Twitter: a Internet de 2007

Vi uma postagem do Elão Musque hoje de manhã que me fez fazer algo que eu mesmo não gosto: uma thread, na qual eu saí falando coisas e… bem, olhe para a imagem de abertura. É uma postagem estilo rant, mas se não esteve bem coeso e pareceu pular de um assunto pro outro, reitero que não é assim, mas como em blogs podemos ordenar melhor os pensamentos (além de terem me pedido por isso), aqui vai um texto.

Tudo começou com esta postagem dele:

https://x.com/elonmusk/status/1872464643266089067

O que Elon Musk está falando é que o algoritmo do Twitter busca maximizar o tempo de uso sem arrependimentos, e se mais contas verificadas silenciarem ou bloquearem determinado perfil em comparação com aquelas que gostaram de suas postagens, o alcance desse perfil diminuirá significativamente. Ele reitera que isso só será válido para perfis reconhecidamente de pessoas e não de bots. Ele pretende associar com a qualidade de uma postagem com a quantidade de perfis com selo viagra interagindo, jurando de pés juntos que bots não serão levados em conta, mas sabemos muito bem que ele quer é instigar a assinatura do plano premium e vai ter um monte de gente criando vários perfis assim, de forma que eles interajam entre si.

Já está acontecendo isso, mas ele jurou também que isso iria contra as políticas da monetização, mas é só prestar atenção. Eu sigo muitos perfis de Arqueologia e História, e o que percebi é o que um posta, os outros dão retweet, e vice-versa. É nítido como muitos dos textos s~]ao postagens feitas no ChatGPT e em todos os perfis o modo de postar é o mesmo. Ou estamos num nível de kibe generalizado, ou é uma pessoa criando vários perfis. Ainda mais que as modernas regras de monetização só levam em conta perfis de verificados interagindo com perfis verificados, não pessoas comuns.

Vai acontecer que nem o período dos blogs e as medidas pagerank, com um clubinho se formando e alavancando um ao outro. O que implicava na receita do adsense.

O pagerank funcionava que o seu nível subia mediante quantos altamente ranqueados interagiam com seu blog postando links, gerando pingbacks e feedbacks. Acabou num tráfico de um esfregando as costas dos outros, alavancando os grandes blogueiros que alavancavam outros grandes blogueiros. O problema que isso acabava com altos valores para cada um, e os pequenos blogueiros morriam porque só os altamente ranqueados apareciam nas buscas do Google primeiro.

O resultado foi o Google perceber isso e pensar “por que pagar por gente ranqueando a si mesmo e colocando-os em evidência se eu posso colocar em primeiro quem paga para mim?”. Google acabou capando monetização de todo mundo, eliminando o pagerank e MILAGROSAMENTE os blogs deixaram de existir e foi cada um pro seu canto pra trabalhar dando palestra como ganhar dinheiro na Internet.

O que acabou com os blogs não foi a falta de leitores. Foi a sanha dos blogueiros tentando manipular os algoritmos. Mesma coisa com os youtubeiros, embora eles ainda existam, mas a receita é outra. A monetização do Tubo já não dá, porque é um modelo de negócios insustentável, como qualquer outro sistema de monetização. O mesmo pro Twitter. Mas esperem, tem outros pontos.

Youtubeiros viraram influenceiros, mas com as mesmas práticas dos blogueiros e do tempo do Orkut: inflar visualizações artificialmente. Esse “inflar” números é artificial no sentido de muitas vezes pagar para empresas que alavanquem falsamente com perfis de bots. Isso já existia no Orkut com os esquemões Bigfollow, em que você pagava para ter mais seguidores e isso num tempo que você não ganhava nada em troca, a não ser o egocentrismo. Em tempos que você ganha mediante uma postagem viralizar, vocês acham que isso não continua? Isso atrai as equipes de jovens que assumiram campanhas de Marketing que pensam em quantas pessoas viram o anúncio, não quantas pessoas irão comprar o produto da marca. Por isso, saiu aquela atrocidade da Jaguar.

O influenceiro ajuda a influenciar as marcas e fazer as pessoas a verem mais, influenciando (enganando) pessoas que veem seus vídeos merdas. Basta um pouco de senso crítico para ver o que tem ali na real, mas 99% das pessoas não têm senso crítico. Por exemplo, minha mulher me convenceu a ir um restaurante. Ótimo com preço excelente. Fui lá e a comida era uma merda, o serviço péssimo e o preço absurdo de caro. Depois que eu perguntei

“Ah, eu vi falarem bem do Instagram.”

Foi o esporro com a explicação do que é jabá e propaganda enganosa. Mas efetivamente, não foi o local quem fez a propaganda, logo, não pode ser processado por isso. Mas notem esses vídeos de perfis que fazem passeios e visitam restaurantes. São LITERALMENTE iguais. A forma como gravam vídeos, como eles são narrados. É tudo igual! Ah, e os influenceiros tem tudo a mesma cara feia de harmonização facial. Nem a fuça desse pessoal é verdadeira. E tome filtro!

Os bons canais do Tubo (nenhum brasileiro. Sorry, not sorry) tem sistemas de assinatura via paypal ou patreon, lhe dando material exclusivo. É assim com o Kings and Generals, e quandovocêvê a produção deles, é cara, claro, com animações, mapas etc. Eles tem vídeos só para seus assinantes. O brasileiro JAMAIS conseguiria isso porque mecenato é uma coisa que soa coo xingamento aqui. Basta ver as avaliações de apps nas lojas de aplicativo: “não ganha 5 estrelas porque tem que pagar por eles. Se ainda fosse gratuito…” App custando 4 reais.

“Mas André, você tem um Apoia.se”

Verdade, mas nem em sonho eu poderia viver dele. Não sou daqueles com temas para arregimentar grande quantidade de pessoas e, essencialmente, posto em português, não em inglês (deveria).

Kings and Generals, por exemplo, tem mais de 5 mil assinantes no patreon. Já os canais de tecnologia fazem jabá descarado de marcas fingindo que estão apenas fazendo testes. Meu amigo, admite que a NVIDIA mandou aquela placa de 5 trilhões de dólares para você falar bem dela ou o público sequer saberia que ela existe. Sim, estou falando do Linus Tech, o canal com especialistas de tecnologia que tomou hack pela fuça uma porrada de vezes Mas ok. Os vídeos dele é que nem um XVideos nerd. O cara vê coisas que nem chegará perto e se diverte apenas vendo.

A Alysson Stoner fez um vídeo falando da relação entre influenceiros e marcas. Por outro lado, tem a parte que causa danos mesmo para as partes interessadas, como é a indústria do turismo, Vários países estão limitando turismo porque está praticamente destruindo as cidades, que não são apenas museus ao ar livre, mas lugares onde as pessoas efetivamente moram. A Caitlin Pawlowski fala sobre isso.

O sistema de influenceiros chegou a ponto de construírem uma verdadeira máfia digital, com perfis falsos e verdadeiros arregimentados sob as asas de um “grupo de mídia”. Isso só para promover e destruir reputações, mas tem os influenceiros autônomos e influenceiros wannabe, apelando para todo tipo de retardo mental para conseguir seguidores e assim serem notados pelas marcas. Isso vai desde gente com perfil de doguinho até os filhos. Parece que já vimos isso antes? Sim, aquilo que começou esse artigo: os esquemas de um perfil chamar outro e muitos deles serem gerenciados por um único. Está funcionando com instagram e tik tok. Musk vai mudar? Só se a mudança dele for o que o Google fez: capar a monetização.

Atentem que o antes chamado “publi” dos blogueiros grandes e imensos virou uma fatia grande em suas postagens, sem dizerem que era um publi. E quando foi dito, as pessoas passam batido, como falado antes. Isso está acontecendo de novo em todas as redes sociais, em especial jogos de cassino online, jogo da Oncinha e similares. E os anúncios, como o Fellipe passou pra mim, são péssimos.

Somando isso tudo, as marcas perceberam que não precisam ter produtos bons, basta convencerem que é bom, como diz o bom e velho marketing. Apple que o diga. Só que agora nem precisa disso. Basta um influenceiro dizer que foi que todo mundo corre pra ir lá, e a falta de senso crítico impede as pessoas de perceberem algo: “péra,o cara foi nesse restaurante e o que comeram foi isso tudo? Sério?”. Então, criou-se outro câncer: o lugar com “experiência” e “instagramável”. É um vírus: ser instagramável gera mais postagens no Instagram o que fará se alastrar e o jovem vai lá pra tirar foto, não pra consumir nada, que pode ser uma merda, mas não importa. É instagramável.

Nunca o conceito de atuar como um vírus foi tão ligado com o termo “viralizar”.

E quem irá, segundo os moldes do Novo Twitter, dirá que é mais relevante? Quantas interações tiver com perfis verificados. E se sua postagem tiver alta quantidade de likes e compartilhamentos, mas perfis verificados começarem a denunciar, sua relevância irá despencar. Quem fazia isso, mesmo? O Twitter pré-Musk, em que grupelhos promoviam linchamento virtual e quem tinha contato dentro do Twitter para denunciar ou deixar relevante conseguia alavancamento artificial, ou destruição do perfil, até mesmo banimento. Eu mesmo perdi 2 contas, só voltando depois.

As coisas giraram, giraram, e voltaram a mesma no início da Internet. A ideia é transformar cada vez mais os perfis em verificados, pois, brincar de liberdade de expressão pagando 443 bilhões por isso é fácil. Fica ótimo na mídia e nas postagens, mas sabemos muito bem que não é assim que a banda toca e ninguém dá 44 bilhões só para eu xingar desafetos.

E se vocês acham que ele vai atrás de bots que pagaram pelos selos viagras, você é mais burro que eu pensei. Ele sabe muito bem qual bot será aceito e qual não será.

Bem-vindos à Internet de 2007.

3 comentários em “Twitter: a Internet de 2007

  1. Como de costume, André mostrando todo o apreço e admiração pelos outrora e autoproclamados blogueiros profissionais.

    Faltou dizer que parte deles ganham dinheiro na Internet ensinando como ganhar dinheiro na Internet e outra parte virou mendigo mesmo.

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