
Marte é o tipo de planeta que parece ter saído de uma sessão de brainstorming entre um roteirista de ficção científica, um poeta épico e um geólogo com um fraco por dramas cósmicos. É vermelho, é rústico, é o Clint Eastwood do sistema solar: todo marcado, cheio de cicatrizes e com uma história que faz você querer sentar com uma pipoca e ouvir. Por mais de duas décadas, a sonda Mars Express da Agência Espacial Europeia (ESA) tem orbitado esse caubói interplanetário, tirando fotos como um paparazzi obcecado, e um de seus alvos favoritos é Acheron Fossae, uma região que parece o caderno de rascunho de um titã com um péssimo dia.
Dando um zoom nesse canto do Planeta Vermelho, vemos cada rachadura e colina, e eles contam uma novela geológica que mistura bilhões de anos de fúria, paciência e um toque de azar cósmico.
Acheron Fossae é o que acontece quando Marte decide que quer ser dramático. Há 3,7 bilhões de anos, quando o planeta ainda era um jovem rebelde com magma correndo nas veias, a crosta marciana foi esticada e rasgada como a calça jeans de um roqueiro num show dos anos 80. O resultado? Horsts: cristas elevadas que se erguem como fortalezas antigas, prontas para um duelo ao pôr do sol. Além disso, ainda temos os grabens, vales afundados que parecem o suspiro de um planeta que acabou de levar um fora.
Essas falhas, ou fossae, como os cientistas gostam de chamar com seu latim chique, são cicatrizes de um tempo em que Marte era geologicamente mais ativo que um vulcão em dia de erupção. O magma borbulhava sob a superfície como água fervendo, forçando a crosta a se partir em rachaduras que atravessam quilômetros, como se o planeta tivesse decidido fazer terapia cortando a própria pele.
Só que Marte não é só um drama adolescente fossilizado. Depois que a crosta terminou seu chilique, entraram em cena os verdadeiros artistas do tempo: as geleiras rochosas. Imagine uma mistura de rocha, areia e gelo se arrastando com a pressa de uma tartaruga em férias, esculpindo o terreno com a paciência de quem pinta a Capela Sistina com um pincel de cerdas. Essas geleiras lentas, quase absurdas, moldaram colinas arredondadas – carinhosamente chamadas de “knobs” pelos cientistas, porque aparentemente poesia não é o forte deles – e mesetas de topo plano que parecem mesas de piquenique cósmicas, esperando por um churrasco intergaláctico.
O resultado é uma galeria natural, onde cada curva e platô parece gritar: “Olha, eu levei milhões de anos pra ficar assim, então, dá um like!” E se você acha que a paisagem já é digna de um Oscar, espere até dar um passo para trás. A 1.200 km dali, ergue-se o Olympus Mons, o vulcão mais alto do sistema solar, com seus 22 km de altura. É como se Marte tivesse olhado para o Everest e dito: “Segura minha cerveja.”
Esse monstro vulcânico é um troféu de imponência, um lembrete de que o Planeta Vermelho não brinca em serviço quando o assunto é grandiosidade. Ele fica nas planícies altas, a oeste de Acheron Fossae, como um avô orgulhoso assistindo às façanhas de seus netos geológicos. Mas nem tudo é glória em Marte. O planeta é também um saco de pancadas cósmico, com crateras de impacto espalhadas por Acheron Fossae como confete numa festa que ninguém limpou.

Essas cicatrizes, algumas frescas como fofoca de ontem, outras desgastadas como lenda urbana, contam a história de um Marte que aguenta bombardeios de rochas espaciais com a estoicidade de um veterano de guerra. Cada cratera é um lembrete de que o universo joga duro, e Marte, com sua crosta avermelhada, é o tipo de planeta que leva o golpe, sacode a poeira e continua posando para as lentes da Mars Express.
Falando nisso, a Mars Express é a verdadeira MVP dessa saga. Há mais de 20 anos, essa sonda incansável orbita Marte como um detetive galáctico (ou fofoqueira cósmica), capturando imagens em alta resolução que fazem qualquer feed do Instagram parecer amador. E a boa notícia? A ESA anunciou que ela vai continuar sua missão até pelo menos 2026, talvez mais, como aquele amigo que promete sair da festa às 22h, mas às 2h da manhã ainda está contando histórias.
Isso significa mais tempo para desvendar os segredos de Acheron Fossae e outras paisagens marcianas que são, sem exagero, poemas visuais esculpidos em rocha e poeira. Marte, no fim das contas, não é só um monte de terra vermelha e rochas espalhadas. É um palco épico onde a geologia faz o papel principal, com coadjuvantes como vulcões gigantes, geleiras preguiçosas e crateras que contam histórias de colisões cósmicas. É ciência, é história, é um mistério que prende como uma boa crônica; ou, quem sabe, uma novela das nove com um toque de ficção científica.
Enquanto a Mars Express continua sua vigília, nós aqui na Terra podemos nos maravilhar com um planeta que, apesar de todos os seus dramas, ainda rouba a cena com o charme irresistível de quem sabe que tem uma boa história para contar. E que história! Uma mistura de paciência geológica, caos cósmico e um visual que faz você querer pegar a próxima nave da SpaceX só para dar uma espiada de perto. Só espere alguns anos (ou décadas, mas você não tem pressa, tem?)
Fonte: ESA

Um comentário em “As marcas magmáticas de Marte”