Quem já se machucou, tendo que colocar bandagem ou apenas um esparadrapo com algodão sabe o que é o terror na hora de tirar o curativo, encharcando tudo de soro fisiológico ou rezando para alguma enfermeira sádica, com pagamento atrasado, indo remover de uma vez, jurando de pés juntos que de uma vez não dói. Isso é verdade até a hora do WRAAAAAAAAAAP e você é capaz de ver Jesus dançando rumba com Satanás de tanta dor que está sentindo.
Depois de ter choramingado, e ainda sentindo dores do arranque do curativo, você clama para os Céus para que alguém arrume uma maneira da droga do curativo não ficar grudado no seu ferimento. A quem rezar? Claro, se você tem um problema, se ninguém mais puder ajuda-lo e se conseguir encontra-lo, você poderá contratar um engenheiro.
O dr. Dimos Poulikakos é engenheiro, e isso significa que, para ele, se algo não puder ser melhorado, é porque está com perda total e tem que ser refeito. Ele é diretor do centro de Ciência Energética, tendo fundado o Laboratório de Termodinâmica e Tecnologias Emergentes do Departamento de Engenharia Mecânica e de Processos do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça. Não, os guardas lá não usam aquela roupitcha desenhada por Miquelângelo.
Indo direto ao assunto, o que a equipe de Poulikakos fez, em colaboração com a Universidade Nacional de Cingapura, que é uma universidade que fica em Cingapura, fez foi desenvolver um curativo que ajuda o sangue a coagular e não gruda na ferida. Obrigado, engenheiros.
Não, eles não seguiram a máxima da engenharia: Se tem que se mexer e não se mexe, WD-40. Se não tem que se mexer e se mexe, silvertape! No caso, eles testaram várias combinações de substâncias, até chegarem em uma bandagem que nada mais é que algodão revestido com nanofibras de silício e de carbono. Achou que ia se livrar das nanofibras de carbono? Achou errado, otário!
Como toda pesquisa envolvendo nanofibras de carbono, tá tudo funcionando maravilhosamente bem no laboratório, ajudando ratinhos feridos. Os resultados apontaram que o sangue em contato com a gaze revestida coagulava em apenas alguns minutos, tendo esta coagulação sido acelerada pela nova bandagem.
Claro, você vai querer saber o motivo. Bem, a resposta honesta é que não sabem bem. Ciência não é como nos filmes que descobrem tudo faltando 15 minutos para acabar o filme. O que se sabe é que o algodão tratado repelia o sangue, fazendo com que este se coagulasse sem ficar preso nas fibras.
Se você ainda não entendeu como a bagaça funciona, vamos simplificar. Se você coloca algodão na água (se for hidrófilo, como quase todos os algodões vendidos nas farmácias), o algodão “chupa” a água. Ele também “chupa” o sangue. É o efeito da capilaridade. Depois que ele absorve o sangue e o sangue coagula, fica tudo uma maçaroca só. Quando você vai tentar remover o curativo, a “casquinha” (ou cascona) de sangue coagulado oferece resistência, e como ela está grudada na sua pele e no algodão, a remoção dói feito o diabo, podendo reabrir a ferida.
Com o algodão revestido, isso não acontece pois ele “não chupou” o sangue (veja as imagens acima). Além disso, ele ajudou a formar a casquinha mais rapidamente, mas sem absorver nada. Ao remover o curativo, a casquinha (ou cascona) fica lá de boa, ficando a critério do médico remover ou não.
Mas calma. Tem mais!
O algodão revestido não só repele o sangue e ajuda no processo de coagulação. Ele também possui efeito antibacteriano, pois as bactérias têm dificuldade em aderir à sua superfície e acabam indo pro Céu dos Protistas. Descanse em Paz, bactéria maldita! Assim, nada de ter alguma bactéria zanzando pelo local da ferida.
Os pesquisadores ainda não terminaram o trabalho, já que precisam refinar e otimizar o material e partir para testes em animais superiores e seres humanos antes que essa nova bandagem tenha permissão para ser comercializada. Obviamente, isso não impede que você leia a pesquisa publicada no periódico Nature Communications. Sim, está com acesso aberto.