Ciência comprova indica: corpo cheio de microplásticos é um saco!

A gente já sabia que o plástico estava em todo lugar. No oceano, no ar, no sal de cozinha, no peixe que comemos, no pulmão, no sangue, no fígado, no cérebro… e agora, como se não bastasse, ele resolveu invadir os bastidores mais íntimos da existência humana: lá, onde tudo começa e tudo se resolve.

Sim, pois, é. Os safadinhos microplásticos estão agora oficialmente na terra prometida da fertilidade: esperma e ovários. Agora, o termo “saco plástico” ganha outras conotações.

O dr. Emilio Gomez-Sanchez dirige um laboratório de fertilização in vitro, sendo certificado como Embriologista Sênior pela European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE) e especialista em Reprodução Humana Assistida pela ASEBIR. Agora, ele anda fuxicando no que as pessoas tem dentro de si e se são microplásticos, não necessariamente nos micropênis (mas ele não descarta. Botou na mão dele, ele examina com atenção)

O estudo do Emilio foi apresentado no respeitabilíssimo congresso da ESHRE. Emílio enfiou o dedo no microplástico e decidiu abrir o capô da reprodução humana e dar uma olhadinha com o microscópio. O que ele e seu pessoal encontraram? Uma espécie de festa clandestina dos polímeros. Analisando o fluido folicular de 29 mulheres e o fluido seminal de 22 homens, os pesquisadores encontraram microplásticos em 69% das amostras femininas e 55% das masculinas.

E qual foi o campeão de presença no esperma? PTFE, o velho conhecido Teflon, aquele que reveste frigideiras, mas aparentemente também adora se acomodar nas suas partes, seja lá o quais sejam as suas partes, não me interessa! De qualquer forma, estava presente em 41% das amostras. Em seguida vieram o estireno (tipo isopor), o PET (sim, o das garrafas de refri), nylon e poliuretano. Um verdadeiro catálogo da sessão de plásticos da Leroy Merlin, só que dentro de você.

O dr. Emilio disse que não se surpreenderam tanto com a presença, mas com a frequência. Ou seja, eles já desconfiavam que tinha plástico no playground biológico, só não sabiam que estava tão animado assim.

E qual o impacto disso? Ninguém sabe ao certo. Mas spoiler: dificilmente será coisa boa. Estudos em animais já mostraram que, quando os microplásticos se instalam em tecidos, eles podem causar inflamação, produção de radicais livres, danos ao DNA, disfunções endócrinas e células em modo “desisto de viver” (senescência celular). Em humanos, ainda não há provas diretas, mas a ausência de evidência, como sempre, não é evidência de ausência.

Enquanto isso, a Itália também resolveu participar da festa: outro estudo encontrou microplásticos no fluido folicular de 14 das 18 mulheres analisadas. O autor da pesquisa, Luigi Montano, classificou os resultados como “muito alarmantes”. E olha que o sujeito estuda isso faz tempo. Segundo ele, os plásticos podem inclusive reduzir a contagem e a qualidade dos espermatozoides. Uma espécie de vasectomia ambiental não consentida.

A cereja no bolo plástico é que esses intrusos também foram achados na placenta, no útero e até nos testículos humanos — e não em doses homeopáticas. Basicamente, o ciclo da vida agora é patrocinado por polímeros industriais.

E como é que eles entram no corpo, você pergunta enquanto fecha a garrafinha de água mineral? Simples: respirando e comendo. Os microplásticos estão no ar, na poeira, na comida, na água engarrafada e — com um toque de sarcasmo do destino — nos próprios utensílios que usamos para nos proteger da poluição. Estima-se que 10 a 40 milhões de toneladas métricas de microplásticos sejam despejadas no meio ambiente todos os anos. E a conta, como sempre, sobra para o corpo humano.

O bom doutor recomenda medidas simples: usar potes de vidro (aqueles que praticamente não existem mais) em vez de plásticos, evitar esquentar comida em recipientes plásticos, e beber menos água engarrafada. Em outras palavras: troque o plástico onde der, antes que ele troque seu espermatozoide por uma partícula de Teflon com complexo de dominância.

No fim das contas, a reprodução humana está literalmente entrando na era sintética. Se antes falávamos de relações plásticas no sentido figurado, agora é literal. Nossos corpos, nossos gametas, nossos futuros filhos, tudo sob ataque de um material que foi criado para durar para sempre. E aparentemente, ele levou isso a sério demais.

Aqui pensando se não foi isso que causou o jovem. Provavelmente. Será que isso acabará com o Jovem? Talvez. Vamos torcer.

A pesquisa foi publicada no periódico Human Reproduction

2 comentários em “Ciência comprova indica: corpo cheio de microplásticos é um saco!

  1. Ao ler este artigo lembrei da música de abertura do Fantástico. “É Fantástico o homem de plástico…”Parece que está se tornando realidade.

    Curtir

Deixe um comentário, mas lembre-se que ele precisa ser aprovado para aparecer.