É uma droga quando se quebra um osso, por menor que seja. Pior ainda quando é num dos grandes ossos que têm que suportar carga, como os da perna. A cicatrização pode ser um processo longo e desconfortável. Só tem uma espécie de maluco que quer usar gesso numa perna ou braço: o irmãozinho de quem realmente precisa de usar gesso na perna ou braço. Aquilo é uma bela porcaria e… Ei, tem alguém aí de gesso lendo este teto? Pois é, né? Imagine quando eu disser que gesso, tcharããããã, COÇA! COÇA MUITO!
De nada.
Muitas vezes o gesso não é suficiente; daí, o paciente vai para uma ci8rurgia, onde é colocado lindas pecinhas de metal para sustentar o osso ao se fundir e se curar. O problema disso? Já falei aqui. Será que a Ciência pode fazer algo para resolver isso?
A drª Mei Wei é professora do Departamento de Ciência dos Materiais e Engenharia da Universidade de Connecticutt. Sempre gostei deste nome “Connecticut”. Parece que está se conectando a algo, apesar da pronúncia ser “conericuri”, sem abrir a boca.
Os pesquisadores da Wei Laboratory (sim, tinha Wei tem seu próprio laboratório lá. Coisa fina!) criaram um composto biodegradável feito de fibras de seda que pode ser usado para reparar ossos quebrados sem as complicações às vezes apresentadas por outros materiais. Nosso corpo é um lugar extremamente corrosivo para muitos materiais, como pinos de metal.
Tia Mei (não, o sobrinho dela não anda pelas paredes ao que eu saiba) ficou pensando que material seria ótimo para usar na fabricação de um suporte para os ossos maiores. Daí ela pensou como teias de aranha são extremamente resistentes, capazes de possuir tensão maior que a do aço. Mas para que se preocupar com a seda, se o bom mesmo é uma coisa chamada “fibroina”?
A fibroína é a proteína principal que forma o longo fio de seda das teias secretada pela aranha e o bicho-da-seda. É produzida até por algumas mariposas, também, na hora de confeccionar o seu casulo para a sua metamorfose. Aliás, uso de fibroína no estudo de ciência dos materiais nem é tanta novidade assim. Pesquisadores da Unicamp estudam fibroína para ser usada na proteção de válvulas cardíacas da calcificação desde 2009.
A drª Wei começou a testar a fibroína de seda em várias formas compostas, procurando a combinação certa e a proporção de diferentes materiais para obter força e flexibilidade ideais. O novo compósito certamente precisava ser forte e rígido, mas não tanto que inibisse o crescimento ósseo. Ao mesmo tempo, o composto precisava ser flexível, permitindo que os pacientes mantivessem sua amplitude natural de movimento e mobilidade enquanto o osso se curava.
A solução chegou quando montaram um polímero compósito à base de fibroína e fibras de ácido polilático, que é um termoplástico biodegradável derivado de amido de milho e cana. Termoplásticos são uma classe de plásticos que podem ser moldados com o calor, isto é, ele fica “mole” quando o esquentam, podendo ser colocado em fôrmas, e ao ser deixado esfriar, volta a ser rígido novamente.
Esta mistureba de polímeros é revestida com partículas biocerâmicas finas de hidroxiapatita (basicamente, o mesmo fosfato de cálcio encontrado nos dentes e ossos), e então embaladas em camadas em uma pequena estrutura de aço e pressionadas formando uma barra composta densa em um molde de compressão a quente.
Os resultados parecem muito promissores em termos de força e flexibilidade, podendo muito bem substituir os atuais pinos de titânio. Mas, espere! Não é apenas isso. O compósito começa degradar depois de um ano, sendo absorvido pelo corpo e nenhuma cirurgia de extração é necessária.
A pesquisa foi publicada no periódico Journal of the Mechanical Behavior of Biomedical Materials