Aviões, raios e a Ciência vencendo Deuses

A ira do Filho de Odin acendeu-se frente a figura diante dele. Os ventos rugiram, o Sol começa a se esconder perante a batalha épica. Mjolnir ressoa alto, mas o poder ancestral no Irukerê de Oyá, a Senhora das Tempestades e Mãe do Céu Rosado (em Iorubá: Iansã) repele. Os mortais se escondem nas cavernas aterrorizados, cobrindo os ouvidos perante um som assustador. Relâmpagos cruzam os céus, aquecendo a massa de ar que se expande rapidamente e quebra a barreira do som, fazendo o mundo rugir com os trovões, o qual, obviamente, só será ouvido muito depois, já que na minha matemática 340 metros por segundo ainda é bem inferior a 300.000 quilômetros por segundo.

Mas há um poder maior que tudo isso e um homem que olha pra cima entende isso ao ver um raio atingir um avião, e o resultado foi…

NADA!

Ficar dentro de um avião a uma altura de 1000m, com céu relampejante, é mais seguro do que ficar com os dois pés no chão. Loucura? Pode parecer, mas isso é fácil de entender se você lê o LIVRO DOS PORQUÊS.

De acordo com a notícia veiculada pelo Metro, Birk Möbius fotografou um Boeing 777 saindo de Frankfurt com destino a Leipzig, Alemanha, às 19:40 CET (15h40min, Horário de Brasília). Seria como mais um fotógrafo entediado (não farei a piadinha de paulistanos indo pro aeroporto para dar milho pros aviões, já que é piada datada. Obrigado por me lembrar, Takata) se sua foto não tivesse saído esplêndida. Tendo como fundo um arco-íris, um o Boeing 777 foi atingido por um raio.

O avião não deu a menor bola pra isso e continuou seu voo normalmente. E por que não continuaria? Mais fortes do que Thor e Oyá são os poderes de Jesus Michael Faraday.

O grande Michael Faraday nasceu em Newington, no condado de Surrey, aos 22 dias do mês de setembro de 1791, 2 anos depois da Queda da Bastilha e faltando poucos meses para começar aquela coisa linda que conhecemos como Reinado do Terror, na França.

A sorte de Faraday é que ele não nasceu na França. O azar dele é que nasceu pobre. Mas tão pobre, pobre de marré deci (ou Marie D ’Issy). Ele era tão pobre que acabou tendo que sair da escola, cujos professores não iam com a cara dele. Assim, ele teve que ir trabalhar aos 13 anos como aprendiz de encadernador de livros. Lá, um dos livros que lhe caiu à mão era Conversas sobre Química, de Jane Marcet, cujas obras você pode ler graças aos poderes da Internet. Este livro abriu para Faraday as fronteiras da Ciência, e nunca mais se fechou. Ele começou a poupar dinheiro e fazer suas próprias experiências eletroquímicas, resolveu ir a uma palestra de Humphry Davy, pediu um cargo de assistente e o resto é história.

Eu paro aqui, porque a biografia de Michael Faraday é muito conhecida e se eu fosse falar tudo sobre ele ficaria horas e mais horas.

O mais legal que Faraday pesquisou foi o que acontece quando se coloca algo dentro de uma gaiola feita de material condutor e deixa-se passar uma corrente elétrica por sobre sua área externa. Encurtando: nada.

Quando um campo elétrico encontra uma superfície condutora, ele rearranja os elétrons do metal. Isso porque os metais têm uma ligação química muito particular, em que seus elétrons formam uma "nuvem eletrônica", mas dessa nuvem nenhuma foto de um átomo pelado é vazada. Esses elétrons, por não estarem saracoteando dentro do átomo original, acabam indo de um lugar pro outro e, por isso, metais são tão bons condutores de eletricidade

E é por isso que coisas assim acontecem:

Eu tinha aprendido com o MacGyver que eram os pneus que isolavam o carro da corrente elétrica, mas MacGyver estava errado (sim, eu também não acreditei quando descobri). Aquela ridícula tira de borracha não suportaria milhares de volts passando pela superfície do carro. E se você pensa que isso só acontece em ambiente controlado, acho melhor você rever os seus conceitos:

Quer fazer sua própria Gaiola de Faraday? Pegue um celular e ligue pra ele. Ele recebe a chamada? Ótimo. Não recebeu? Reclame com a operadora. Agora, pegue uma folha grande de papel alumínio e faça um "envelope" com ela. Coloque o celular dentro e feche o "envelope". Tente ligar para ele agora. Tela de galinheiro também funciona e qualquer emissão eletromagnética não conseguirá penetrar a gaiola. Isso dá o que pensar: porque bloqueadores de celulares em prisões são tão caros? Bem, não entrarem nessa discussão.

Nossa tecnologia venceu a ira dos deuses do trovão. Nem mesmo Pikachu conseguiria derrubar aquele avião, quanto mais Zeus. Javé não conta, porque qualquer calhambeque feito de ferro inutiliza aquele deus bundão.

Assim, quando estiver relampejando forte, o lugar mais seguro é ficar com a bunda dentro do carro. Qualquer dúvida, dá uma checada em como os carros ficam depois de serem acertados por raios, mediante o National Lightning Safety Institute. Sair correndo em campo aberto é garantia de ser acertado. E aquele vídeo do mané sendo atingido duas vezes é mentira.

Michael Faraday, o domador da eletricidade, faleceu em Hampton Court, 25 de agosto de 1867. Não precisou de cotas, ENEM nem assistencialismos para fazer a diferença no mundo. Pense sobre isso quando você começar a usar coitadismo dentro de um fusca, no meio de uma tempestade elétrica.


PS. Sim, eu sei que a notícia tem quase um mês. A explicação continua sendo maneira assim mesmo.

PS 2. Quem venceria uma batalha entre Thor, Oyá, Zeus, Ororo Monroe, Electro e o Pikachu?

PS3. Já estamos no Play 4 e ainda essa piada?

3 comentários em “Aviões, raios e a Ciência vencendo Deuses

    1. @Thiago, Nope. Thor daria uma doidinha no Zeus. Tá certo que o Zeus era um baita pegador, e nisso Thor poderia até invejá-lo, mas Thor era um guerreiro nato. Heil, Thor!

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