Cientistas pesquisam ecolocalização em humanos

Em tempos de série do Demolidor, você assiste, se diverte e diz "meh, isso porque é herói de quadrinhos". Bem, é mais ou menos isso mesmo, mas tem fundamentos. Há pessoas que não só conseguem ouvir frequências mais altas, como usam ecolocalização.

Assim, você bem pode ter o poder de um morcego ou golfinho. A questão era saber como isso funcionava. É o que pesquisadores da Inglaterra procuram responder. Mas antes, claro, é preciso entender como nós ouvimos

Nós escutamos porque som é perturbação de um meio material. Sem meio material, nada de som. Por isso o som não se propaga no Espaço, já que a matéria está tão finamente espalhada (na verdade, não é um vácuo absoluto, pois vácuo absoluto não existe). Esta vibração se propaga diretamente proporcional à densidade do meio, o que fará com que varie mediante a natureza desse material. Enquanto a velocidade do som no ar é de 340 m/s, no alumínio é de 6320 m/s.

Enquanto o som vibra o meio, essa vibração é captada pelas zoreia (ok: orelhas. Tá feliz?) e faz vibrar o tímpano. Este faz vibrar os minúsculos ossinho martelo, bigorna e estribo, o que faz vibrar o ouvido interno, que sacoleja o líquido que está dentro da cóclea, onde células ciliadas sentem esse fluxo de líquido e transmitem a informação para o cérebro.

Nossa audição "normal" está compreendida nas frequências entre 250 a 8000Hz, e nossa fala se concentra entre as frequências 500 e 6000Hz. Claro, isso não significa que não haja quem escute frequências superiores a essas. Essas frequências ultra altas ficam entre acima de 9000Hz e 20.000Hz e muitas pessoas conseguem ouvi-las, principalmente as mais jovens.

Com o avanço da idade, nossas células ciliadas vão morrendo e, aos poucos, vamos perdendo a audição. No caso das frequências ultra altas, como não entram no nosso padrão de fala ou de música, não percebemos quando temos perda nelas. Com o tempo, as pessoas vão ficando surdas por bandas de frequências. Ela não perde desde um extremo até o outro. A Natureza não é ordenadinha assim. Essa perda, muitas vezes, é acompanhada de distorção do som. A pessoa ouve o som, mas não sabe dizer do que se trata, e como não é algo instantâneo, pois um monte de células não morrem assim do nada, as pessoas não têm consciência que estão ficando surdas.

(estas informações foram delicadamente passadas pela senhora dona mestra Bruna, que ficou respondendo às minhas perguntas, uma atrás da outra, sem nem saber direito o motivo. Valeu, Bru!)

Nos conseguimos encontrar a fonte sonora por causa da diferença de intensidade e tempo entre um ouvido e outro, situados no chamado "eixo interaural". E é graças a isso que pessoas conseguem o magnífico feito da ecolocalização.

Ecolocalização é a capacidade de se orientar por lugares se aproveitando do eco. Quando o som bate em algum meio material, ele pode ser absorvido ou refletido. Essa reflexão é chamada de eco e é utilizada por muitos animais, como golfinhos, baleias e morcegos. Mas não é exclusividade deles. Nos, seres humanos, também podemos usar ecolocalização, e não. Não é só o Demolidor que consegue fazer isso. Obviamente, quadrinhos são exagerados, mas Daniel Kish, presidente da World Access for the Blind ensina às pessoas como, sim, é possível usar ecolocalização para "ver", mesmo sem ver.

O dr. Daniel Rowan é pesquisador de Audiologia da Universidade de Southampton. Sabendo da perda auditiva das pessoas, Ronan, o Acusador, digo, Rowan, o Pesquisador estuda como a perda auditiva afeta os que usam ecolocalização.

Esta ecolocalização, para acontecer, é preciso que a pessoa seja capaz de ouvir em altas frequências, mas isso já se sabe. O que não se sabia até agora era da importância da capacidade de escutar em altas frequências.

O dr. Rowan Atickinson estalou o chicote e colocou os estagiários para trabalhar e, assim, conduziram uma série de experimentos com pessoas cegas e com visão. Às cobaias foi perguntado se um objeto (uma placa de MDF plana) foi para a esquerda ou para a direita deles, realizado numa câmara anecoica. Câmara anecoica é uma sala projetada para ser à prova de sons externos e capaz de conter reflexões de som dentro dela. Pode ser tanto usada para experimentos com sons, como de ondas eletromagnéticas, sendo usadas para testar celulares, por exemplo, ou captadores de som.

Como essas salas não refletem o som, isto é, você pode ficar gritando lá dentro que nem um maluco, que ninguém lhe escutará do lado de fora e do lado de dentro não haverá nenhum eco. Assim, a ecolocalização das pessoas no teste será feito unicamente pelo som refletido na placa de MDF.

O que você está vendo, por mais bizarro que pareça, é uma fonte de som.Esse som bate na placa e é ele que as cobaias terão que localizar usando as zoreia. Os sons foram manipulados de diversas maneiras, simulando perda de audição de alta frequência audição e surdez em um lado, bem como para verificar cuidadosamente se as pessoas não estavam encontrando modos um tanto quanto matreiro de usar os ecos com um ouvido. As pessoas podiam localizar o objeto com precisão, mas apenas se eles tinham uma boa audição de alta frequência e em ambas as orelhas.

O artigo foi publicado no periódico Hearing Research, e até o fim do ano, um aplicativo para celular será lançado, de forma que nós brinquemos de cientista em casa também. Mal posso esperar!

3 comentários em “Cientistas pesquisam ecolocalização em humanos

  1. Eu nunca entendi como a gente sabe se a fonte de som está em frente ou atrás da gente. Se for apenas pela diferença de tempo entre os ouvidos não daria certo, porque uma fonte exatamente a frente e outra exatamente atrás, por exemplo, produziriam a mesma diferença. Então como o cérebro distingue isso?

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    1. Isso seria verdade se as orelhas não existissem. Como elas existem, sons vindos pela frente e por trás causam percepções diferentes no ouvido interno.

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