Um corante do passado ajudando na ciência do presente

Esta aqui do lado é Nefertiti. Ela foi a esposa real (nos dois sentidos) de Akhenaton, rei da 18ª Dinastia. Foi uma das dinastias mais ricas, prósperas e poderosas do Egito. Depois que Akhenaton morreu, o trono deveria ir para o filho Tutancâmon. Só que o moleque ainda era pequeno e Nefertiti assumiu o como Neferneferuaten, chegando a usar barbas postiças (no Egito, mulheres não poderiam governar como rainhas, só homens, mas Nefertiti mandou todo mundo reclamar com Aton, o deus que Akhenaton estabeleceu como deus único.

Este busto de Nefertiti mostra o esplendor e gloria do Egito, ainda mais pelo chamado “pigmento azul egípcio”, caríssimo de se obter, sendo por isso, símbolo de realeza. Hoje, pesquisadores olham para este pigmento e pensam “o que de legal podemos extrair disso?”

O dr. Sebastian Kruss, do Instituto de Físico-Química Universidade de Göttingen, pesquisa um novo nanomaterial baseado no pigmento azul egípcio. A ideia é que este nanomaterial seja usado em aplicações em imagens usando espectroscopia e microscopia de infravermelho próximo.

A microscopia e o imageamento óptico são ferramentas importantes na pesquisa básica e na biomedicina. Eles usam substâncias que podem liberar luz quando excitadas, chamadas “fluoróforos”. Estas substâncias são usadas para marcar estruturas muito pequenas nas amostras, permitindo uma resolução clara usando microscópios modernos.

Pense numa aula de microscopia básica. Examina-se pele de cebola, com uma gota de solução de azul de metileno para destacar o núcleo e assim conseguirmos enxergar melhor num microscópio com aumento de 50 vezes. Pense nesta mesma técnica mas ao invés de enxergar uma célula, você esteja investigando em escala nanomértrica, bem, mas bem menor que uma simples célula.

A maioria dos fluoróforos brilha na faixa de luz visível para os seres humanos. Ao usar a luz no espectro infravermelho próximo, com um comprimento de onda começando em 800 nanômetros, a luz penetra ainda mais profundamente nos tecidos e há menos distorções na imagem. Até agora, no entanto, existem apenas alguns fluoróforos conhecidos que funcionam no espectro infravermelho próximo.

A equipe de Kruss conseguiu fatiar, digamos assim, camadas extremamente finas de grãos de silicato de cobre e cálcio, também conhecido como azul egípcio. Essas nanopartículas são 100.000 vezes mais finas que os cabelos humanos e ficam fluorescentes na faixa do infravermelho próximo.

Fluorescência é o fenômeno quando você incide luz e a substância absorve energia e devolve também sob a forma de luz. É o que acontece com caneta marca-texto quando você ilumina algo escrito com ela com luz negra.

Kruss e seu pessoal testaram com microscopia em animais e plantas. Eles seguiram o movimento de nanopartículas individuais para visualizar processos mecânicos e a estrutura do tecido ao redor dos núcleos celulares na mosca da fruta. Além disso, eles integraram as nanopartículas nas plantas e conseguiram identificá-las mesmo sem um microscópio, o que promete futuras aplicações na indústria agrícola.

Claro, os antigos egípcios jamais imaginariam que aquele corante que só reis poderiam pagar, dado o custo extremamente elevado seria usado para microscopia e agricultura. Ainda assim, é ótimo estudar substâncias do passado para encontrar usos atuais

A pesquisa foi publicada no periódico Nature Communications e está disponível completinha para leitura

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