nos alunos, ainda mais quando não são exatamente eles que projetam e executam, isso sem falar que estimular competição entre eles é algo feio e mal visto pela escória formada por pscopedarretardados. Só faltam falar que nos campeonatos de futebol entre colégios não tenham gols, de forma que acabe empatado sempre.
Uma pena que um país como este não haja kits de peças montáveis com motorzinhos, engrenagens e polias sejam facilmente encontráveis. O que temos são para kits de ensino de Física e são caros, o que inibe a aquisição, fora, como eu falei, que criança que se interessa por ciências é nerd, a família acha que ela tem problemas, deve largar isso e ir ver TV com canais retardados ou se pendurar na Internet sem supervisão, o que só acarretará em problemas. Mas quem se importa com isso? Quantos de vocês conhecem pais que deram kits de Química para seus filhos? 90% dos pais estão pouco se importando, pois criar filho dá trabalho.
No final temos o quê? Idiotas criticando os professores e replicando aquele vídeo idiota do Pink Floyd onde diz que os professores devem deixar as crianças em paz. Ok, perfeitamente, mas não esqueçam de duas coisas que serão importantes para a sua vida: 1) Sem aprender nada, você não será grande coisa. 2) Não gosto de cebola no meu Big Mac.
A propósito, se você quiser mais kits para montagem de robôs (seja para brincadeira ou educacional), você pode comprar no RobotShop.
Muito instrutivo, André… aos 00:54 me fez lembrar o meu Kit que usava carretel de linha, elástico e um pedaço de parafina(para deslizar) o carrinho!! Nosso ensino está sucateado há anos… e como bem você comentou, somente “alguns” privilegiados têm um “certo” acesso a uma pífia parcela de tecnologia em suas salas de aula. Em relação ao seu Big Mac sem cebola… eles agora também estão te ajudando com uma nova receita, ou seja, eles reduziram 15% do sódio no pão e no queijo! Viu, eles querem que vc viva muito para consumir muitos sandubas!!!
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Um outro problema para a popularização de conceitos faça-você-mesmo aplicados à educação, é a mentalidade de que meter mãos à obra é coisa de “trabalhador” (sic), peão e outras denominações de cunho claramente depreciativo. Esse conceito é velho e vem desde os tempos da escravatura, estando bastante arraigado na cultura geral brasileira. Enquanto que nos USA a cultura vigente é a da “Do-it-yourself”, aqui você pode ser ridicularizado por estar “sujando as mãos”.
Outra coisa: se, ao invés de arroubos nacionalistas (tipo a famigerada reserva de mercado de informática), tivéssemos seguido o exemplo da Coréia do Sul e de Taiwan, atraindo para nós empresas multinacionais de eletrônica, hoje seríamos um pólo mundial de excelência tecnológica. Kits científicos, como esses kits robóticos, seriam baratinhos e mais comuns entre as crianças que os indefectíveis tocadores de mp3.
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A questão nem é tanto essa. É que devemos “educar e fazer cidadãos conscientes mediantes paradigmas sociológicos numa conjuntura filosófica sem esquecer a dialétíca do cacete a quatro”.
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Muito bom, gostei da dica do RobotShop, já tô com algumas coisas em mente para um “bonequinho” que encontrei lá.
Lendo seu texto (muito bom sempre) me lembrei desse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=zDZFcDGpL4U&sns=em
Já viu? Pois então, sonho com o dia que alguém aqui (da fundação educacional preferencialmente) tenha uma visão a longo prazo do sistema educacional como esse camarada, que parece de tentar seguir panfletos e passe a pensar no sistema educacional do próximo século.
Concordo com você que o maior problema da educação do Brasil não está na falta de dinheiro para grandes laboratórios de pesquisa ou similares, e sim no princípio, na estrutura que além de defasada é totalmente equivocada no que diz respeito às pautas primárias de ensino, onde o importante é decorar coisas de gosto questionável (Olá Paulo Coelho) do que realmente tornar a criança um adulto capaz de raciocino lógico, crítico e inovador. Alguem que possa de alguma forma somar algo á sociedade, e não só mais uma boca para alimentar e proferir palavrões.
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Em nenhum momento foi dito no vídeo que temos que nos preocupar com a problematização circunstancial de uma novo paradigma psico-social. em suma, o vídeo é perfeito e estamos fazendo algo diametralmente diferente. Ou seja, não temos salvação.
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De fato, foi isso que me chamou a atenção, pois a preocupação primária não só é do que ensinar, que também estamos bem mal, e sim do “como ensinar” que estamos péssimo.
Minha mãe é professora, fez um zilhâo de pós, aperfeiçoamentos, e toda uma cacetada de coisas…. E só serviu para ter aumento no salário, que de ridículo passou para ruim, pois tudo de novo que ela tentou trazer para sala de aula foi cortado no melhor estilo Kim Jong-il. Ou seja o governo “gastou” para que ela aprendesse novas “coisas” para ter certeza que ela vai continuar fazendo o mesmo de sempre, seguindo o livro tosco que ela recebe todos os anos.
E foi assim que a expressão WHAT THE FUCK foi criada, no sistema educacional brasileiro.
Mas sobre não ter solução, bem… Espero que isso não seja verdade, apesar de tudo sempre tem algo a ser feito a respeito. O difícil é colocar as pessoas certas no poder.
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Eu pensarei nisso quando me efetivar como Governador Supremo da Galáxia.
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Muito bom, achei bastante instrutivo e vou mostrar para meu primo pequeno. Ele sempre gostou de quebrar os eletrônicos para ver como funcionam, dizem que isso é um bom sinal.
Quanto à aplicação desses conceitos nas escolas do Brasil, acho que o maior problema são os pais. É claro que tem uma parcela de responsabilidade da escola e dos professores, mas é só a instituição resolver fazer algo que preste e que exija algo que chovem pais para dizer que os coitadinhos estão estudando demais, estão sofrendo e os professores estão “pegando muito pesado”. Conheço pais (e aposto que a maioria aqui também) que ficariam boquiabertos em saber que uma escola de ensino infantil e fundamental está ensinando Robótica. Mas não custa sonhar com um Brasil melhor, não é mesmo? :|
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Concordo, mas esse “boquiaberto”é apenas por eles não saberem o que está sendo ensinado, que acaba sendo tudo, menos robótica, onde os alunos não constróem seus próprios projetos e sim modelos prontos.
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Não tenho nenhum destes kits de robótica, mas deixo minhas filhas mexerem em todas as minhas ferramentas. Estes dias queriam montar um carro motorizado (claro que fiz 70% do carrinho), mas tentei deixar elas sozinhas ao máximo, só interferindo quando a coisa não estava avançando…..
Espero estar fazendo a coisa certa…. :mrgreen:
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Eu me sentia a “gênia” quando ganhava aqueles baldes de lego e montava estruturas, digamos, psicodélicas.
Fiquei triste por não ter tido isso na minha infância :/
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André, acho que você vai odiar o que vou dizer, mas vou dizer assim mesmo.
Qualquer semelhança entre as suas refregas com essa estirpe de BUROCRATAS DO ENSINO (aka. Pedagogos) com a briga de animais da mesma espécie por algum motivo qualquer (como fêmeas ou comida por exemplo) NÃO é mera coincidência.
E Pink Floyd é o som da derrota, que cai muito bem para quem quer se evadir dos desafios que a vida trás.
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