Analisando séries e filmes de super-heróis XIII

Batman vs Superman e a Martha Ex-Machina

Ficou a convenção que Batman x Superman: A Origem da Justiça é um filme ruim. Novamente, o problema é mais complexo do que simplesmente “o filme é ruim”. Um dos pontos foi o ABEÇURDO o “Save Martha”. Como assim, aquilo foi posto ali? Como assim o Bátema congelou? Antes, porém, vamos falar da cagada que a Warner fez.

Conforme eu disse antes, a DC tem alguns sérios problemas: os executivos são idiotas, e ninguém quer filme de super-heróis. Se quisessem, a Disvel faria filme de super-heróis, e ela não faz. Warner fica com mania de escutar quem não é o cliente dela (AKA fãs de verdade, os que acompanham os personagens lendo os quadrinhos). Ela escuta gente que reclama de tudo e fica se metendo nas produções e projetos. Essa gente que reclama não é cliente, não consome nada, não compra uma caneca sequer. Mas executivos querem dinheiro (o que não tem nada de errado) e ficam se metendo nas áreas criativas (o que é cagada na certa).

Uma das ideias era levar o Batman a combater o crime, sendo o que ele sempre foi de melhor nos quadrinhos: o Maior Detetive do Mundo, e foi cogitado duas histórias: Batman: O Longo Dia das Bruxas ou Batman: A Corte Das Corujas. Duas histórias excelentes (recomendo a leitura). Mas aí algum idiota achou que tinha que ter DCEU (viram os links acima?), pois se um fez, dane-se, kiba lá! Entretanto, uma história solo seria ótima por vários motivos. Uma para apresentar a versão Snyder do Batman (sim, pois é. Tem que ser o Snyder, espero que isso mude com a Jenkins, Wan e o Gunn). Até aí, beleza. Seria ótimo. Ainda mais que se as melhores histórias do Super-Homem não é exatamente ele usando seus super-poderes e sim como sendo um farol de esperança, o melhor do Batman é ele agindo como detetive, investigando, analisando, deduzindo, descobrindo e desbaratando quadrilhas, usando o intelecto ao invés dos punhos, como era praticamente o Batman do Nolan.

Na San Diego Comic-Com, em 2013, fizeram um anúncio:

Sim, o pessoal vibrou (eu também). A magnífica história de Frank Miller: The Dark Knight seria traduzida para o cinema. Como não vibrar com isso? Mas deu ruim. Havia alguns problemas: os de verdade e aqueles dos quais reclamaram.

O filme que foi para o cinema teve um problemão e o problemão foram os executivos (mais uma vez) achando que um filme com 3 horas seria muito pessimamente recebido (seria, mas já digo o motivo, e não é por causa do tempo). Daí, mandaram meter o machado e cortar partes do filme. O problema é que o filme era coeso a ponto de o que foi cortado fez falta, o plano de Lex Luthor ficou capenga, sem explicação. Simplesmente, não fazia sentido. O filme longo geraria uma reclamação do pessoal de qualquer forma, mas pelo menos não haveria muito o que reclamar, pois entenderiam (cof cof cof) melhor o filme.

Outro problema: queriam junto a Morte de Superman (uma excelente história, também e que marcou profundamente os quadrinhos).

Queriam um monte de coisas. Fizeram um salseiro com o roteiro. O filme acaba sendo confuso, milhões de coisas acontecendo, Mulher Maravilha surgindo, Lex sendo Lex, Batman puto da vida. Jimmy Olsen sendo agente da CIA infiltrado como fotógrafo acompanhando Lois Lane (mas hein???). Ah, e sonho do Bruce no mundo devastado pelo imenso ômega, o ômega de Darkseid (que não é mencionado) e um Super-Homem puto como o de Injustice: Gods Among Us, para ser acordado pelo Flash viajando no tempo, em que ele acorda, o arquivo encriptado que ele pegou do Luto estava pronto pra ser lido, daí ele vê quem tem outros meta-humanos e… cara, quanta coisa! Era possível ter separado isso em vários filmes, mas cadê?

A premissa do filme é boa, mas reclamaram que o Batman… não mata. Batman sombrio, Batman… Bem, primeiro de tudo, vamos esclarecer: sim, Batman mata. Mata sim. Matou várias vezes. Vou citar só 3:

1) Ele enforca um paciente com problemas mentais, transformado em zumbi assassino por causa de uma droga administrada (Batman #1)

2) Em Detective Comics # 30 (Detective Comics ficou conhecida pela sua sigla: DC) um bandido tenta meter um tiro no Batman, mas falha. Quando o meliante se dá conta, Batman vem de cima e dá um pisão de cima pra baixo, quebrando o pescoço do cara.

3) Em Batman #420, o Morcegoso enfrenta o KGBesta (a tradução de KGBeast ficou mais hilária do que realmente um agente soviético fodão). Batman decide não lutar até o fim com o KGBesta, preferindo trancá-lo num armazém abandonado.

Não, o Batman efetivamente não o matou. O KGOtário, digo, KGBesta morreu de fome, mesmo. Mas aí, depois, resolveram mudar este final. Já vamos voltar. Fiquem sintonizados. O interessante do argumento “eu não matei, só deixei ele se ferrar sozinho” é que foi usado pelo Nolan em Batman Begins, em que ele diz para Ra’s al Ghul: “eu não vou matar você, mas eu não tenho que lhe salvar”

Por que o Batman mudou? Por causa do chamado Comics Code Authority, também chamado de “Código dos Quadrinhos”. Este código (não-oficial, pois não foi por força de lei) foi criado por causa de um imbecil de um psiquiatra chamado Fredric Wertham que escreveu o livro A Sedução do Inocente, em 1954. Para simplificar, sabe essas histórias que vídeo games fazem crianças virarem maníacas psicopatas? Pois é, Wertham disse a mesma coisa na época, mas com relação a quadrinhos.

Pessoal reclamar “ain, mas o Batman não mata” provou que não viram nem o Batman do Tim Burton, em que ele é um verdadeiro psicopata (o Batman, não o Tim Burton), matando todo mundo. Batman, o Retorno continua com o festival de mortes, e ninguém reclamou na época. Os reclamões só nasceriam 10 anos depois. Eles jamais veriam o Batman com arma na mão sentando o dedo nos bandidos:

Então, chegamos naquela parte chata de VER o filme. Bruce diz que ele está naquela vida de vigilante há 20 anos. Ele está velho, cansado e com pouca paciência. Robin foi morto pelo Coringa, conforme o uniforme exposto como um triste troféu, uma memorabilia do desespero por ter um dos seus soldados caído.

Mas se vocês repararem bem, o bastão tem uma lâmina na ponta, e a arma de Jason Todd não tinha. Seria Tim Drake o Robin caído? Não dá para saber. O que se sabe do filme é como o Batman está bem como na Graphic Novel do Miller: velho, cansado e desesperançoso. Isso foi aproveitado pelo plano de Lex Luthor: levar o Batman até às últimas; e, em contrapartida, mandando mensagens para Clark (que Luthor já sabe ser o Super-Homem), de forma com que este o pare, e o Batman pare o Super, de preferência ambos se matando e não sobrando ninguém. As informações são desencontradas. O Batman é um vigilante que precisa ser parado. Em outro ponto, o Super-Homem causou centenas de mortes em sua luta com Zod em Metrópolis, que é onde começa o filme, com Bruce tentando ajudar pessoas. Aliás, a uma poesia nas cenas do Homem de Aço e Batman x Superman quando sobrepostas:

O Super-Homem se toca que é tudo uma manipulação e na hora de confrontar Lex Luthor, vê que sua mãe está em poder dele e ele precisa enfrentar o Batman. O tempo está correndo, e o Batman está farto do alienígena causando mortes (na visão dele), e Luthor querendo se livrar do maior herói, aquele que lhe roubou o protagonismo. Diferente do Luthor de Superman I e II e Superman Returns, este Luthor não é apenas um sujeito querendo dar um golpe imobiliário. É alguém já rico e poderoso, querendo acabar com quem possa entrar no seu caminho. Mas eu não escolheria aquele ator. Ficou… jovem demais; mas a forma como ele dialoga com a senadora, mostra a perversidade da mente doentia, psicótica, assassina, mas não menos brilhante.

O Super-Homem não quer enfrentar o Batman, mas nem mesmo ele tem tanta paciência, ainda mais com sua mãe em perigo, e entra aí o sentido mais primordial: proteger a nós mesmos e nossos parentes, anda que adotivos. Super-Homem sabe que tem que lutar e… perde. Não, a frase do Batman do Miller não é dita, pois ela não encaixaria ali. Bruce e Clark neste filme nunca foram amigos; mas aí entra o que muitos reclamaram: o que eu chamei de Martha Ex-Machina, a frase que congelou o Batman e ele solta “Por que você disse este nome?” quando o Super fala para ele salvar a Martha.

O problema desta cena é, como sempre, as pessoas não lerem quadrinhos. Isso a Disney acertou ao não fazer filmes de super-heróis: as pessoas não leem, não se identificam, não sabem da história. Usa o expediente seguro de usar fórmulas simplistas (para mentes simplistas), dando apenas uma roupagem, mas se trocar os personagens por outros, nada da história será mudada.

O problema é que ninguém tinha se tocado (ou sequer sabiam) até então que as duas tinham o mesmo nome! Foi extremamente surpreendente, um ponto de virada, de guinada de 180º Ninguém esperava isso. E as pessoas estavam acostumadas com o conforto. O tipo de conforto que os trailers do Homem-Aranha: De Volta ao Lar contaram TODO o filme. Eu mesmo, depois de ver aqueles trailers, falei no twitter como seria o filme. E acertei em tudo. É como você ver um filme de terror e ao revê-lo, você já sabe onde sentir medo, e o que esperar. É ver um filme de comédia e já saber onde rir. Disney criou a claque cinematográfica, levando todo mundo pela mãozinha, uma receita simples, mas que funciona, porque não precisa refletir muito sobre o filme. Por isso, quando eu pergunto “sobre o que é o filme?”, não respondem. Não sabem. E mesmo os da Disvel, não sabem responder que o filme do Homem-Formiga, por exemplo, é apenas um filme de assalto. Como eu costumo dizer: se funciona, funciona.

No caso da Martha Ex-Machina, pode parecer um recurso rocambolesco, mas eu já vi coisa pior, muito pior, como no arco A Queda do Morcego, em que o Bane aleija o Morcegão, ele depois volta a andar porque a médica dele tinha… poderes. Mandaram um “é isso aê. Aceita e cala a boca” e ficou por isso mesmo. Mas por que isso? A versão curta: o Batman é louco. Bruce Wayne morreu junto com os pais. Ele nunca se recuperou. Ali ficou uma casca vazia, e foi preenchido com o ódio ao crime. Só sobrou o sentimento de vingança e a busca por Justiça. Só existe o Batman, o Bruce é apenas a sua máscara. A verdadeira face é o monstro sob a forma de morcego que aterroriza criminosos. Mas ele tem um ponto fraco. Seus inimigos mais espertos sabem disso. Até seus amigos quando querem detê-lo sabem disso. Seu ponto fraco são seus pais, como mostrado em Superman/Batman #56:

No arco da Liga da Justiça Torre de Babel, Ra’s al Ghul consegue invadir o computador da Batcaverna e vê os planos de contingência que o Batman criou para cada membro da Liga. Para o Batman, Ra’s al Ghul arrumou um outro contingenciamento: mergulhar os restos mortais de seus pais no Poço de Lázaro, de forma a ressuscitá-los. A face do Batman diz tudo.

Sabendo disso, não é de se admirar que Bruce ficou congelado quando o Super falou para ele salvar Martha (a mãe adotiva do Clark) e o Batman estanca porque o “Martha” que ele ouviu era sua mãe. O problema dessa cena é que foi escrita para quem lê quadrinhos, não para o “fã” de filme de super-herói que nunca abriu um HQ na vida. Os executivos ainda pioraram a situação. Meteram o Apocalipse, que foi feito com o corpo do Zod e o DNA do Luthor, e é aqui que desanda.

Até este momento do filme, Diana fica zanzando pra lá e pra cá, dá um balão no Bruce, o encontra de novo e só isso. Já se sabia que ela era a Mulher Maravilha, poderia ter sido um ponto de virada, também, mas a cena com os meta-humanos sendo descobertos em câmeras de segurança já tinha dito quem ela era. Ela aparece para combater o monstro, que acaba sendo derrotado com muito custo com a lançona com ponta de kryptonita, mas com o custo da vida de Kal-El. A cena de Lex sendo preso poderia ser com o Batman e o Super indo atrás dele. Sei lá, Lex iria usar robôs gigantes, drones ou qualquer outra coisa. O final ele seria preso e a cena do Batman indo vê-lo, para em outra cena ele conseguir ter escapado. A cena extra podia ser ainda Luthor recebendo Deathstroke e a ideia de formação da Legião do Mal, enquanto ele olha o corpo de Zod. Mesmo quem leu o HQ, não ia associar com o Apocalipse (segundo o HQ, o Apocalipse é um ser feito por alienígenas e caiu aqui na Terra. Aí sim, poderia ter o arco da Morte do Super-Homem, com Diana aparecendo, ainda mais que ela teria o filme solo. No filme a seguir, o Retorno do Super-Homem, como um Man of Steel 2, inserindo o Laboratório Cadmus.

Mas aí você talvez esteja me perguntando o que é isso tudo. São arcos dentro das histórias em quadrinhos, desconhecidos de muita gente. Assim que vai, aos poucos, construindo um DCEU, e mesmo que algo não dê certo, não precisava culminar em Steppenwolf. Os filmes solo se mantiveram muito bem. Jenkins fez uma bela Mulher Maravilha, apesar da Gal Gadot ser uma péssima atriz; mas ela tem um diferencial que acaba sendo importante: ela abraça a personagem. Gal se torna “A” Mulher Maravilha, transmitindo amor e empatia a todo, e isso faz diferença. O filme do Aquaman, foi algo curioso, pois o diretor foi o Wan, especializado em filmes de terror como a franquia Invocação do Mal. Foi uma grata surpresa seu filme, com super-herói sendo super-heroi, colorido, com ação, um vilão vilanesco malvado ruim pérfido e cruel mas com motivação (na verdade, dois vilões, com duas motivações). Lamento, mas a verdade é que só aquele filme ensinou à Disney como fazer filmes de super-heróis, mas ela não está ligando se consegue altos faturamentos, e ela está muito certa.

Claro, se você é da turma que acha que Batman x Super-Homem um filme péssimo, você tem todo o direito e com certeza vai ignorar tudo o que eu falei sobre ele não ser tão horrível assim. Não importa. A verdade é essa e você continuará sem saber me dizer como o filme é ruim e, claro, vai apenas citar o “Save Martha”.

10 comentários em “Analisando séries e filmes de super-heróis XIII

  1. O único personagem que eu detestei nesse filme foi o Lex Luthor, que nem é O Lex Luthor, é o Lex Luthor jr, como ele mesmo diz.
    Pessoal se ligou demais no “Martha” e não prestou atenção que rinha coisa pior.
    Pelo menos as piadas ficaram boas

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  2. Eu realmente nunca dei bola pra DC – e pra ser sincera, nem pra Marvel, mas com oitocentos filmes por ano fica difícil não assistir em algum momento. Eu curti Esquadrão Suicida, por exemplo, mas talvez por não saber a história do grupo. Ou porque é engraçado. Pick one. O Batman do Nolan eu acho legal (mas não sei a história do Ra’s al Ghul, então o filme 3 pra mim é meio perdido). Não assisti Batman vs. Superman por pura preguiça, e nem nada relacionado com Liga da Justiça. Mas eu vi uma animação que eu ACHO que é o Dark Knight (tem uma menininha insistindo com o Batman pra ser ajudante dele). E lá ele mata o Coringa se eu não me engano.
    Enfim, eu sou o tipo de espectadora que assiste e fala “interessante esse filme” ou “nossa que bosta”, mas eu só vi uma mídia, não conheço as outras. Esse lance do Save Martha me pareceu meio idiota justamente porque eu não conheço os quadrinhos, mas é uma puta preguiça de pensar de gente que se orgulha de ter acompanhado a DC desde que o mundo é mundo.

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  3. Quando eu assisti esse filme, algo que me incomodou foi o roteiro muito cheio, que me lembre parecia dois filmes comprimidos em um, porém nunca vi a versão estendida desse filme, muito provavelmente os corte feitos deram essa sensação, tá aí, vou ver a versão estendida para conferir.

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  4. Mas aqueles filmes do Batman mais antigos nunca citaram a mãe do Batman como Martha? Ou será que a reclamação foi mais dos mais jovens?

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