O que é lixo espacial?

lixo-espacial2.jpgEm 16 de dezembro de 2008, a astronauta da NASA Heidemarie Stefanyshyn-Piper perdeu sua bolsa de ferramentas, que saiu de seu alcance, iniciando uma órbita ao redor da Terra; e, não. Nada flutua no Espaço. Qualquer corpo está em queda livre. O que pode parecer apenas um irritante contratempo (Stefanyshyn-Piper teve que dividir as ferramentas com seu colega, a fim de continuar o conserto na ISS) pode significar um grande problema futuro. Desde que se iniciouy a corrida espacial, milhares de corpos (entre ferramentas, restos de foguetes, satélites velhos, parafusos e a bolsa de Heidemarie) estão em órbita ao redor da Terra. Isso pode parecer insignificante, mas não é. Para saber mais sobre isso, convém consultarmos o Livro dos Porquês.

Com os EUA e a URSS disputando cada centímetro do Espaço, a Fronteira Final, mais e mais foguetes estavam sendo lançados. Satélites espiões começaram a perambular pela exosfera, a camada superior da atmosfera fica a mais ou menos 900 km acima da Terra. Então vieram as estações espaciais, o Skylab, os ônibus espaciais e toda uma gama de parafernálias espaciais. Por causa disso, o astrofísico Donald J. Kessler propôs a denominada “Síndrome de Kessler”, que basicamente é um conjunto condições caóticas no meio ambiente espacial, inferindo numa tendência de resultar num efeito de colisões e reações em cadeia envolvendo os satélites e outros objetos em órbita ao redor o planeta.

Falando de modo menos empolado, Kessler deu a feliz notícia que a gama de detritos e lixo espacial circundante ao nosso planeta pode ser o foco de diversos acidentes e catástrofes. Satisfeito? Pois é. Pode sempre contar conosco para alegrarmos o seu dia. O artigo do dr. Kessler, em PDF (in English, of course), pode ser baixado AQUI.

Imaginem uma situação hipotética,mas plenamente provável de acontecer: dois satélites em rota de colisão, um com o outro. Chegando a uma velocidade de cerca de 32 mil quilômetros por hora (sim, você leu certo), os dois aparelhos terão um impacto imenso e a força do choque, coma bênção de Pai Newton de Oxossi, fará com que ambos virem uma miríade de estilhaços de diversos tamanhos, viajando em velocidades de aceleração contínua, já que – caso não saibam – não há ar no Espaço e, portanto, não há atrito para freá-los.

Isso parece ruim o bastante? Não, se alarme ainda! Pense em um estilhaço de, digamos, 100 gramas viajando a uma velocidade de 30.000 km/h (ou 8.333,33 m/s), indo em direção a um astronauta. As leis básicas da Física não podem ser ignoradas e a Energia Cinética do corpo em movimento (pois energia cinética é energia de movimento) é calculada pela fórmula Ek = 0,5.[m . v²] , e para o caso em questão, teremos: Ek = 0,5 . [0,1 kg . (8.333,3 m/s)²] = 3.472.219,45 joules ou 3472,22 kJ ou 3,47 MJ. Seria como tomar uma porrada de uma kombi vindo a mais de 200 km/h. Para fins de comparação, a velocidade inicial de um projétil de fuzil automático leve (FAL) 7.62 mm é de cerca de 850 m/s (3060 km/h) Ficou mais feliz? Pense que você está lá na quietude silenciosa do espaço e um estilhaço de satélite vem bem em sua direção. Agora, pense em algo com 5 quilogramas. Não foi informado a massa da bolsa de ferramentas de Heidemarie, mas imagino que deva estar a essa velocidade.

E se você pensa que as probabilidades não passam disso, probabilidade, saiba que em 10 de fevereiro de 2009, um satélite militar russo Kosmos, desativado desde 1995, e um satélite de telecomunicações americano da rede Iridium, ainda em funcionamento, colidiram com tudo a 800 km acima da Sibéria, espalhando na alta atmosfera mais de 700 pedaços grandes, e milhares de pequenos fragmentos, conforme noticiamos ano passado. Esperou-se que, com um pouco muita sorte, a maior parte daqueles detritos entrassem bem perto do campo gravitacional terrestre, de modo que este atraísse a lixarada, para ser lindamente vaporizada durante a (re)entrada. Mas não é bem assim que a coisa funciona.

Alguns estudos atualmente propõem formas de minimizar este problema. Algumas são bem básicas, como usar um satélite cata-lixo, o qual teria uma espécie de rede metálica que recolheria pedaços maiores, de modo que pudessem cair em direção à Terra. Outro plano, que mais parece ficção científica, seria usar satélites que disparariam um laser para que “empurrasse” os detritos para a Terra, também. Imaginaram que isso provavelmente não vai dar certo. Eu proponho que se faça uma espécie de Estrela da morte. Seria muito mais maneiro, com aquele disparo verdão e… ops. Acho que explodir o planeta junto não seria algo popular.

Ainda hoje discute-se como resolver estes problemas, mas as ideias ainda não passam de ideias apenas. Para o futuro próximo – com o início de missões mais longas, como a ida à Marte – os detritos espaciais estarão em maior quantidade e oferecendo riscos maiores ainda, tanto para as estruturas, que podem ser reconstruídas, como para os astronautas e cientistas. E se você levar em conta que o turismo espacial estará em franco desenvolvimento, a coisa ganha proporções alarmantes, e precisa ser solucionado logo. Mas, para isso, os cientistas não podem sofrer severos cortes de verbas, como sempre acontece.

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