Ao contrário do que muitos podem achar, o Brasil não é tão atrasado em termos de Ciência. Muitos cientistas se destacaram no passado, e uma das principais confirmações da Teoria da Relatividade veio, como Einstein mesmo disse, do luminoso céu do Brasil. No campo da Astronomia, um dos principais nomes brasileiros que merece destaque é o de Alypio Leme.
Alypio Leme de Oliveira nasceu em Bragança Paulista em 22 de novembro de 1886. Ele terminou seus estudos secundários – como era chamado o Ensino Médio na época – no Colégio do Seminário Episcopal, onde se matriculara em 02 de março de 1897, concluindo o curso de Humanidades em 1903. Foi um dos fundadores da Companhia rede Telefônica de Bragantina, em 1905, chegando a ser um de seus diretores. Essa companhia deu origem à Companhia Telefônica Brasileira, CTB, em 1912.
Em 1907, Alypio Leme ingressou na Escola Politécnica de São Paulo. Esta instituição seria reunida, mais tarde, com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, a Faculdade de Medicina, a Faculdade de Direito e a Faculdade de Farmácia e Odontologia, dando origem à Universidade de São Paulo, USP.
Na Politécnica, Leme cursou Engenharia Civil até o 5º ano, diplomando-se em Engenheiro Geógrafo; mas enquanto estudava – e com base nos conhecimentos adquiridos, interessando-se por Astronomia – Leme escreveu durante o ano de 1910 vários artigos para os jornais da Capital, como o Diário Popular e Correio Paulistano, sobre o cometa Halley, que nessa época passava pelo seu periélio, o que contribuiu para que mais tarde, em 1927, fosse convidado para dirigir o Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo.
Na Escola Politécnica, exerceu a presidência do Grêmio Politécnico e a presidência da redação da Revista Politécnica, em 1912, passando no mesmo ano a diretor da Revista de Engenharia. Também neste ano, instalou a Companhia Fabril de Bragança. Exercendo a profissão de Engenheiro-Chefe da Tração da Seção Bragantina, ramal da The São Paulo Railway (mais tarde, esta empresa seria parte da Rede Ferroviária Federal SA – RFFSA), cargo que ocupou até 1923, quando fundou as Oficinas de Construções Civis e Mecânicas de Bragança.
Alypio Leme ainda continuou dedicando-se à Astronomia. Em 22 de junho de 1927, foi convidado por Gabriel Ribeiro dos Santos, então Secretário da Agricultura, para ocupar o cargo de Diretor do Serviço Meteorológico do Estado, em substituição do diretor interino Eliezer Rodrigues dos Sanctos Saraiva e, ao mesmo tempo, para organizar o projeto da criação do Serviço Meteorológico e Astronômico do Estado de SP, que fora criado pela Lei Estadual nº 2261 de 31 de dezembro de 1927. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto estadual nº 4388, de 14 de março de 1928, que confirmava que os serviços mencionados seriam desenvolvidos no Observatório Astronômico e Meteorológico, situado na Avenida Paulista nº 69.
Em 1927, com o rápido crescimento urbano, o local, que em 1910 era considerado ideal para a instalação do Observatório Astronômico, foi pouco a pouco se tornando inadequado para as observações astronômicas regulares, principalmente pelo aumento das áreas iluminadas em suas vizinhanças. Os bondes elétricos que já trafegavam na Av. Paulista produziam abalos e interferência nos incipientes serviços de geomagnetismo e sismologia. Para agravar ainda mais a situação, a prefeitura da Capital pretendia executar um projeto para o prolongamento da Av. Anhangabaú (hoje, Av. Nove de Julho) para além da Av. Paulista, através de um túnel a ser aberto por baixo do Trianon, o atual túnel Nove de julho. Estas obras previstas viriam a comprometer ainda mais o já precário funcionamento do Observatório de São Paulo.
Em vista disso, ainda no ano de 1927, Alypio Leme já estudava também a possibilidade de transferência do Observatório de São Paulo para outro local mais conveniente, pois conforme menciona a sua Exposição de Motivos, apresentada ao Secretário da Agricultura, Indústria e Comércio em outubro de 1927, eram:
Por apresentação do astrônomo Leon Cap (1897-1948), que, mais tarde, no período de 1930 a 1933, participaria dos trabalhos do Observatório de São Paulo, recebeu em 1930 o título de membro perpétuo da Societè d’Astronomie d’Anvers (Antuérpia, Bélgica), como reconhecimento de seus trabalhos científicos na direção do Serviço Meteorológico e Astronômico do Estado de SP. No mesmo ano de 1930, Leme organizou o projeto definitivo do novo Observatório Astronômico de SP, dando início às suas obras no Parque do Estado em 24/02/1932. A inauguração foi em 25/04/1941.
No que se refere às observações astronômicas, não há muitos registros. No Relatório referente ao ano de 1930, Alypio Leme menciona que, no dia 19 de março de 1930, utilizando o refrator Zeiss de 175 mm, equipado com uma câmara solar (um de seus assessórios), foi tomada a primeira fotografia do Sol realizada em São Paulo. Foi iniciado assim, o Serviço Heliográfico do Observatório de São Paulo.
Também no campo das observações astronômicas, foi realizada uma sequência fotográfica das diversas fases do eclipse parcial da Lua, em 13 de abril de 1930, obtida também com o refrator Zeiss, publicada na Revista Politécnica nº 99.1930, e nas Publicações do Observatório de São Paulo, também em 1930. Esse foi o primeiro trabalho de fotografia astronômica nessa modalidade em São Paulo.
Alypio Leme de Oliveira dirigiu o Instituto Astronômico e Geofísico até 19 de janeiro de 1955 – mesmo ano do falecimento de Albert Einstein – época em que solicitou aposentadoria, sendo substituído pelo professor Abrahão de Moraes, da Universidade de São Paulo.
O digníssimo Alypio Leme de Oliveira faleceu na cidade de São Paulo, em 4 de dezembro de 1956, deixando uma marca indelével de sua passagem pela Diretoria do Serviço Meteorológico e Astronômico do Estado de São Paulo, o belo conjunto arquitetônico que é o Observatório de São Paulo, sede do IAG, hoje denominado Observatório Alexander Postoiev.
Alypio Leme de Oliveira é um orgulho para a ciência brasileira e também é um dos Grandes Nomes da Ciência.
Para saber mais: Instituto Astronômico e Geofísico da USP: Memória sobre sua formação e evolução