Pesquisadores criados pela avó acham desenhos da Disney muito violentos

Agora o mundo foi dominado pelos coxinhas politicamente corretos. Um pessoal que acha que devemos proteger nossas criancinhas de tudo. Temos que colocá-las numa redoma de vidro, com litros e mais litros de merthiolate que não arde em estoque. E isso não é de agora. O Roberto Jefferson, quando era advogado-de-porta-de-cadeia e dava consulta no programa "O Povo na TV" (um precursor do Programa do Ratinho), fazia campanha contra o Pica-Pau, pois era um desenho violentíssimo.

Agora, pesquisadores criados à base de leite com pêra e ovomaltine estão indignados e dizem que nossas crianças estão pirando, pois desenhos da Disney trazem muita violência. Os caras chegam a comparar Bambi com Pulp Fiction!

O dr. James Kirkibride é um pesquisador muito gentil, delicado, que tem um cãozinho chamado Totó e usa vestidinho azulzinho, enquanto vai trabalhar na Universidade College de Londres, saltitando por uma estrada de tijolos amarelos.

De acordo com ele e coleguinhas de trabalho, provavelmente uma menininha loirinha que conversa com coelhos falantes que nunca chegam na hora aprazada, os desenhos atualmente (ou não tão atualmente assim) expõem crianças a índices de violência absurdos. O cara chegou mesmo a dizer que só porque a mãe de Bambi morre (e isso fica implícito, pois não mostra a cena em que ela é baleada e vira almoço de domingo), ele é considerado mais violento que Pulp Fiction. Sim, claro. Vamos ver como Pulp Fiction não tem cena de violência:

Ou os distintos pesquisadores não viram Bambi, ou não viram Pulp Fiction ou, mais provável, não viram nenhum dos dois; no máximo viram merthiolate que não arde. Alegar que filmes infantis estão repletos de "assassinatos e caos" (definir caos seria legal, mas, claro, eles não entraram nesse mérito) é algo estúpido. Violência é algo corrente em nossa sociedade, desde bem antes existir nossa sociedade. Essa reclamação parece coisa de tia velha que ficava enchendo o saco que as crianças passavam muito tempo na frente da TV.

Vamos examinar alguns casos interessantes de histórias de séculos de idade, ok?

1) Uma menina é mandada entregar umas coisas pra sua avó, mas sem sair do caminho previamente orientado., Ela sai, o lobo fidasunhas vai na frente, come a vovó, dá a carne da AVÓ pra menina comer, que se deita com o lobão (o canídeo, não o cantor) e depois vira jantar dele.

2) Uma menina acaba órfã de mãe, o pai se casa com outra dona e acaba morrendo também. A menina é tratada feito empregada e vai escondido na festa do príncipe e perde um sapato. O príncipe, que devia estar doidão no dia, não se lembra da garota. As meia-irmãs da garota cortam metade do calcanhar para que os pézões caibam no sapatinho.

3) Uma princesa fica órfã (não, não é coincidência) de mãe. Pai casa com outra coroa. Depois o pai morre. A madrasta cisma que a garota é bonita e resolve assassiná-la. A garota morre e não tem essa de caixão de cristal e príncipe chegando na maior pro beijo mágico.

4) Princesinha vira algo de maldição. Espeta o dedão e todo mundo cai dormindo. Chega um Zé Ruela, vê que a garota é gostosa e transa com ela. Todo dia. Até que, mesmo dormindo, ela engravida.

As histórias acima são clássicos da Literatura, com séculos de idade, muito antes das versões lindinhas, com final feliz. Nos contos originais, todo mundo se ferra! Mas pros pesquisadores, que parecem não terem lido PICAS de coisa alguma, Procurando Nemo, Bambi e Frozen são, na verdade, cheios de morte e destruição e pode deixar os jovens traumatizados. Principalmente se o toddynho acabar.

O que a Disney fez, na verdade foi exatamente suavizar isso tudo. Para vocês terem uma ideia, o conto original de Andersen, Snedronningen (a Rainha da Neve), Elsa não era lá tão boazinha assim. Não tinha aquela de trolls bonzinhos, princesa Ana saltitante querendo fazer um bonequinho de neve e nem uma rena falante. Tinha Gherda e Kai… e um demônio que criou um espelho que mostra sempre o pior dos lados em tudo. Cacos desse espelho caem em Kai, que só vê coisa ruim. Ele acaba sendo raptado pela Rainha da Neve e Gherda vai procurá-lo. Gherda só encontra Kai anos depois, e a canção dela faz o espelho do capeta sair do coração de Kai e este passa a agir feito gente.

NOTEM em nenhum momento Kai e Gherda parecem ter pais, e isso nem é importante na história.

No final, a Rainha do Gelo, que inicialmente ficara com o moleque para ter companhia, desiste e o deixa lá para voltar pra casa. Fim, The End. Não é muito melhor que Frozen, mas também não é pior.

Então, os cientistas, pesquisaram, junto com suas avozinhas, sempre com uma bandejinha de biscoito recheado, 45 filmes infantis com 90 filmes para a faixa mais adulta (não, não levaram em conta filmes educativos). O resultado asinino é que os personagens principais em filmes infantis foram 2,5 vezes mais propensos a morrer do que seus homólogos em filmes para adultos, e quase três vezes mais chances de ser assassinado.

Muito provavelmente, eles nunca leram George R. R. Martin.

Kirkibride ficou encafifado depois que um dos seus coleguinhas viu Procurando Nemo e ficou espantado com a quantidade de morte, em um filme que ele achava que era inocente. Seu estudo descobriu que os desenhos eram mais violentos do que filmes como O Exorcismo de Emily Rose, Revelação, Pulp Fiction, Os Infiltrados e Cisne Negro.

Kirkibride é tão genial, mas tão esperto que ele não acha que é uma coincidência, achando, inclusive, que os produtores utilizam a morte como uma espécie de motor, já que muitas personagens em filmes infantis são órfãs.

Sabe por que, seu IMBECIL? Porque você nunca leu um Joseph Campbel. Não sabe o que é jornada do herói. Está acostumado com estes livrecos chinfrins com "um garoto normal que encontra um superpoder secreto do cacete a quatro", como essas porcarias de livros para aborrecentes da Barra da Tijuca, cuja vida fácil é repetida. Não há heroísmo, não há apelo, não há demanda. E não, idiota, isso não é novidade. Sabe quem escreveu muito sobre gente órfã? Tente um cara chamado Hamlet. Historinha feliz, sem nenhuma morte, né? Que tal MacBeth, casado com uma moça gentil, prendada, vivendo em pena harmonia. Não. Ignorantes como você nunca leram nada. É o Ataque das Pedagogas, que nos faz criar livros retardados, em que o Lobo Mau vira bonzinho e come cenouras. Querem construir um mundo idílico, com uma enorme redoma de vidro, em que Monteiro Lobato é decretado como fora-da-lei. Talvez a Bíblia seja um belo exemplo, em que o primeiro livro diz como houve um genocídio, em que matou-se 25% de toda a humanidade com uma pedrada.

O pesquisador frescurento recomenda ver 101 Dálmatas, a história em que uma sociopata manda matar pequenos filhotes de várias espécies para fazer roupas. Mas, HEY!, a mãe de Bambi NÃO APARECENDO ser morta é que é violento.

Esta palhaçada foi publicada no British Medical Journal, cujas inteligentíssimas conclusões foram:

  • As crianças pequenas não têm uma compreensão completa do conceito de morte
  • A morte é um tema comum em filmes norte-americanos
  • As crianças assistem muitos filmes

Preciso dizer?

4 comentários em “Pesquisadores criados pela avó acham desenhos da Disney muito violentos

  1. Ei, fui criado à base de leite com ovomaltine. Apaga, achei ofensivo!

    Voltando a agir como um ser humano normal, ultimamente tenho acompanhado meu filho assistindo TV e seus canais infantis, e é visível como o estilo das animações mudaram, tirando uma ou outra obra assistível e divertida com um humor bem inteligente e até ácido (gumball, Hora de aventura), as demais animações só podem ser classificadas como retardadas, com enredos desprovidos de sentido, um pouco diferente de minha época. Creio que essa diferença se dê por esta onda de superproteção as crianças, que segundo os “especialistas” não podem ser expostas a nada que se pareça minimamente com a realidade, fazendo com que cresçam achando que o mundo é cor de rosa.

    Curtir

  2. Os desenhos animados não tem nenhum sentido profundo. São apenas rabiscos idiotas que se movem e fazem a gente rir feito bobo.

    Sim, é o que H. Simpson disse no ep. A verdade sempre triunfa.

    Curtir

  3. Quando eu digo que muitos periódicos tornaram-se lixos e instrumentos para arrancar dinheiro dos trouxas, muitos criticam-me. Lixo atrás de lixo. Como está escrito: “A inteligência no mundo é uma constante, o problema é que a população cresce a cada dia.”
    Pena de morte (eu sei que já foram) aos Hanna-Barbera por terem criado Tom & Jerry, vida longa a Quentin Jerome Tarantino.

    Curtir

Deixar mensagem para Almeida Cancelar resposta