
Unga-Bunga é uma coisa séria! Não pode deixar esses lances de feitiçaria rolando, mesmo quando não há nenhuma feitiçaria rolando, mas no tosco mundo do fanatismo religioso e de crenças tribais de muito antigamente, é melhor não dar sopa para este tipo de ocorrência que, claro, não passa de crendice retardada, se bem que essa é a própria definição de todas as religiões (sim, a sua, também. Desculpe se ninguém tinha lhe avisado antes)
A bola da vez é Jharkhand, o estado indiano onde a Idade Média decidiu tirar férias permanentes e montar acampamento e que resolveu competir com meu lindíssimo Uttar Pradesh. O caso de hoje se deu mais precisamente em Hazaribag, um lugar que soa como o nome de um chefão de videogame, mas é só o palco de uma história tão grotescamente absurda que faria até a Salém colonial pedir um calmante.
Vamos aos fatos, ou melhor, ao teatro macabro protagonizado por gente que, em pleno século XXI, ainda acha que “feitiçaria” é motivo legítimo pra arrancar cabelo e dignidade alheia. Uma viúva de 60 anos foi agredida por seus vizinhos – esses defensores da moral e dos bons costumes – sob a acusação de praticar bruxaria. Sim, bruxaria. Não estamos falando de um jogo de RPG ou de uma convenção de cosplay de Harry Potter.
Os nobres aldeões, que claramente confundem Netflix com manual de justiça, não apenas resolveram cortar o cabelo da mulher: rasparam-na como se fosse um ritual de purificação espiritual patrocinado pela Gillette, como ainda desfilaram com ela pela vila, num espetáculo de humilhação que faria até os inquisidores espanhóis revirarem os olhos.
Não preciso nem pedir calma, porque você já sabe que piora!
O julgamento técnico da sanidade alheia foi feito por um “ojha”, que, pra quem não conhece, é uma espécie de curandeiro local que mistura astrologia com alucinógenos e acha que saber o signo da pessoa já dá direito de decidir se ela merece viver. Esse digníssimo profissional da pseudociência veio diretamente de Koderma (aparentemente o berço da neurologia do século XV) e não só declarou a senhora culpada, como a obrigou a engolir umas ervas mágicas e confessar que era uma bruxa. Só faltou dizer que ela voava numa vassoura da marca Nimbus 2000.
Vou repetir: para vaticinar que a vó era feiticeira, chamaram um feiticeiro, mas como é feiticeiro com costas quentes, ele é aceito e voilà, o que ele falar tá valendo! Não tenta entender.
E o motivo da histeria coletiva, você pergunta? Segundo a própria vítima, alguns moradores queriam expulsá-la para ficar com sua propriedade (ahn, tá… Agora faz sentido…).
Ou seja, toda essa palhaçada medieval não passa de um golpe imobiliário travestido de “pânico sobrenatural”. O tipo de jogada que une o pior do charlatanismo com o maior pior ainda da canalhice. (eu sei. Vou escrever assim mesmo. Não gostou, problema seu!)
Os Meganhas de Shiva arrastaram um dos envolvidos, o que já é um começo e ele já está vendo o Barão Samedi nascer quadrado. Mas os outros seis participantes do festival da vergonha ainda estão foragidos, provavelmente escondidos atrás de uma fogueira esperando um sinal de Hindra, mas este resolveu ir comer um X-Bacon e largou esse pessoal pra lá.
Moral de uma história imoral: em um mundo onde a gente tem carros que dirigem sozinhos, inteligência artificial, vacina de mRNA e cirurgias robóticas, ainda tem gente que resolve um desentendimento como se estivesse num episódio perdido de “Game of Thrones: versão favela”.
Agora, se me derem licença, vou ali conferir se minha vizinha tem uma verruga no nariz. Vai que ela tá tramando alguma feitiçaria pra tomar minha vaga no estacionamento…
Fonte: Deccan Herald

Um comentário em “Bruxas, trambiques e um golpe imobiliário na Índia (óbvio)”